spoiler visualizarJoão Pedro 17/12/2022
Marcas do realismo russo
A trama da obra detém vários elementos da filosofia de Tolstói e da própria sociedade russa da época: tensões socioeconômicas, críticas ao poder público e à religiosidade.
Mas o que torna a história verdadeiramente interessante é o desenrolar dos acontecimentos: um jovem falsifica um cupom para ir ao teatro; este é passado de mão em mão e produz efeitos impensáveis. O ciclo se encerra quando um indivíduo, em face da destruição de sua vida acarretada pela falsificação, decide por tornar-se ladrão de cavalos. Ao roubar e matar o cavalo de um fazendeiro, ele é igualmente assassinado pelo seu legítimo dono, que acaba preso. Enfim, o prisioneiro é julgado exatamente pelo jovem do início, que agora volveu-se juiz (não obstante seu crime inicial).
Minha crítica ao entendimento de Tolstói, de que todos os envolvidos foram vitimados pela falsificação inicial, reside exatamente na desconsideração pela volição humana. Afinal, se cada um quis passar o cupom falsificado adiante, a despeito de conhecer a maldade inerente ao seu ato e poder optar pelo contrário, então cada um dos envolvidos é tão criminoso quanto o jovem-juiz. O encontro final não passa de um acaso.