O Capital no Século XXI

O Capital no Século XXI Thomas Piketty




Resenhas - O Capital no Século XXI


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Lista de Livros 05/05/2015

Lista de Livros: O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty
Parte I:

“Quando se discute a distribuição da riqueza, a política está sempre por perto, e é difícil escapar aos preconceitos e interesses de classe que predominam em cada época.”
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“O caráter mais ou menos sustentável de uma desigualdade tão extrema depende não só da eficácia do aparato repressivo, mas também — e talvez sobretudo — da eficácia das diversas justificativas para ela. Se a desigualdade for percebida como justificada, por exemplo, porque os mais ricos escolheram trabalhar mais — ou de maneira mais competente — do que os mais pobres ou mesmo porque impedi-los de ganhar mais inevitavelmente prejudicaria os mais pobres, seria possível imaginar uma concentração de renda superior aos recordes históricos observados. É por essa razão que um novo recorde possível de ser alcançado pelos Estados Unidos em torno de 2030 caso a desigualdade das rendas do trabalho — e, em menor grau, a desigualdade da propriedade do capital — continue a evoluir como nas últimas décadas.”
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https://listadelivros-doney.blogspot.com/2015/04/o-capital-no-seculo-xxi-thomas-pikkety.html


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Parte II:

“Uma das lições mais surpreendentes que aprendemos com os rankings de bilionários da Forbes é que, a partir de um determinado limiar, todas as fortunas — sejam provenientes de herança ou de um esforço de empreendedorismo — avançam em ritmo extremamente elevado, quer o titular da fortuna em questão exerça ou não uma atividade profissional.

Vejamos um exemplo particularmente claro, vindo do topo da hierarquia mundial do capital. Entre 1990 e 2010, a fortuna de Bill Gates — fundador da Microsoft, líder mundial em sistemas operacionais, símbolo de fortuna feita por meio do empreendedorismo e número um da lista da Forbes por mais de dez anos — passou de 4 bilhões para 50 bilhões de dólares. Ao mesmo tempo, a de Liliane Bettencourt — herdeira da L’Oréal, líder mundial de cosméticos fundada por seu pai, Eugène Schueller, genial inventor de tinturas para cabelos em 1907, assim como César Birotteau com seus perfumes um século antes — passou de 2 bilhões para 25 bilhões de dólares.

Em outras palavras, Liliane Bettencourt nunca trabalhou, mas isso não impediu que sua fortuna crescesse tão rápido quanto a de Bill Gates, o inventor, cujo patrimônio continua a crescer com a mesma velocidade de sempre após ele ter cessado suas atividades profissionais. Uma vez lançada a fortuna, a dinâmica da riqueza segue sua lógica própria e um capital pode continuar avançando a um ritmo sustentado por décadas apenas por conta do seu tamanho. É particularmente importante destacar que, a partir de um determinado limiar, os efeitos do tamanho, relacionados sem dúvida às economias de escala na gestão das carteiras e na tomada de risco, são reforçados pelo fato de que o patrimônio pode se recapitalizar quase integralmente. Com um patrimônio de tal nível, o estilo de vida do detentor absorve no máximo alguns décimos de centésimos do capital a cada ano, e a quase totalidade do retorno pode ser reinvestida. Trata-se de um mecanismo econômico elementar e, ao mesmo tempo, importante. E com muita frequência subestimamos as consequências temíveis desse mecanismo para a dinâmica no longo prazo da acumulação e da distribuição de patrimônios. O dinheiro às vezes tende a se reproduzir sozinho.”
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Tiekon 19/03/2015

Denso
O Capital do Séc. XXI é pesado, é denso, é maçante, é longo, é cansativo, é desanimador, mas é incrível. O livro carece de opiniões fortes e abusa da falta de conclusões, tornando-se majoritariamente teórico com gráficos e textos descrevendo esses mesmos gráficos. Entretanto, as (poucas) conclusões do autor fazem o aprofundamento do livro valer a pena e abrem portas para o leitor construir seus próprios discernimentos a partir de uma base fortemente construída e confiante. A finalização do livro transfere confiança e liberdade para o leitor refletir (mas não concluir) sobre os assuntos mais discutidos da sociedade: o papel do imposto na sociedade e a origem da desigualdade.
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Marcos Faria 05/06/2015

Piketty mostra uma série de virtudes nesse livro que, com perdão do clichê, já nasceu clássico. Para começar, a própria motivação para escrevê-lo, nascida de uma decepção com os economistas norte-americanos e suas abordagens excessivamente técnicas. Em segundo lugar, e decorrente disso, a sua postura política, que ele não apenas assume sem medos mas afirma que deveria ser uma atitude de todo cientista, em oposição ao recolhimento nas redomas acadêmicas. Em terceiro lugar, a linguagem clara, inclusive instrumental a essa visão do estudo como arma política: em 561 páginas, só aparecem duas ou três fórmulas, todas bem claras e explicadas. Outro ponto positivo é a visão de que os números e as estatísticas não são coisas abstratas, mas realidades com impactos profundos sobre a vida das pessoas (e das personagens, como mostra ao usar Balzac e Austen para explicar a sociedade de rentistas do século XIX). No fim, toda a argumentação econômica acaba servindo para uma apaixonada defesa da democracia.

site: https://registrosdeleitura.wordpress.com/2015/06/04/o-capital-no-seculo-xxi/
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Augusto.Gabriel 23/11/2016

Mais do mesmo
Resumindo o livro:

Desigualdade social é um problema, para resolver deve-se taxar progressivamente as empresas e pessoas que estão crescendo para dividir as riquezas. Ou seja, a única solução para o problema é pegar dinheiro dos outros que estão crescendo.

Achei uma bosta, espero que exista alguma melhor forma de resolver o problema do que esta.
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Marcos5813 04/10/2023

O Capital e o Capitalismo no século XXI
Obra primorosa do Thomas Piketty, economista francês, que trás para literatura econômica sua visão sobre desigualdade social, que bate as portas do século XXI, e da era da informação. Esta obra entra definitivamente como um dos clássicos sobre tratados da Ciência Econômica, ou, como gosta de conceituar o autor, da Economia Política. A leitura desta obra me rendeu vinte e um dias, contando com este, desta resenha. Fiz um histórico de leitura de todos os dias lidos, de forma que esta resenha relata apenas minha impressão final. Piketty, de fato, trás de forma magnífica como a desigualdade entre ricos e pobre tem aumentado de tal magnitude a ponto de 1% da população mundial deter mais de 99% da riqueza mundial.

A forma de taxação das grandes fortunas é, segundo o autor, a maneira mais eficaz, do ponto de vista econômico, e, também, a mais democrática, mas não significa ser a mais fácil. Isto porque ninguém que pagar impostos ou mais impostos, mesmo que sofrem perdas de capital de seus rendimentos com, por exemplo, numa espiral inflacionária, ou da depreciação do valor real de Títulos Públicos. O fato é que a desigualdade vem aumentando a medida que o crescimento econômico diminui e o retorno sobre a renda do capital aumenta. Pensar numa redução desse contraste social, entre ricos e pobres, é pensar de modo moral e ético, mesmo que o dinheiro não tenha cheiro, assim como o Imperador Romano Vespasiano explicou a seu filho Tito do porque tributava as latrinas públicas do Império. Esta amoral financeira e econômica do dinheiro, deve ser obra de debates de quem se pretende representar seu povo, sejam ricos ou pobres, daí deve ser a economia uma forma de se produzir debates públicos no meio político, seja ele entre Presidentes de grandes nações, como o Presidente dos EUA, ou de um condômino, sobre o funcionamento do condomínio onde mora, ou das normas de seu bairro. O debate político é essencial para que o ambiente democrático de proteção a propriedade privada e de uma melhor distribuição da riqueza conduza sempre aos valores morais que levaram a humanidade a ir a Lua ou descobrir o segredo da matéria, das leis das ciências naturais.

Gostaria de deixar um relato pessoal. Antes de iniciar a leitura desta obra, estava tentado a ler "O Capital", de Karl Marx, mas a realidade que Marx viveu, enquanto escrevia seu tratado, é totalmente diferente da deste século, da era da informática, com seus Iphones, Ipads e Notebooks. E precisamente na década de 2020, com a evolução da Inteligência Artificial, o mundo, e outros paradigmas, são completamente diferente, mesmo que a lógica central, da acumulação incessante do capital até sua total absorção pela renda, em que Piketty chama de regra de ouro do capitalismo, onde a taxa do retorno do capital é igual ao do crescimento econômico, impossibilita qualquer ganho a mais dos investimentos. No entanto, uma forma de impedir o tal mundo apocalíptico marxista, sem mais nenhum meio de ganhos econômicos, passa pela política, e uma delas é sem dúvida a taxação das grandes fortunas. Então, preteri ler Marx para ler Piketty, com questionamentos de mesma ordem mas atual a realidade dessa século, O Capital e o Capitalismo. Talvez, no futuro, o discurso seja como impedir que a Inteligência Artificial domine o mundo.

Sendo economista de formação, sempre fui tentado a acreditar nas instituições que estão por trás dos sistemas que permitem uma economia funcionar, um deles é o Sistema Financeiro. Hoje, com um pouco mais de experiência acumulada em leituras e de vida profissional, da oportunidades que me apareceram, vejo, com certa reticência, de um sistema, o Sistema Financeiro, que não tem limites para imprimir meios de troca, e aqui a moeda, levando a um excesso de liquidez os mercados e o capitalismo, que tem como uma das suas premissas básicas a propriedade privada, acaba esta propriedade por pertencer aos mecanismo de fluxo monetário, e a quem pese uma análise mais sintética, uma rés poupança vira capital especulativo, quando, uma vez atrelado a certificados de depósitos bancário indexados a inflação, baseados nos rendimentos médios de carteiras, gera movimentos especulativos. Como o aumento dos preços é mercadológico, qualquer preço derivado de um capital especulativo se deteriora mais rapidamente devido ao nível de compras e vendas de ativos super-voláteis, que entram e saem das carteiras em contas bancárias em frações de segundos. O viés monetarista corrói todos os preços relativos de mercado, gerando externalidades negativas em seu uso, assim, como o capital de curtíssimo prazo não paga juros indexados, pegam caronas no diversos índices financeiros, os free-riding. Esses custos, que deixam de ser pago, foi um dos tópicos levantados por Ronald Coese, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, quando tratou da sua "Teoria da Firma" e seus Custos de Transações, e é onde o sistema financeiro fortemente opera. O custo passa a ser, antes de tudo, institucional que econômico, e política monetárias deterioram no longo prazo instituições de setores menos "ricos", se podemos dizer assim, criando um elitismo de ideias, base para as discussões políticas e, como consequência, de barganha, gerando tais custos.

Para finalizar esta ressenha que já vai longa, acredito no dinheiro privado, ancorado no funcionamento do mundo real, a tecnologia da informação, como os Bitcoins. Tributar tais moedas digitais criptográficas é um do meios de particionar os ganhos na cadeia de valor, a Blockchain, e sua convenção de aceitação de tais ganhos pela prova de participação. É democrática, anti-inflacionária e é real. Obra Magnífica! Favoritadíssima!
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marcosm 16/05/2021

O capital no seculo XXI
Finalmente consegui terminar. Não é uma leitura fácil, mas o Piketty consegue usar uma linguagem acessível para um leigo em economia como eu. Muita informação sobre a evolução da desigualdade e as dinâmicas do capitalismo. Além disso, não é um livro 'puramente' sobre economia pois o autor se preocupa mais com dimensão social dos números.
stlisieux 16/05/2021minha estante
Não entendo muito disso, mas aprendi muito com "As Seus Lições" do Mises, ele é mais um "panfleto", serve apenas para introdução à economia, pelo que ouvi dizer


marcosm 17/05/2021minha estante
Legal, vou procurar. Obrigado pela dica!


stlisieux 18/05/2021minha estante
De nada ?




Valério 25/06/2015

Conteúdo abaixo da crítica
Para o autor, assim como para quase todos aqueles com pensamento socialista/comunista, o problema não é haver quem ganhe pouco. O que ele combate, em todo o livro é a chamada "desigualdade". E o país com a maior desigualdade, são os EUA.
Para o autor, não importa se nos EUA tudo mundo ganha 5.000 dólares por mês. Não pode haver quem ganhe 200.000 dólares por mês.
O livro não traz ferramentas para combatermos miséria e pobreza, mas para combatermos os ricos, os bem sucedidos.
Em suma: Todos vivendo com dignidade e uns ganhando muito, não pode. É desigual. Já todos na miséria, tudo bem, desde que haja igualdade.
O autor diz em um determinado trecho:
"Em suma, a redução da desigualdade na França durante o século XX foi, em grande parte, resultado da queda dos rentistas e do colapso das altas rendas do capital"
Ainda assim, comemora este fato. Veja bem: Os pobres e miseráveis não saíram dessa condição. Os ricos é que ficaram menos ricos e, por isso, a "desigualdade diminuiu". E o autor, AINDA ASSIM, comemora a redução da desigualdade.
O livro foi escrito partindo-se do pressuposto que os ricos ficarão sempre mais ricos e daqui a um tempo serão donos de tudo. E que todos nós, os demais mortais, seremos escravos dos ricos
O autor ignora COMPLETAMENTE que no mundo de hoje, muita gente que nasce pobre faz fortuna, e muita gente que nasce milionário vai à falência. Na cabeça dele, o rendimento do capital se multiplica sempre, eternamente.
Ainda na fraca cabeça de Piketty, só é possível ser rico se você recebe a riqueza de herança.
Há erros de julgamento crassos no livro.
Exemplo: Ele diz que o cinema e a literatura de ficção são retratos precisos dos padrões de vida e níveis de fortuna no passado. Como pode ser um retrato preciso se obras de ficção exagera para dar emoção? Uma obra de ficção busca extremos e não procura ser retrato fiel da sociedade, mas o extrato mais impressionante.
Por fim, o autor defende um governo com carga tributária de até 80% (!!!!!).
Defende cobrar quase toda herança para o governo.
E cobrar altos impostos sobre grandes fortunas.
Esquece algumas questões de ordem prática.
Por exemplo, uma pessoa com patrimônio de 1 bilhão de dólares pode ter a participação societária em uma empresa que vale 995 milhões de dólares e 5 milhões de dólares entre casa, carros, etc.
Como ele poderia pagar um imposto sobre herança de 100 milhões de dólares? Teria que vender a empresa.
O autor vive no mundo acadêmico da lua.
Quer dar todo o poder nas mãos do governo, que teria 80% de arrecadação sobre toda riqueza gerada. O governo nos daria comida, casa, roupa, escola e tudo mais.
Por que é impossível? Já vimos em TODOS os governos com muito poder que predomina, mais cedo ou mais tarde, o totalitarismo, o absolutismo e a falência das nações que tentaram ir por esse lado de um super estado.
Faça um favor a si mesmo. Desconsidere esse livro e vá ler "A revolta de Atlas"
Bruno 04/08/2015minha estante
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/desigualdade_economica_e_muito_pior_do_que_voce_imagina.html


larissa dowdney 15/09/2015minha estante
Nossa, distorceu completamente o que diz Piketty.


Luis.Otavio 16/02/2016minha estante
Tem certeza de que você leu o livro? O Piketty apresenta as mais longas séries de dados históricos sobre desigualdade para fundamentar suas ideias. Você parece não ter entendido coisa alguma do que ele escreveu.




I.Melo 25/10/2022

Dados falsos
O livro apresenta dados falsos e incorretos que não demonstram na realidade. Tudo que é apresentado é deturpado para estar de acordo com a ideologia apresentada. O novo Capital tenta atualizar o velho capital (que também possui erros históricos). No entanto é uma leitura que demonstra a decadência intelectual do pensamento de esquerda, pois mente descaradamente e inventa dados que nada compõe a realidade. Um livro para enganar bobo ou encantar pessoas da própria laia. Se pesquisar dados por fora e comparar aos apresentados no livro verificará a farsa.
Júlia 25/10/2022minha estante
Sim!! Li esse livro e também tenho a mesma sensação


Lucas.Cunha 15/05/2023minha estante
Que dados são esses? Será que os dados realmente estão incorretos ou é só você que quer negar a realidade deles porque não te satisfazem?




Daniel432 05/08/2015

Capitalismo Desigual
O autor se propôs a escrever um livro sobre economia com uma linguagem mais acessível ao leitor comum.

Em grande parte esse objetivo foi alcançado, pois há até passagens em que o autor orienta o leitor a pular certas partes, se quiser, em função da maior tecnicidade do texto e também pela didática ao apresentar os diversos conceitos utilizados no livro.

Entretanto, em certos momentos o autor, sempre procurando relembrar alguns conceitos principais, torna-se repetitivo e a leitura fica enfadonha.

Outro detalhe, a favor do autor, que merece ser destacado é o fato de que não é fácil escrever sobre economia para leigos, o tema não ajuda.

Quanto às ideias expressadas pelo autor, não possuo conhecimentos suficientes para concordar ou discordar profundamente do que ele escreve.

Entretanto, suas ideais são coerentes e suas propostas são bem explicadas e seguem a sua linha de raciocínio.

Há uma lógica muito acertada de que o tamanho da fortuna influencia no retorno obtido na gestão desta fortuna, tornando o capitalismo desigual para os próprios capitalistas.

Se há desigualdade entre capitalistas, o que dirá entre capitalistas e assalariados. O abismo é gigantesco!!

Haverá quem discorde dele? Claro que sim!!! Já dizia alguém famoso que não lembro o nome: "Toda unanimidade é burra." Ainda mais se considerarmos que os economistas são famosos por falar, falar e não dizer nada. Eles coloquem tantas condicionantes em suas análises que se somente uma delas não se concretizar, aí estará o seu álibi para uma eventual crítica.

Quer discordar da minha resenha??!! Fique a vontade ... mas antes ... leia o livro!!


Amauri 15/10/2015minha estante
" Toda unanimidade é burra" : Nelson Rodrigues. Obrigado pela resenha. Estou com vontade de ler o livro e estou lendo as opiniões.




Luis 15/04/2016

O Tijolo do francês
Pode parecer (e de fato é) no mínimo inusitado o furor que a festejada obra do economista Thomas Piketty tem provocado. Não só pelo tema, normalmente árido para o leitor médio, mais ainda pela densidade, temperada por uma enxurrada de tabelas, modelos matemáticos e muitas, muitas notas que complementam a leitura das quase 700 páginas de O Capital no Século XXI (Intrínseca, 2014). Qualquer dúvida sobre a imensa popularidade do livro, pode ser desfeita por uma rápida consulta às manjadas listas semanais publicadas pelas revistas, ou ainda, por uma visita à gôndola de livros das Lojas Americanas (!). Pois é, Piketty está lá, ao lado de Don Brown, George Martin, JK Rowling, Stephen King, Paulo Coelho e outros legítimos representantes do que se caracterizou chamar de best sellers. Longe de ser uma crítica negativa, é a constatação da habilidade do francês em traduzir conceitos econômicos complexos para a esfera do público leigo, sem, no entanto, descambar para a vulgaridade. Um feito.
O jovem professor discute o papel histórico do capital contrapondo em diversos momentos a sua relação com a renda e a contribuição à riqueza nacional. O texto se debruça sobre como, quando e porque, os países desenvolvidos foram economicamente constituídos por uma sociedade de rentistas, em grande parte formados pela transmissão hereditária da riqueza (herança), em detrimento de uma massa assalariada, numericamente superior, mas financeiramente débil. Partindo dessa premissa, Piketty propôe reflexões sobre a desigualdade colocando em xeque o mito da meritocracia, tão caro, por exemplo, ao sonho americano.
É interessante que, ao analisar a participação dos altos salários na atual dinâmica econômica, o autor explicita uma transfiguração das elites, pois, inevitalvelmente, o nível de exigência aplicado aos cargos de remuneração superior, como o dos executivos seniors, demanda necessariamente uma formação cada vez mais custosa, inacessível a quem já não está no topo da pirâmide, ou no minimo, bem perto dele. Em suma, a elite de amanhã será composta pelos filhos da elite de hoje. O grau baixo de mobilidade social é o termômetro mais calibrado da desigualdade.
Aliado a isso, O Capital no século XXI também arrisca projeções e aponta caminhos, tais como a polêmica proposta de um imposto progressivo global, tida como utópica por boa parte da comunidade acadêmica. Não tenho skill para entrar no mérito dessa discussão.
Talvez o grande trunfo do volume, e que pode ser a chave para entender o seu surpreendente alcance , seja a veia literária de Thomas Piketty. Independentemente dos conceitos defendidos ou criticados pelo autor, todo o racíocinio é construído a partir de uma prosa de rara elegância, que combina na medida certa clareza e erudição e resgata a dimensão humana da economia, aproximando-a das ciências sociais. Aliás, essa intenção é descrita de forma explícita no capítulo final. Não por acaso, ao investigar as determinantes históricas da concentração de renda na Inglaterra e na França, são usados extratos respectivamente das obras de de Jane Austen e Balzac, com suas representações sociais do século XIX. A aplicação de elementos da mais alta ficção como arcabouço para explicar a realidade sócio-econômico da época é brilhante.
Não se sabe se a prateleira que o futuro reserva à O Capital é aquela destinada à perenidade dos clássicos ou aos modismos típicos de uma era onde a permanência é artigo tão incomum, quanto indesejado. De qualquer forma, a contribuição de Thomas Piketty ao trazer à luz um debate que parecia superado (ou que alguns, por conveniência assim o julgavam) já honra a longa tradição intelectual europeia, ainda que esparramada sobre as gôndolas das Lojas Americanas.
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Enzo 14/05/2020

Quantificando a desigualdade no mundo
O livro foi muito importante para que eu pudesse ter noção da dimensão das desigualdades de riqueza e renda no mundo. Nós muitas vezes conversamos sobre o assunto em nosso dia-a-dia, mas dificilmente temos dados para nos embasar.

É assustador o cenário atual, mas é muito importante que tomemos consciência para poder empreender qualquer mudança.

O livro também aponta possíveis soluções para reduzir esta desigualdade e, mesmo que estejamos distantes destas soluções, isso é um tranquilizador frente a tamanho problema.

Sem dúvida um dos melhores livros que já li. Não tinha conhecimento profundo sobre a área e recomendo a todos que leiam.
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Samira 05/01/2021

Muito bom!
Muito interessante. Principalmente para os estudantes da área. Ele faz uma discussão que foi amplamente criticada de forma positiva e negativa. E faz sim necessária não só aos estudantes da área como para leigos.
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Jose.Maltaca 12/08/2020

Uma ode a uma sociedade mais justa e democrática
O Capital no Século XXI é uma obra monumental. Thomas Piketty, baseando-se principalmente no legado de Kuznets e adotando uma postura menos otimista que seu antecessor, conseguiu demonstrar cabalmente como funciona a estrutura da desigualdade nos países desenvolvidos. Publicado em 2013, o autor e seus colaboradores se empenharam em pesquisar e compilar toneladas de dados que não deixam lugar à dúvida: a concentração do capital e dos patrimônios dele provenientes cresceu assustadoramente desde meados dos anos 1980, e não há previsão de que esse fenômeno se reverta tão cedo. O que o autor prega veementemente, e cuja discordância implica automático alinhamento com o aval ao aumento desmesurado de fortunas, é que a democracia participativa precisa encontrar meios de ser mais bem expressa, de forma que todos tenham uma maior possibilidade de auferir justiça na distribuição dos frutos do progresso.

Um dos maiores trunfos de Piketty é separar a discussão da desigualdade: há a desigualdade nas rendas do trabalho e a desigualdade nas rendas do capital. Ele mostra que ambas são gritantes e carecem de políticas públicas para o seu enfrentamento, principalmente no segundo tipo de desigualdade – o que é particularmente bem evidenciado ao se analisar o retorno dos investimentos das universidades estadunidenses. Essa discussão é antecedida por um extenso trabalho de reconstituição histórica das origens das desigualdades e da evolução da participação do capital na renda nacional dos países em análise, demonstrando implicitamente como as estruturas sociais e os hábitos de pensamento foram influenciados e modificados pela percepção de como os capitais foram mais ou menos preponderantes ao longo do século XX. A título de ilustração, e aqui eu aplaudo sem reserva, o autor utiliza romances de ficção do século XIX e algumas séries contemporâneas, demonstrando como a cultura é um reflexo da realidade da época em que se vive, e que lições econômicas valiosas podem ser extraídas da arte e do entretenimento.

Piketty não somente descreve como a estrutura do capital funcionou e funciona, como também propõe políticas que porventura poderiam mitigar a sua preponderância nas estruturas sócio econômicas atuais. Em particular, a questão do imposto sobre o capital e do imposto sobre as heranças me pareceram ideias com grande potencial de atenuar o problema da concentração da renda. Porém, como frisa o autor, a vontade política se faz necessária, e nesse ponto a análise me pareceu ingênua e até otimista demais. Isso porque enquanto o Estado continuar capturado por interesses de quem detêm volumes exorbitantes de capital, não haverá qualquer alteração na legislação que os tolham ou prejudiquem. Prova disso é a própria carência de dados com que o autor se deparou ao empreender sua análise, o que mascara ou esconde os fenômenos que foram tão eximiamente descritos em O Capital no Século XXI – muitos países sequer possuem dados sobre o percentual do capital em relação à sua renda, tampouco dados sobre o total de patrimônios detidos por todos os indivíduos. A mensagem que fica, porém, é a de que o crescimento econômico baixo não comporta altos rendimentos do capital, de forma que este progressivamente vai comendo uma fatia cada vez maior do bolo da renda nacional. Somente uma democracia verdadeiramente participativa e que represente a voz da população pode produzir as políticas necessárias para que muitos não se tornem propriedades de poucos no século XXI, como vem acontecendo. Recomendo a leitura desta extraordinária ode à democracia, à informação e à justiça social.
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Daniel 12/04/2020

Complexo e interessante
O Capital no século XXI é um bom livro pra você ter uma breve noção da estrutura de distribuição de riqueza no mundo, diferenciando a renda do capital. O livro porém apresenta poucas conclusões, sendo bastante teórico, dados em gráficos que geram várias páginas apenas explicando esses gráficos. O lado positivo é que ele te fornece material pra tirar suas próprias conclusões, concordar ou divergir das conclusões do autor, tudo baseado em dados. Pra quem gosta de economia, vale a leitura.
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