Kari 22/06/2014
"Cansei da cor desse cabelo"
Se você já está chegando próximo aos 30 anos, talvez "Não se apega, não" não seja para você. O tom "Capricho" dado tanto à narrativa, quanto aos acontecimentos em si, vão definitivamente dificultar qualquer identificação com a vida e a personalidade da protagonista, além de desmerecer boa parte dos conselhos românticos do livro.
Narrado em primeira pessoa, "Não se apega, não" conta a história de uma mulher de 22 anos que decide terminar um longo namoro. Isabela, a protagonista, mistura ficção e auto-ajuda, conforme desenrola uma história pouco relevante da sua vida, e filosofa, de forma superficial, sobre relacionamentos em geral.
O livro conta com uma ou outra sugestão valiosa (como a dos três homens mais importantes na vida de qualquer garota e as "20 regras do desapego"), mas, de uma forma geral, é excessivamente imaturo. O tempo todo esperamos atitudes rasas da personagem, como, sei lá, uma briga homérica com o pai sobre o intercambio na Europa, com uma batida de porta e choros no travesseiro em seguida (com direito a biquinhos, como a própria protagonista assume fazer).
Além do mais, incomoda bastante como Isabela perde tanto tempo com auto promoções (até a página 31, foram três descrições repetitivas sobre o próprio cabelo) e também com as inúmeras contradições apresentadas (como quando Isabela diz que se iludiu ao achar que podia "transformar" o cara, mas que tem orgulho em dizer que mudou a vida do indivíduo. ??). Mesmo sem ter *conseguido* terminar a leitura, arrisco a dizer que o livro deveria ter sido escrito apenas em forma de "auto ajuda" e não de narrativa, já que a segunda parte acaba desacreditando absurdamente a primeira.
A proposta principal do livro, a tal "lei do desapego", carece de algum senso discriminativo, pouco explorado pela autora. Temos a definição do princípio, "o desapego é saber se desprender de tudo aquilo que te retém, faz mal e sufoca", porém, da forma que é apresentado, corrobora com uma manifestação de egoísmo e falta de senso de cumplicidade.
Isabela passa algumas linhas tentando, sem sucesso, explicar melhor o fim do relacionamento, porém a parte da conversa com o parceiro, da co-participação e do companheirismo em tentarem arrumar o que não estava bom, foram deixadas de fora da história. Em uma breve passagem temos a personagem, ainda comprometida, aplicando algumas demonstrações de afeto que ela sozinha julgou necessárias, e (ordenando) pedindo que seu jeito de ser seja aceito praticamente sem mudanças, sem acordos e sem ressalvas. Isso é, vindo da mesma personagem que nutre esperanças de mudar ao menos uns dois cavalheiros só até a página 32.
A impressão que fica é aquela que ela mesma compara: "Cansei da cor desse cabelo". É o esperado para os dias atuais; não serve mais? Lixo. Consertar dá trabalho e exige um árduo trabalho em equipe, além de uma maturidade sequer explorada na vida de Isabela.