Leia com a gente 03/02/2018
Muito além de um romance YA
Começo essa resenha com o coração apertado, pois a história de Maddie e Bennett me tocou profundamente e agora é hora de deixá-los ir. A Verdade Sobre Nós é o tipo de livro que permanece com você por um tempo até ir se dissipando aos poucos.
“Espero que, de alguma forma, você encontre forças para ler isso até o fim, até a última palavra, pois talvez, caso se lembre de como as coisas aconteceram… se vir tudo como eu vejo… não consiga me odiar.”
A trama desenhada pela autora Amanda Grace nos faz refletir sobre até que ponto podemos ir e o que somos capazes de fazer por amor. A história é narrada pela protagonista e tudo o que sabemos sobre os acontecimentos é visto apenas sob sua perspectiva. A história começa a ser contada a partir do final, quando tudo já aconteceu, através de cartas escritas por Maddie para Bennet.
“Essas mentiras e meias verdades iniciaram algo que o arruinou, e sei que não é capaz de me perdoar, mas quero que se lembre de mim da maneira certa, de como tudo realmente aconteceu, e não da forma feia como tentarão fazer com que pareça. Então, para você, para mim, para eles, aqui está: A verdade sobre nós.”
O fato de não sabermos o que aconteceu antes de Maddie começar a narrar os fatos causa uma certa angústia, pois a ânsia de saber o que aconteceu com Bennett e como as coisas chegaram a um ponto em que aparentemente tudo deu errado consome o leitor. Eu não conseguia parar de pensar na história e aproveitava todas as brechas do meu dia para ler, tanto que terminei o livro em 2 dias!
Maddie tem 16 anos e é, como ela mesma se define, uma filha-muito-perfeita. Maddie é inteligente, estudiosa, comportada e segue a risca todos planos traçados por seus pais, que esperam dela um futuro brilhante. Mas Maddie sente-se sufocada por tantas exigências e pelo fato de já ter o futuro traçado por eles, enquanto ela mesma não sabe o que realmente quer, ou quem ela é de verdade, por trás da máscara da perfeição.
“Bem, é assim que são as coisas em minha casa. Você tem que ser perfeito, e se não for, bom, é melhor fingir muito bem.”
Em virtude de seu excelente histórico escolar, Maddie é inscrita em um programa que permite que alunos com rendimento muito superior aos demais pulem o ensino médio e comecem a cursar disciplinas em uma universidade. E assim, Maddie vai parar na faculdade, apesar de ter apenas 16 anos, entrando em um universo completamente diferente do que estava acostumada.
É nesse ambiente completamente diferente que Maddie conhece Bennet, um homem de 25 anos, extremamente charmoso e encantador. Maddie se apaixona perdidamente por Bennet e ele demonstra interesse, embora de modo contido, por ela. Existe uma atração instantânea entre eles, só existe um problema: Bennett, além de ser bem mais velho que ela é seu professor de Biologia.
“Você sorriu para mim como um garoto sorri para uma garota, e fiquei perdida em você por um instante, envolvida demais para me importar com a hipótese de aquilo tudo ser errado.”
Bennet e Maddie se aproximam aos poucos e vão construindo uma relação de amizade e companheirismo, mas a atração está ali e só faz aumentar. Quando se dão conta, estão apaixonados. Bennet sofre com um conflito moral muito forte, pois sabe que se relacionar com uma aluna não é permitido, mas ele não faz ideia de que além de ser sua aluna, Maddie é menor de idade. Maddie, a princípio, não mente sobre sua idade, mas omite a informação. Mas aos poucos se vê cada vez mais enredada em desculpas, meias verdades e por fim em mentiras e mais mentiras.
Dividida entre contar a verdade e alimentar cada vez mais a mentira, Maddie opta por ser egoísta, e deixa seu desejo em ter Bennet falar mais alto que todos os motivos que ela tem para ser honesta. Maddie, ao pensar apenas em sua vontade, acaba, mesmo sem querer, arrastando Bennet para uma situação que pode destruí-lo.
“Então, decidi ignorar o futuro, ignorar o segredo que crescia, e que em breve seria grande demais, mas que por enquanto eu guardaria, e seríamos só eu e você e mais nada.”
Cabe aqui uma consideração, nos EUA, onde se passa a história, essa questão do relacionamento entre uma menor de idade e um homem adulto é considerado um crime grave, além de ser cercada por um conflito moral muito forte. No caso de Maddie e Bennet a lei em vigor no estado onde moram diz que aos 16 anos a jovem já tem a chamada idade do consentimento, ou seja, é considerada capaz de consentir conscientemente a relação, porém há algumas restrições: se a relação for entre um adulto em posição considerada de poder ou influência e um menor a relação passa a ser considerada crime. E essa restrição se aplica a relação entre um professor e uma aluna.
Maddie ama Bennet e não quer causar nenhum mal a ele, mas como a maioria dos adolescentes vivendo sua primeira paixão, acaba deixando o egoísmo pesar mais que a razão. Bennet é um personagem apaixonante, e como Maddie, também me apaixonei por ele.
“Aquela chama ardeu em mim, cresceu e tremeluziu até virar uma fogueira, e, naquele momento, eu soube que não poderia voltar para onde estivera semanas antes, não poderia voltar atrás em relação ao que havia pensado e ao que queria.”
A relação entre eles transforma ambos. Maddie acaba se encontrando, se conhecendo, sabendo quem ela realmente é e o que quer. Bennett, por outro lado, acaba tendo seu mundo virado pelo avesso. Nenhum dos dois passará incólume por essa relação.
Uma história tocante, delicada e forte ao mesmo tempo. O final talvez não tenha sido exatamente como eu secretamente esperava, mas é perfeito e totalmente verossímil. Uma história que parece ter acontecido de verdade, em algum lugar por aí.
Leia, você não vai se arrepender!
QUOTES
“E eu gostava muito dessa ideia, gostava da perspectiva de que talvez, quando ninguém estivesse olhando, pudesse me tornar outra pessoa.”
“Era como uma vela brilhando dentro de mim, aquecendo-me, acabando com a escuridão. Era isso que você representava para mim.”
“E, para variar, se meu pai parasse de me pressionar, talvez eu deixasse de sentir que todas as minhas ações eram controladas por outra pessoa, como se minha mente e meus membros estivessem sendo puxados e manipulados por cordas.”
“Exigir, exigir, EXIGIR. Quando isso acabaria? Quando eu poderia apenas… respirar?”
“A mais estranha sensação de prazer… e de rebeldia, de certa forma, tomou conta de mim naquela manhã quando dei um passo fora de casa sabendo que teria um dia inteiro para mim, que teríamos um dia inteiro para nós e meus pais nunca descobririam, porque ir à biblioteca estudar se encaixava na imagem da filha-muito-perfeita.”
“Acho que isso é o cúmulo da ironia, poder ser eu mesma perto de alguém que achava que eu era uma pessoa completamente diferente.”
“Você era minha rota de fuga. Minha porta para outro mundo, um reflexo que se parecia mais com a pessoa que eu queria ser do que com a que era obrigada a ser.”
“Portanto, deixamos a verdade pairar ao fundo, sempre presente, mas nunca evidente.”
“Naquele momento, não havia mais nada. Nada fora daquele quarto, daquele chalé, do mundo me afastaria de você. Nem mesmo a verdade.”
“Você precisa saber que, mesmo agora, ao olhar para trás, não me arrependo de nenhum instante daquela noite, não por mim, mas me arrependo por você. Eu jamais voltaria atrás, exceto talvez para salvá-lo do que aconteceu depois.”
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