O leitor apaixonado

O leitor apaixonado Ruy Castro




Resenhas - O Leitor Apaixonado


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moziel 03/01/2010

Os prazeres da leitura à luz das letras de Ruy Castro
Ruy Castro é um escritor apaixonado, e suas paixões envolvem o futebol, o cinema, a música e cultura popular americana pré-anos 1960, Bossa Nova, Samba, o Rio de Janeiro e qualquer assunto que renda uma boa e leve crônica. E claro, a própria escrita, seja em um bom romance ou em algum artigo bem escrito. Com esse leque de interesses, em mais de quarenta anos de jornalismo, obviamente seu currículo acumulou material suficiente pra lotar uma pequena biblioteca.



E parte desse material, espalhado em jornais e revistas pelos quais Ruy passou ou contribuiu, vez por outra é reunido em livros. O mais recente desses é “O Leitor Apaixonado – Prazeres à Luz do Abajur”, lançado em agosto do ano passado. Como Ruy Castro é um dos únicos cuja obra eu adquiro sem hesitar, logo consegui um exemplar que furou a minha fila quilométrica de leitura sem maior cerimônia. Mas só agora me dedico a falar sobre tal livro, e a sugerir sua leitura por todos que gostam de literatura.



O tema dos artigos reunidos é a leitura e o prazer desse hábito “à luz do abajur”, e longe de serem resenhas ou análises críticas, os textos explorar a faceta mais lúdica da leitura e o lado humano dos autores. Os textos tratam predominantemente de livros e seus escritores, mas também abrangem assuntos correlatos, como as capas das revistas “Esquire” e “The New Yorker”, ilustrações “pin ups” reunidas em livros da Taschen, curiosidades lingüísticas no idioma pátrio, a relação entre a ingestão de hectolitros de álcool e o talento de escritor, detalhes biográficos dos grandes vultos das penas nacionais: Paulo Francis, Nelson Rodrigues e Carlos Heitor Cony, biografias de autores internacionais renomados, as tiradas venenosas e de alta classe da turma da mesa redonda do Algonguim, comentários irônicos sobre a mania dos best-sellers, escrito lá pelos anos 80 (e cujos títulos que cita hoje estão praticamente esquecidos), incluindo aí um artigo insuspeito sobre o nosso maior best-seller: Paulo Coelho.



Como de costume, Ruy não se retém ao óbvio, buscando em seu vasto acervo audiovisual informações e fatos não tão conhecidos. Descobrimos coisas curiosas e interessantes, com Ruy desmistificando a aura vanguardista do movimento da Semana de 22 ao mencionar alguns escritores e obras da época, como João de Minas e Luís Martins, cronistas da realidade nua e crua carioca, envolvendo sexo e consumo de drogas, que foram relegados ao segundo plano nos estudos da literatura brasileira que privilegia o modernismo pós- Oswald e Mário de Andrade. Também descobrimos que teve um tempo no qual Oscar Wilde era chegado em mulher e que teve até filho (jura, santa?).



Mas o mote principal do livro é lembrar que leitura é, antes de tudo, uma atividade que deve ser prazerosa. Mas nem tudo são flores na vida do escritor. Certamente devido aos problemas legais que teve ao biografar o jogador Garrincha, Ruy Castro vez por outra menciona em seus textos quão ingrata é a tarefa de biografar personalidades com descendentes ainda vivos. Ou muito vivos, em alguns casos. Aqui há dois textos que tocam no tema, sendo um sobre o neto de James Joyce, que dispõe da obra e biografia do avô famoso como bem lhe convém, a despeito de sua importância para a literatura universal. Outro texto fala diretamente dos problemas envolvendo os filhos de Garrincha e o processo que eles moveram contra a editora, em forma de conselho a quem porventura venha a se aventurar na senda de biografar algum famoso com filhos ou netos ainda vivosE para endossar isso, o mais recente cu-de-boi envolvendo biografia e descendentes de biografados é o livro “Matar Para Não Morrer”, que narra o episódio envolvendo o corno, escritor e péssimo atirador Euclides da Cunha e o pé-de-lã Dilermando de Assis, cujos netos querem processar a autora do livro. Se a historiadora Mary Del Piore tivesse lido a matéria do Ruy, talvez tivesse pensado duas vezes antes de começar seu livro…

“O Leitor Apaixonado” meio que fecha uma espécie de “trilogia” de livros reunindo artigos de Ruy Castro e organizados por sua esposa, Heloisa Seixas. O primeiro saiu em 2006, reunindo artigos sobre cinema, predominantemente americano e pré-anos 60, e se intitulou “Um Filme é Para Sempre”. No ano seguinte, sob a mesma fórmula, saiu “Tempestade de Ritmos”, com o tema música, e a maioria dos artigos é sobre música americana, principalmente Jazz. Há música brasileira também, mas bem pouco, já que este tema foi reunido em uma antologia anterior, “A Onda que Se ergueu do Mar”, que reuniu artigos sobre Bossa Nova e outros ritmos brasileiros, saindo meio que no rastro de “Chega de Saudade”. Mas em todos estes há a marca característica de Ruy Castro: entregar um calhamaço de informações, muitas até obscuras, sem entediar o leitor, ao contrário, divertindo-o no processo.

Seguindo este ritmo, será que teremos algum livro sobre outra paixão do Ruy, como o futebol, para completar uma tetralogia? Bem, veremos. De qualquer maneira, independente do tema, ler Ruy Castro é garantia de prazer, sob qualquer luz.
http://www.blodega.com/index.php/2010/01/03/o-leitor-apaixonado/
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Elias 06/04/2012

É uma visão informal da literatura, aliás, é mais sobre os autores do que de seus livros. E quando o autor pretende falar das obras, escorrega na parcialidade, desencando o movimento paulista da Semana da Arte Moderna e valorizando a arte carioca.
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Márcia 26/08/2016

O livro é uma reunião de textos escritos originalmente em diversas publicações, em um espaço temporal de 20 anos. As crônicas foram revistas pelo autor e, em alguns casos, reescritas.
Todos os textos possuem a leitura como fio condutor. Seja analisando escritores, descrevendo publicações e artistas, relembrando autores há muito esquecidos.
Lembrando o primeiro livro lido quando criança, de Monteiro Lobato. Ou descrevendo as desventuras dos modernistas, em especial Oswald e Mário de Andrade. Contando a história da Lapa antiga e seu propagador. Ou os grandes cartunistas do Século XX e de escritores absolutamente geniais em seus escritos, mas um tanto quanto atribulados em suas vidas pessoais.
E não esquece de informar a (grande) influência da birita no processo criativo da literatura e destrutivo das vidas de diversos autores.
Também são dignos de nota os textos em que ele conta as agruras por que passam os biógrafos. Na visão de Ruy Castro, o biografado ideal deveria ser “solteirão, filho único, sem filhos, pais vivos, deve ser estéril e brocha”. Ele utiliza como exemplos os casos de James Joyce, Oscar Wilde e Garrincha – esta última, escrita pelo próprio.
A leitura é deliciosa. Além de um texto leve e deliciosamente sarcástico, as crônicas do livro versam sobre temas que muitos ignoram em seus cotidianos. Aprendi muita coisa que não sabia.
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LETRAS e VEREDAS 28/02/2023

O leitor apaixonado: prazeres a luz do abajur
O livro “O leitor apaixonado: prazeres à luz do abajur”, do escritor e jornalista Ruy Castro, reúne 45 textos publicados na imprensa carioca e paulista sobre personagens do jornalismo, da literatura e da dramaturgia. Com uma escrita bastante fluída, os textos de Ruy Castro não são críticas ou resenhas literárias, mas, como diz o resumo contido na orelha do livro, são textos que primam “pelo lado humano dos escritores e como isso influiu na criação de suas obras definitivas – ou fracassadas”. O livro também é um tributo de Ruy Castro ao jornalismo com textos dedicados a Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Paulo Francis, Harold W. Hoss e ao falecido jornal carioca Correio da Manhã.

Os textos que mais me agradaram são aqueles que retratam escritores e escritoras que, hoje em dia, estão submersos nas águas do esquecimento ou são desconhecidos no Brasil: Luís Martins, autor de romances que retratam o submundo da Lapa; Anita Loos, autora do livro que inspirou o roteiro do filme “Os homens preferem as loiras”; Nathanael West, autor de “Um dia de gafanhoto”, que teve o merecido reconhecimento de sua obra apenas postumamente; o escritor de romances policiais Rodolfo Walsh que deixou sua posição de “pacífico intelectual, enxadrista, estudioso de romance policial e um sublime alienado político para se converter num militante ativo do movimento peronista”.

Há também textos sobre escritores famosos como Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Collete, Mario de Andrade, Oscar Wilde, Millôr Fernades e... Paulo Coelho. Aliás, o texto sobre o “mago dos best-sellers” traça um perfil sobre o escritor e trazendo uma curiosidade pouco conhecida: seu catolicismo impenitente.
Não poderia faltar no livro textos abordando o seu ofício do biógrafo. Com senso de humor, Ruy Castro, rememorando a polêmica causada pelo lançamento do livro “Estrela solitária: um brasileiro chamado Garrincha”, relata que as principais adversidades que o biógrafo pode encontrar são os herdeiros do biografado. Para Ruy Castro, um biógrafo sério, se descobrir coisas que a família do biografado preferiria não ver divulgadas, deve adotar o critério “da verdade”, independente de quem possa desagradar. Em outro texto, o autor conta as dificuldades impostas aos pesquisadores e biógrafos de James Joyce causadas por seu neto, Stephen Joyce, que, por deter o espólio da obra joyciana, proibira qualquer tributo ou pesquisa relaciona ao seu avô.

Por fim, é um livro gostoso para quem busca um a leitura leve, ao mesmo tempo, instigante.
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