Paulo Silas 21/11/2020Compreendendo a produção escrita de Freud entre os anos de 1926 a 1929, o volume 17 das obras completas, publicada pela editora Companhia das Letras, inclui entre os textos reunidos na obra produções como "Inibição, Sintoma e Angústia" e "Futuro de uma Ilusão" - textos de destaque mencionados no próprio título desse volume. Dado o período em que foram escritos, tem-se aí um compilado de textos num nível já bem mais avançado da psicanálise freudiana, sendo constantes, como característico do autor, a referência ou de retomada de textos anteriores - ora como revisitações para esclarecer ou retificar alguns pontos, ora como menção referencial especificamente, sendo assim interessante que o leitor tenha um prévio contato com textos anteriores. Ao todo, são nove capítulos que representam as tantas obras de Freud compreendidos no referido período, tendo-se nas quase quatrocentos páginas um amplo material para estudo da psicanálise.
Em "O Futuro de uma Ilusão" temos um dos textos mais polêmicos de Freud, onde as doutrinas religiosas são apontadas como ilusões em sua natureza psicológica - a religião seria "a neurose obsessiva universal da humanidade, originando-se, tal como a da criança, do complexo de Édipo, da relação com o pai", pelo que, mediante uma contundente crítica, a justificativa psicanalítica do amparo religioso seria uma mera substituição do pai.
Já em "A Questão da Análise Leiga", Freud defende e justifica as razões pelas quais a psicanálise não deve ser algo cuja prática terapêutica seja exclusiva dos médicos, demonstrando de modo pormenorizado os motivos que ensejam na não necessidade de "controle regulamentar" da prática psicanalítica por algum órgão ou saber específico que não a própria psicanálise.
Conforme mencionado, a obra conta ainda com diversos outros textos, destacando-se aqui "Dostoiévski e o Parricídio" - texto em que o escritor russo é analisado em suas quatro facetas (o escritor, o neurótico, o moralista e o pecador) -, "Uma Experiência Religiosa" - breve texto em que Freud explica analiticamente uma experiência religiosa relatada por um colega - e "O Humor" - onde o autor trata do humor por um ponto de vista outro daquele analisado em "O Chiste e sua Relação com o Inconsciente". Vale mencionar que em duas obras presentes nesse volume Freud se utiliza de um interessante artifício na construção de seu texto: o diálogo com um interlocutor criado que lhe serve como contraponto com perguntas e críticas que lhe auxiliam na exposição de seus argumentos. Um excelente livro, portanto, cuja leitura é necessária para os estudos em psicanálise.