Resenhas - O Réu e o Rei

Raony 27/12/2014

Em 2006 eu tinha 16 anos e embora já gostasse de ler, ainda não tinha recursos financeiros para comprar meus próprios livros e por isso não acompanhava o mercado editorial e seus lançamentos. Por causa disso perdi uma chance histórica, comprar o livro "Roberto Carlos em detalhes". Não que eu seja fã do cantor, muito pelo contrário, mas porque logo depois tal livro seria proibido. Eu teria em mãos então um triste souvenir da repressão e atraso brasileiro (que poderia valer um dinheirão mais pra frente).

Além disso, tudo leva a crer que teria também boa literatura em mãos. Digo isso pela leitura de "O Réu e o Rei", de Paulo César de Araújo, mesmo autor da biografia. Lançado agora em 2014, quando eu já acompanho os lançamentos editoriais e garimpo livros interessantes. Voltei-me para esse livro por conta das críticas positivas e curioso pela forma que a história seria contada. Achei que teria mais interesse na parte do processo e seu andamento, mas estava enganado. O relato do processo de pesquisa, a relação do autor com a música de Roberto Carlos roubam a cena no início da leitura. É bem escrito, é amável. Mesmo esse trechos cuidadosamente escolhidos do entrecruzamento das biografias do réu e do rei já mostram a qualidade que devem estar contido no livro proibido.

A parte da pesquisa me tocou de modo especial, por ser eu também um pesquisador da área de Humanas em formação. O empenho e a seriedade com que a pesquisa foi forjada são inspiradores. O livro dá uma caída na parte do processo, pois está envoltas em tecnicidades jurídicas (aaaah, o direito, essa área tão enfadonha, tão torpe e tão importante), mas se recupera na discussão em torno do grupo "Procure Saber" e o debate sobre as biografia não autorizadas.

Saí do livro gostando menos ainda do Roberto Carlos, fã do PC Araújo, refletindo sobre a questão da liberdade de expressão versus direito a privacidade e inspirado enquanto pesquisador. É um ótimo saldo.

Jardel Maximiliano 05/05/2015

A História do Livro Proibido
Assim como o autor também cresci embalado pelas músicas do Roberto Carlos. Lembro dos discos de vinil que minha mãe colecionava e deixava em cima do guarda roupas para evitar acidentes. Me vi nas passagens do livro em que o autor retrata sua infância e de como todos os anos tínhamos novos lançamentos de sucessos do Rei. Foi com grande surpresa que vi o lançamento de uma biografia do Roberto Carlos e fiquei espantado em saber que ela estava sendo alvo de uma campanha de proibição levantada pelo RC. Na época não tinha recursos para comprar o livro e quando ele foi recolhido, pensei que nunca mais teria noticias dele. Quase tudo que está no livro foi novidade para mim, os pormenores do processo, as intransigências, a manipulação da justiça e como o poder influência nos julgamentos. Chorei com o autor ao perceber o quanto o trabalho dele foi deixado de lado e ao perceber que 16 anos de muita pesquisa e entusiasmo hoje em dia estão impedidos de serem disponibilizados ao grande público. Obviamente que inúmeras alternativas existem e no Réu e o Rei o Paulo César faz questão de apontar as versões digitais que existem do livro e de como ele é comercializado fora do país sem problema nenhum. Li boa parte do livro em um fôlego só, mas diminui o ritmo na parte dos julgamentos por dois motivos: Os termos e os autos dos processos ficam um pouco massantes e por saber que até hoje o livro é proibido. Li estas partes sabendo que apesar de todos os esforços do Paulo César, sua obra ainda esta censurada.
Como é dito no livro, em algum momento este livro será liberado. Em algum momento os depósitos em que os livros confiscados estão serão abertos e poderemos ter nossa edição. Fico cá na torcida e esperando para ter o autógrafo do Paulo César nos três livros (Este, o Proibido e o "Eu não sou cachorro não"). Deixo cá meus votos de que isso aconteça logo e que o Autor saiba que hoje eu estou bem mais interessado no Réu, do que no rei.

site: http://wescribe.co/t/o-reu-e-o-rei

Caroline1091 04/09/2015

Me Surpreendeu
Confesso que fiquei com um pé atrás quando ganhei este livro. Nunca gostei de Roberto Carlos (e depois de ler acho que gosto ainda menos), então achei que o livro não iria atrair minha atenção. Porém como leitora apaixonada resolvi começar a ler e ver no que dava.

Fique surpreendida!

O livro narra a trajetória do autor Paulo Cesar de Araujo desde sua infância até o motivo que o fez querer escrever uma biografia (aquela proibida) de Roberto Carlos, não é o livro sobre o Roberto, mas sobre a história de Paulo Cesar.
Eu, como jornalista, simplesmente amei o livro, a forma como ele conseguiu marcar entrevistas com grandes nomes da nossa música popular, todos os empecilhos que sofreu e a forma como nunca desistiu mostra bem o que nós jornalistas temos que enfrentar diariamente.
Uma narrativa cativante, que prende sua atenção e faz com que você não queira parar de ler!
Parabéns ao autor, e eu espero realmente que um dia ele consiga que a biografia que ele lutou e se empenhou tanto para escrever seja liberada.

Gustota 05/07/2020

Uma história inacreditável
O Réu e o Rei é um livro sobre um livro. Eu conheci o Paulo César Araújo pelo incrível trabalho de resgate da cultura popular que ele fez sobre o brega no livro "Eu não sou cachorro não". Fã inveterado de Roberto Carlos, autor que moldou seu caráter, ele escreveu a polêmica biografia "Roberto Carlos em Detalhes", talvez o livro mais (desnecessariamente) polêmico das últimas décadas no Brasil. A censura por parte de Roberto Carlos causou um rebuliço tão grande que agitou e polarizou todo setor intelectual e cultural em torno do autor.
Derrotado na censura, Paulo César Araújo escreve essa espécie de meta-livro sobre o processo de criação da obra e seu tira-teima.
Esse livro pode ser dividido em três partes: a primeira narra a infância e adolescência pobre do autor na Bahia e sua íntima relação com a obra do astro Roberto Carlos. Paulo César Araújo faz um paralelo entre toda sua trajetória e a discografia do Rei até o astro virar um medalhão da Globo e ele virar um jornalista e pesquisador especializado em música. O meio do livro narra a construção da biografia e todo o penoso processo de censura pelo qual a obra passou. Roberto Carlos, herói máximo do Paulo César Araújo é reforçado na narrativa como uma figura extremamente excêntrica e desejosa do anonimato pessoal, mesmo sendo um dos maiores astros da música popular brasileira. Essa parte mostra todo processo de polarização da imprensa, artistas e intelectuais em torno da liberdade de expressão. A terceira parte do livro mostra a articulação do "Procure Saber", grupo composto pelos medalhões da MPB em torno da causa da proibição de biografias não-oficiais. Aqui o autor sugere que todo movimento em torno do controle da imagem e a campanha que esses artistas (a maioria censurada na ditadura) em torno de seus nomes enquanto marcas é movimentado muito mais em torno de retornos monetários. Haveria um interesse dos artistas de faturar uma "boquinha" em torno das biografias e uso de suas imagens.
Algo que eu gostei muito no livro foi ver como um "outsider" no mundinho fechado dos grandes artistas é tratado, desde uma curiosíssima amizade do autor com o recluso João Gilberto até ataques e desmontes de figuras da estatura de um Caetano, Gil e Chico Buarque. Um livro excelente pra se pensar sobre a liberdade de imprensa e os sutis mecanismos de "corte" de grandes e talentosos artistas.

mans 21/03/2023

Entre o rancor e a memória
Já explico o título: não dá para negar que, ao escrever esse livro, Paulo César estava mergulhado em rancor. Chateado, bravo, triste. E isso é absolutamente perceptível no livro, que não permite em momento algum que o leitor esqueça a sacanagem que o Roberto Carlos fez. Sempre que possível, reforça atitudes contraditórias, erros de opinião, equívocos. Não tem medo de bater no rei.

Por outro lado, O Réu e o Rei não é só um livro pra desabafar ? se fosse, seria terrivelmente ruim. Pelo contrário: sendo quem é, Paulo César mostra como dá pra aprender com esses erros cometidos (não só por Roberto, mas depois também, em menor grau, por Chico, Gil e Caetano com a tenebrosa Paula Lavigne).

Mostra que a luta pelo direito à informação e o direito da liberdade de expressão é árdua no nosso país, ainda mais em tempos de fake news ? algo que ganhou força só anos depois da publicação do livro. Nos faz pensar, refletir, se emocionar. E, apesar das repetições exageradas, é um baita livro que me deixou sedento para ler Roberto Carlos em Detalhes.

carlosfelipe.bragapinto 11/08/2015

...
Que soco. Ainda estou ar. Somos todos humanos.

Silvio Almeida 12/10/2015

Um erro que se revelou um acerto para nossa história
Este livro relata a história da biografia proibida de Roberto Carlos escrita pelo historiador Paulo Cesar Araujo que gerou repercussões a nível mundial sobre a questão da liberdade de expressão e do direito a privacidade, virando matéria de estudo no campo do Direito.

O livro basicamente divide-se em 3 partes: a primeira contando a relação entre a vida do autor e a música, especialmente Roberto Carlos, levando ele a partir de suas inclinações a formar-se simultaneamente em Comunicação e História. A segunda parte relata o embate jurídico entre o autor, a editora e Roberto Carlos.

Por fim, a terceira parte narra os desdobramentos provocados por esta proibição, que repercutiu de maneira inesperada na mídia, no Congresso Nacional, no STF e até no exterior.

A bem da verdade, em momento algum, Roberto Carlos conseguiu explicar claramente porque proibiu a excelente obra "Roberto Carlos em Detalhes", mas isso até parece um capricho do destino que usou o rei da nossa música popular brasileira para que houvesse um avanço neste assunto, pois outros livros foram proibidos e nunca houve repercussão suficiente para que mudassem as leis a respeito da liberdade de expressão.

Em 2014 foi aprovada na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei que protege a publicação de biografias não-autorizadas, o qual espera aprovação do Senado e a sanção da Presidência da República.

Deve-se entender que a obra proibida era um livro histórico e não um livro de fofocas sobre a intimidade do artista como pode-se pensar a princípio.

Outro ponto bastante louvável, foi o apoio do PT que foi autor do Projeto de Lei que libera a publicação de biografias não autorizadas, enquanto que movimentos de "direita" fizeram pressão para não aprovar este projeto. Logo o PT que se vê envolvido em tantos escândalos abre uma porta para ser alvo também de escritos que poderão não lhe ser favoráveis, enquanto setores tradicionais brigam para que apenas a sua visão tenha vez.

Por outro lado, um ponto triste, é notar o quanto a nossa justiça e Governo são diferentes no que tange ao tratamento ao cidadãos comuns e as pessoas com algum destaque em nossa sociedade.

Pelos relatos do livro, creio que Roberto Carlos agiu assim motivado pela má-fé de pessoas que o cercam e até talvez por contratos que tenha feito, mas que ele não pode revelar, pois o livro proibido engrandece a figura de Roberto Carlos como um personagem importantíssimo da história do Brasil da década de 60 em diante

Em resumo, o rei Roberto Carlos sem querer beneficiou ao nosso país no tocante a liberdade de expressão e a documentação de nossa história e o autor do livro e também fã do rei foi beneficiado com esta proibição, pois obteve uma projeção que certamente não conseguiria caso o livro tivesse sido liberado pelo rei.

São as lutas da vida que destacam os mais nobres guerreiros.

site: Roberto Carlos, biografia, biografias,

Nina Victor 01/02/2016

Paulo Cesar Araújo narra o antes, o durante e o depois da proibição de seu livro Roberto Carlos em Detalhes. Fã do cantor, desde a infância, o autor fez uma minuciosa pesquisa ao longo de mais de dez anos, inclusive entrevistando e registrando em vídeo e/ou aúdio artistas do mais alto valor, contemporâneos do biografado. Durante anos a fio ele tentou obter uma entrevista com Roberto Carlos, tendo sido "cozinhado em fogo brando" continuamente. Por fim quando lançou a biografia, foi atacado ferozmente pelo assim chamado "Rei". Os detalhes de uma das audiências é de deixar qualquer um revoltado, quando aparentemente o favorecimento a Roberto Carlos foi descarado. O livro também fala sobre o grupo Procure Saber que tinha como membros Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Chico Buarque, entre outros, além do próprio Roberto Carlos. Resumindo era um grupo de artistas se articulando politicamente a favor da censura prévia às biografias. Embora eu tenha acompanhado esses acontecimentos através da imprensa na época em que ocorreram, as minúcias são bem piores. Um ótimo livro contando um história de arrepiar os cabelos de indignação.

site: http://viliouvi.blogspot.com.br/2015/02/o-reu-e-o-rei-minha-historia-com.html

adjalina.menezes 27/07/2021

Paulo César de Araújo pegou sua história de decepção com o seu ídolo e transformou nesse livro maravilhoso.
O Réu e o Rei despertou minha curiosidade pouco tempo depois de seu lançamento em 2014, comprei mas logo foi ficando no fundo da estante cedendo lugar para a imensa lista de não lidos.
Agora em 2021 resolvi trazê-lo para meu desafio de leitura, ao tempo em que me alegrava com as páginas um arrependimento pelo tempo perdido...
O trabalho do historiador é simplesmente incrível narrando todo seu processo criativo, com as passagens de sua história de vida na infância e todo o calvário da censura do livro. Só merece elogios...
Ao pesquisar sobre Paulo César de Araújo atualmente me deparo com a notícia do relançamento da biografia, surpreendente.
Resolvi garantir logo o meu exemplar na pré-venda, e estou no aguardo.

Iuri 23/08/2021

Do Paulo César de Araújo li tanto o “Eu não sou cachorro não” quanto o “Roberto Carlos em detalhes”, dois livros fundamentais para qualquer um que se interesse verdadeiramente pela música popular brasileira.

O “Eu não sou cachorro...”, indo contra todos os preconceitos, resgata a chamada música brega da lama da história e a analisa como fenômeno sócio-político-cultural legítimo.

Já o “Roberto Carlos em detalhes” - livro que li em apenas um dia- traz um estupendo panorama da vida e obra do Rei, Um biografia exemplar, de fôlego, que celebra RC como o grande ídolo que é.

Ou era, pois todo mundo sabe que esta biografia (“não autorizada”), foi proibida de circular no Brasil por conta do processo de “invasão de privacidade” movida pelo RC contra o autor e a Editora Planeta, num dos mais tenebrosos casos de agressão à liberdade de expressão já perpetrado nas terra brasilis.

Mas agora Paulo dá o troco, e de maneira "elegantésima", com o fundamental “O Réu e o Rei - Minha história com Roberto Carlos, em Detalhes" (Companhia das Letras / 2014), onde ele narra sua história desde a infância (cheia de dificuldades financeiras e familiares), passando por seu esforço para trabalhar e cursar o ensino superior (História e Comunicação) até já historiador e escritor consagrado. Tudo tendo como pano de fundo sua “relação” com Roberto (o fã mirim, o tiete devotado, o historiador sério, o autor responsável e, finalmente, o querelado – aquele que ofende – dentro do processo movido pelo “Rei” contra ele).

É um livro fantástico que, logo no início, me transportou ao passado quando, num momento brilhante, elucidou um, digamos, “enigma” da minha infância.

Sim, pois quando o Paulo afirma que algumas músicas do Roberto da década de sessenta eram direcionadas ao público infantil, me vi novamente o menino do interior do RS cuja imaginação era arrebatada pelas cenas fantásticas descritas destas canções, e não teve como não mergulhar na memória afetiva..

Realmente naquela época o que se tinha para crianças, em termos musicais, eram os disquinhos de historinhas (onde rolavam algumas canções), as músicas do Carequinha (algumas tenebrosas, tipo a famigerada “O bom menino”, onde o palhaço, com voz de travesti fumante e decadente, ia enumerando as qualidades que um “menino do bem” , um menino enquadrado e obediente deveria ter). Fora isto mais nada. E o RC vinha com “A História de um homem mau”, “O Brucutu”, “O calhambeque” e outras cinematográficas que incendiavam o imaginário da molecada de então.

Por outro lado, com sua marca de escritor delicioso (no bom sentido), Paulo analisa – novamente, mas incorporando outros enfoques distintos do “RC em detalhes” - a trajetória pública e artística do “Rei”, especialmente lançando luzes sobre a fase horrenda (inaugurada pós 80 e que ainda não acabou- e acho que nem acabará), na qual o ídolo se afundou no TOC, na religiosidade, na ausência de grandes canções, no “mundo azul” e na perseguição à liberdade de expressão, revelando ao público uma personalidade mimada e fanática.

É especialmente tenebrosa a passagem que conta a junta de conciliação promovida entre o querelado Paulo e o querelante RC, em São Paulo, na Vigésima Vara do Fórum Criminal da Barra Funda, em 27 de Abril de 2007.

Ali foi celebrada uma das mais patéticas audiências já engendradas pela nossa justiça. Sob a batuta do hostil juiz Tércio Pires, o jogo já estava definido antes do apito inicial : RC sairia vencedor de qualquer maneira. E para isto o tal juiz usou de pressões e ameaças (tipo passar o cadeado na porta da editora, multa diária de 500 mil reais e outras amenidades tais) até que os advogados do réu, com o paredão às costas, jogaram a toalha e não tiveram saída a não ser assinar um “acordo”.

O que acontece a partir daí é algo simplesmente surreal, com :

1) RC exigindo indenização em dinheiro numa discussão de enrrubecer as faces sobre “paga, não paga” e valores. A coisa toda é altamente constrangedora. Bem vergonha alheia, podem crer.

2) A exigência para recolher todos os livros de todas as livrarias do Brasil (o que não ocorreu devido à dificuldade de operacionalização do plano). Então foi exigido a entrega à RC de todos exemplares que a Planeta ainda tinha em estoque (mais de 10 mil exemplares), a fim de que ele desse o melhor destino aos livros. Isto de fato ocorreu. Quer cena mais 1984 ou Fahrenheit 451?

3) Os advogados de RC querendo fazer constar no texto do “acordo” a exigência da aplicação de uma bela de uma mordaça no Paulo, para impedi-lo permanentemente de falar publicamente qualquer palavra sobre o “Rei”. Neste momento Paulo dispensa seus advogados, toma para si sua própria defesa e, num momento de coragem ímpar, faz valer sua dignidade de historiador .

4) E como se as pérolas anteriores não bastassem, Sua Excelência o juiz Tércio, depois que a assinatura do “acordo” acontece, satisfeito e de surpresa, abre uma sacola e distribuiu a todos os presentes um cd gravado por ele. Paulo descreve a cena : “.. a minha única vontade era sair daquela sala o mais rápido possível. Antes disso, porém, o juiz pegou uma bolsa que estava ao lado da sua mesa e, para surpresa de todos, dela retirou um CD que mostrava na contracapa sua imagem segurando um violão, Ele abriu o encarte, autografou e ofereceu a Roberto Carlos, com um pedido que todos ouviram. “Roberto, eu também sou cantor e compositor, com o nome artístico de Thé Lopes. Gostaria muito que você ouvisse esse disco e desse sua opinião sincera. È meu primeiro CD, já estou gravando agora um segundo, e gostaria de ter a sua opinião sobre este trabalho”. O cantor abriu o encarte, leu o autógrafo e agradeceu ao juiz. “Obrigado, dr. Tércio, pode deixar, ouvirei seu disco com a maior atenção e carinho”. Sem seguida o juiz deu um CD de Thé Lopes para cada um dos advogados e um também para mim, com o mesmo pedido que eu ouvisse e manifestasse a minha opinião. Com o título “Pra te ver voar”, é um CD com onze músicas, a maioria composta pelo próprio juiz”

Ãh ? Simplesmente inacreditável.

Depois deste encontro revelador com Justiça Brasileira (o qual deve ser objeto de análise de qualquer curso de direito), Paulo buscou outros na tentativa de liberar seu livro, o que, como todos sabemos, não ocorreu.

De qualquer forma, a proibição do “RC em detalhes” suscitou uma grande discussão a respeito da liberdade expressão versus preservação da intimidade. Tipo : O que define uma coisa ou a outra? O que está em jogo em cada um dos assuntos? O que vale mais numa democracia?

A coisa meio que pegou fogo, e teve como ponto culminante a divulgação do manifesto do famigerado grupo “Procure Saber”, cuja porta voz era a “empresária” (??!!) Paula Lavigne e integrado pelos “ídolos” Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, Djavan e outros “artistas engajados”, o qual numa só voz - e do alto da sua certeza de influência sobre a intelligentsia tupiniquim - esbravejou contra a liberdade de expressão mostrando os dentes contra a publicação de biografias “não autorizadas”. (isto sem falar na chorumela a respeito da grana que os biografados estariam perdendo com tal tipo de publicação, os “pobrezinhos”).

Paulo, ao falar sobre seus percalços com este "grupo de intelectuais" (ele foi acusado de "mentiroso" entre outras amenidades), não deixa pedra sobre pedra na imagem destes traidores de toda uma geração que cresceu sob a ditadura, e acreditou no que ouvia quando estes repulsivos vira-casacas falavam sobre resistência, política, democracia, liberdade e outras “coisas importantes”. Bela facada que recebemos nas costas destes ídolos de pés de barro.

Já em outra passagem, conhecemos as estratégias maquiavélicas da Rede Globo de Televisão para ocultar do grande público toda a merda perpetrada pelo Rei na história da proibição do livro, seguida do comovente esforço da Vênus Platinada para reafirmar uma imagem positiva, simpática e doce do Torquemada RC diante de seus desinformados fãs.

Só lendo para acreditar e ver como a mídia realmente manipula corações e mentes dos incautos.

Enfim, não vou me alongar. Só tenho a dizer que o livro do Paulo é necessário e urgente para todos aqueles que acreditam no respeito e na liberdade de expressão responsável, não só como conceitos, mas, principalmente como direitos de qualquer cidadão.

Livraço !

Antonio Maluco 06/02/2024

Biografia
O livro conta histórias de vários personagens que foram entrevistado para a Biografia do Roberto Carlos e histórias do autor com o Rei Roberto Carlos na sua vida pessoal e profissional e amorosa