Tauana Mariana 08/01/2015
Bom livro para quem quer começar a ler
Sinceramente, adquiri e li a obra aguardando uma coisa e me deparei com outra. Não que a aquisição e a leitura tenham sido em vão, mas me supriu superficialmente, eu diria. Além disso, a obra exige uma leitura pesarosa.
Para o autor, lemos para fortalecer o ego, essencialmente. Já em sua obra, me parece que o que mais se ressalta é exatamente o ego do autor. Um crítico literário que acredita piamente que o bom leitor é aquele que lê Shakespeare, Tchekhov ou Kafka, por exemplo. Que devemos ler, mas "somente o que há de melhor na literatura" (p. 35). Bem, não lhe tiro a razão, mas sou a favor da leitura indescritivelmente. Leiamos qualquer coisa, mas leiamos.
A obra foi publicada no Brasil em 2011 mas data de 2000, ano imensamente ressaltado por Bloom. Também é ressaltado em praticamente todas as páginas que o livro trata-se quase que exclusivamente de literatura norte-americana e o que essa leitura influencia ou como se relaciona com os norte-americanos. Além disso, o autor sugere que você leia as obras mencionadas da forma como ele considerou melhor, após anos de leitura. Essa sugestão pode ser boa, visto que advém de um Expert no assunto, mas é sempre bom lembrar que cada um tem o seu modo, o seu jeito. Para Bloom, por exemplo, devemos ler poesias em voz alta, e se possível, devemos memorizá-las. Já as obras de Shakespeare deve ser lida, o leitor deve assistir a peça, e ler o livro novamente. A presunção do autor às vezes me incomodou um pouco, afirmando que apenas os bons leitores poderiam entender algumas obras.
Sobre a organização do livro, após prefácio e prólogo, Bloom analisa os contos, dos quais "esperamos obter o prazer da conclusão" (p. 27). Analisa autores como Ivan Turgenev, Anton Tchekhov (este ensina que "a literatura é uma forma de fazer o bem" p. 34), Guy de Maupassant (o melhor dos autores do chamado conto popular), Ernest Hemingway, Flannery O'Connor ("mais do que uma escritora dotada de genial comicidade, [...] demonstrava possuir uma aguda percepção: para os seus compatriotas, a religião não era o ópio, mas a poesia da humanidade), Vladimir Nabokov, Jorge Luis Borges (que teve Kafka como grande percursor, e foi substituto de Tchekhov como escritor mais influente no referido gênero, a partir da segunda metade do século XX), Tommaso Landolfi e Italo Calvino.
Posteriormente, Bloom analisa poemas de Robert Browning, Walt Whitman, Emily Brontë, William Shakespeare, John Milton ("poeta central do protestantismo, assim como Dante é o poeta-profeta central do catolicismo" p. 114), entre outros. Para Bloom, os poemas devem ser lidos em voz alta, e se possível, devem sempre ser memorizados (p. 69), pois "guardado na memória, o poema passa a nos possuir, e podemos, então, lê-lo mais minuciosamente, conforme o exige e faz recompensar a grande poesia" (p. 134). Argumenta que "raramente, a poesia auxilia-nos a comungar com terceiros; trata-se de um belo idealismo, tornado realidade em certos momentos misteriosos, como no instante em que nos apaixonamos" (p. 74). Em suma, afirma: "a poesia é a única 'autoajuda' que funciona, pois recitar 'Sombras' em voz alta fortalece o meu espírito".
Descubro através desta obra que Brontë também escreveu poemas sobre O Morro dos Ventos Uivantes (meu livro de romance preferido).
Tão reprimida, mas sempre insistindo
Nos afetos que nasceram comigo,
A riqueza e o saber não mais buscando,
Os sonhos impossíveis eu persigo.
Não quero hoje correr regiões sombrias,
Cuja imensidão se faz entediante,
E onde as tantas legiões de visões frias
Trazem o mundo irreal, atordoante.
Caminhar, mas não por heróicas trilhas,
Nem pelas rotas da moralidade,
Ou entre fisionomias andarilhas,
Que a história assombram desde a antigüidade.
Caminhar, seguir minha natureza—
Outro guia não há de me servir—
Nos montes dos rebanhos sem defesa,
Onde o vento uivando posso ouvir.
O que teriam os montes a revelar?
Glória e dor mais intensas que eu externo:
Se Terra ao afeto um coração incitar,
Poderá abarcar o Céu e o Inferno.
Outro poema que me fascinou, que trata-se de uma balada folclórica, intitula-se "O túmulo sem paz" (p. 96).
Hoje sopra o vento, amor meu,
E a chuva miúda ele traz;
Tive um só amor nesta vida,
No túmulo hoje ela jaz.
Pelo meu verdadeiro amor,
Sofro uma juventude fria;
Permaneci ao lado do túmulo,
Doze meses e mais um dia.
Uma vez passado esse tempo,
A morta se pôs a falar:
“Quem chora ao lado do meu túmulo,
E não me deixa descansar?”
“Sou eu, amor, sempre ao teu lado,
Quem não te deixa descansar,
Quero beijar lábios gelados,
É tudo o que venho buscar.”
“Queres, pois, meus lábios gelados,
Mas meu hálito cheira a terra;
Beijando meus lábios gelados,
A tua existência se encerra.
“Naquele jardim verde, amor,
Caminhávamos lado a lado;
Lá, a mais formosa das flores
Terá hoje em dia murchado.
“Assim como a flor, meu amor,
Nossos corações vão murchar;
Vive, pois, feliz, meu amor,
Enquanto o Senhor não chamar.”
Os romances são analisados logo após, seguido pelas pelas teatrais, e retornando ao fim do livro. Aqui, Bloom analisa obras de autores conceituados, mas confesso que os autores do Romance II eu praticamente desconhecia. Obras de Miguel de Cervantes, Stendhal, Jane Austen, Charles Dickens, Fiodor Dostoiévski, Henry James, Marcel Proust (), Thomas Mann, Herman Melville, William Faulkner, Nathanael West, Thomas Pynchon, Cormac McCarthy, Ralph Ellison e Toni Morrison são resenhas e suas leituras são justificadas. O legal destas resenhas também se dá pelo fato de sabermos qual a relação que os autores têm entre si e entre a época em que viveram, além de sabermos um pouco mais sobre a vida, obra e morte de cada um. Enfim, Bloom (2011, p. 190) declara: "Há muitas maneiras diferentes de ler bem, mas todas envolvem a receptividade da nossa atenção. Tenho parcos conhecimentos sobre budismo (sendo eu de temperamento impaciente), portanto, o conceito de Wordsworth — “passividade sábia” — seria, do meu ponto de vista, o melhor sinônimo do tipo de atenção exigida pela boa leitura".
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