Rafael.Honorato 10/03/2021A criação de uma sociedade como foco na liberdade do indivíduoO livro é uma abrangente e repetitiva defesa de um governo anarquista de mercado: Tendo como pilares a descentralização, secessão, trocas voluntárias e contratuais, defesa da propriedade privada e a liberdade de todos os indivíduos. O título pode assustar de primeiro momento, pois temos a tendência de crer que ser contra a democracia significa a defesa do autoritarismo. Não é esse o intuito de Hoppe, conforme segue:
O livro apresenta ideias interessantes sobre a preferência temporal alta e baixa, que são direcionadas ao curto ou longo prazo, respectivamente. A democracia, segundo o autor, é responsável pelo aumento da preferência temporal na sociedade e consequentemente pela descivilização da mesma. Um governo com alta preferência temporal só se importa em explorar os recursos que estão ali disponíveis em seu curto mandato. O autor apresenta diversos exemplos que são facilmente evidenciados na política, principalmente no Brasil.
Hoppe fala também sobre uma sociedade com alta preferência temporal, onde consequentemente não há a grande preocupação em estudar, poupar, trabalhar e investir pensando no futuro. Os argumentos são interessantes e até fazem pensar, mas acho que são frágeis, pois são apresentados como ‘indícios’ pelo autor.É importante lembrar que nem sempre correlação significa causalidade. Creio que seja importante uma análise mais aprofundada nesse ponto.
O autor faz duras críticas à democracia, fazendo uma comparação desta com as monarquias nos aspectos inflacionários, desvalorização monetária, dívida, aumento de estado, impostos e autoritarismo jurídico. Sendo, para ele, a monarquia menos pior, e que uma anarquia de mercado é o sistema ideal para controlar esses problemas. Além do que, no sistema atual, a competição por cargos políticos seleciona os maiores demagogos, enganadores e mentirosos fazendo com que os piores cheguem ao poder. Na democracia, a tendência de aumento de estado e centralização poderia levar a um governo a nível mundial, onde as vontades da maioria se imporiam para as minorias. Os argumentos são bem desenvolvidos e interessantes, vale a pena conhecer.
No anarquismo proposto por Hoppe, cidadãos exemplares são as lideranças são escolhidas voluntariamente e naturalmente, de maneira descentralizada, governando territórios pequenos a partir de contratos com os cidadãos. Cada núcleo sendo responsável por seus acertos e erros e aprendendo, aos moldes da competição de mercado uns com os outros. As associações desses pequenos núcleos não são forçadas, permitindo que diferentes grupos com diferentes afinidades se associem ou se distanciem, fortalecendo as características e pertencimentos culturais e de mercado totalmente aberto, de trocas voluntárias de mercadoria, dessa forma, alocando os recursos de maneira eficiente. Para ele, o anarquismo de mercado é estabelecido, no longo prazo, a partir da defesa de tais ideias, de maneira pacífica e através do convencimento. Apresentando, de maneira firme, as contradições e incoerências do sistema democrático como o conhecemos hoje.
O livro apresenta ideias que me fizeram questionar muitas das concepções que já fazem parte do senso comum, o que foi muito interessante e abriu um enorme campo de reflexão. Ressalto alguns pontos, tais como algumas certezas e raciocínios que o autor chega de maneira pouco explorada, e sem maior investigação de causalidade. Em determinado momento da leitura as reflexões ficam muito relacionadas apenas no mundo das idéias e de suposições de uma sociedade idealizada pelo autor, onde as pessoas necessariamente precisam se comportar de determinada maneira, o que é um problema, tendo em vista as complexidades infinitas e contradições da malha social e das relações humanas, o que não necessariamente faz do autor errado. Em algumas passagens o autor parece defender um sistema meritocrático, que nem sempre se faz coerente com as relações sociais apresentadas na prática.
O livro é muito interessante e me despertou ainda mais o interesse de estudar sobre o tema. A sociedade que vivemos hoje é tão distante da idealizada por Hoppe que ao fim da leitura saio com muito mais dúvidas que certezas, principalmente em encontrar pontes e caminhos reais para a construção desse modelo social.