Portal Caneca 10/02/2015
Depois de Harry Potter, tornou-se um tanto quanto “difícil” lançar livros sobre bruxos, feiticeiros e magos. E não digo isso porque a obra de J.K. Rownling esgotou todas as possibilidades desse universo, mas porque ela se tornou para sempre – ou por um tempo equivalente – um referencial na literatura fantástica, mais especificamente do universo mágico.
Ainda me lembro de quando Percy Jackson foi lançado e de como as pessoas diziam que ele seria o “novo Harry Potter”, com Crepúsculo foi (quase) a mesma coisa. Aliás, o mesmo aconteceu com outras histórias que se viram na obrigação de serem tão ou melhores do que Harry Potter para conseguirem algum sucesso no mercado literário.
Alguns meses atrás recebi um exemplar de um livro integrante de uma série já conhecida e fiquei interessado em lê-lo porque já havia ouvido alguns comentários sobre ela. O livro, intitulado Bruxos e Bruxas – O Beijo, foi lançado pela Editora Novo Conceito e escrito por James Patterson e Jill Dembowski, e é o quarto volume da série Bruxos e Bruxas.
Bom, como pode-se ver, peguei a história pela metade, mas, ao contrário do que possa parecer, isso não resultou em tornar a história difícil de ser lida. Pelo contrário, não houve qualquer dificuldade em acompanhar a história decorrente do fato de não ter lido os livros anteriores.
Mas, vamos ao que interessa. Segue-se a sinopse do livro:
No quarto livro da série Bruxos e Bruxas, Whit e Wisty, agora membros do Conselho, estão tentando reconstruir a cidade depois de derrotar O Único Que É O Único, o vilão mais malvado do mundo.
Quando tudo parece correr bem, surge uma nova ameaça, personificada na figura do cruel Rei da Montanha. Ele é um mago indestrutível, que deseja a todo custo dominar a cidade. Sem água e prestes a ficar sem alimentos, a população conta com os irmãos Allgood para sobreviver.
O primeiro ponto que achei interessante nessa história é que ela não se passa num tempo diferente do nosso, seja passado ou futuro. Não, tudo acontece nos dias atuais, na nossa realidade, é a magia andando lado-a-lado com tablets e smartphones. E essa, meus caros, foi uma jogada que muito me agradou. Agradou-me porque geralmente temos histórias sobre mundos mágicos em que suas realidades se distanciam da nossa, como se fosse impossível uma relação saudável entre magia e modernidade.
Um segundo ponto que me pareceu interessante foi a organização dos capítulos. Diferentemente do que se vê em muitos livros, os autores não se preocuparam em dar títulos específicos para eles, o que fez a história fluir mais naturalmente.
O terceiro ponto que me agradou bastante foi o jogo de vozes presentes no livro. Nele, nós temos dois personagens principais, Whit e Wisty Allgood, os irmãos bruxos que derrotaram O Único que é o Único (algo equivalente a Lord Voldermot). Nos capítulos sob o ponto de vista deles dois, nós temos uma história em primeira pessoa, o que nos permite entrar bem no enredo e, principalmente, na mente de Whit e Wisty. Mas não é sempre assim. Nos outros capítulos, contados pela perspectiva dos personagens coadjuvantes, nós temos uma história em terceira pessoa, o que muda completamente a forma de acompanhar a narrativa, mas ao mesmo tempo, é feito de uma forma tão natural, que você mal percebe essa mudança.
No entanto, como nem tudo são flores, há alguns pontos que me desanimaram um pouco. Apesar de a história, nesse ponto, ter um “quê” distópico, ela muito pouco se aproxima disso. Nesse quarto volume da série, temos uma sociedade que acabou de sair de um regime ditatorial e mágico sob o domínio d`o Único, o vilão da história, derrotado pelos irmãos Allgood. Até aqui, beleza, só que a sociedade está literalmente quebrada e, agora, sob a ameaça de outro líder ditador e mágico, o Rei da Montanha. Era para ser, basicamente, uma história política. Mas não é.
O que ocorre é que o enredo parece mais uma história de amor em tempos de ditadura do que uma história sobre a ditadura de um rei mesquinho e como as pessoas o venceram.
Entretanto, aqui é o ponto em que meu julgamento pode ter sido afetado por dois motivos: o primeiro é o fato de eu, literalmente, ter pegado a história pela metade. Como disse, esse é o quarto volume da série Bruxos e Bruxas, então muita coisa aconteceu até aqui e eu simplesmente não a acompanhei.
O segundo motivo é meu referencial. Depois de Harry Potter, acho que todo mundo ficou com uma margem de comparação um pouco elevada. Como disse antes, algumas histórias “se viram na obrigação de serem tão ou melhores do que Harry Potter para conseguirem algum sucesso no mercado literário.”.
Tentando não levar isso em consideração, acho que um dos pecados desse livro foi o fato de a história me parecer um pouco rasa demais, considerando o contexto em que ela se realiza. Fica claro que os irmãos Allgood têm uma importância incrível e que a união entre eles é o que dá força à magia entre eles. Entretanto, pouco se vê sobre a relação entre os dois, senão as várias discussões, motivadas principalmente pela cabeça-dura da Wisty.
O livro, porém, faz jus ao seu subtítulo – O Beijo. E, por mais irônico que pareça, dá uma ótima dica de como vai ser a história (um romance em tempos de ditadura). Então, há muito “amor” rolando aqui, e muito fogo também. Tudo graças a um terceiro personagem – Heath – que, no fim, revela-se muito mais do que aparenta ser.
Aliás, falando sobre os personagens, a Wisty ganhou minha raiva. Apesar de estar longe de ser a vilã da história, a raiva que sinto por ela consegue ser maior do que a raiva que sinto pelo Rei da Montanha. Isso acontece porque ela é uma pessoa terrivelmente chata e temperamental, não tenho paciência para a mentalidade dela. Mas enfim…
Apesar de alguns pontos negativos, eu realmente fiquei interessado em ler os volumes anteriores e acompanhar o andamento dessa história. É óbvio que pegar uma história pela metade resulta numa impressão pela metade, então espero ler os outros livros e, quem sabe, deixar mais algumas resenhas no site.
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