jota 04/07/2016Será que Sophia Loren leu? Passado parte na Hungria e parte na Inglaterra, em Londres, A Pirâmide do Café é um daqueles livros do bem, que parece ter sido escrito por um anjo. Melhor, o italiano Nicola Lecca, seu autor, não é um anjo, mas nos entregou, com o órfão húngaro Imre (ou simplesmente Imi), um personagem cândido, que parece saído de um livro de fábulas.
Imi é cativante com sua bondade, sua ingenuidade, sua vontade de viver de acordo com certas regras que podem ser traduzidas como um modo ético de estar no mundo. É solidário, amigo, prestativo e incapaz, pelo menos até certo ponto do livro, de ver maldade na ação de algumas pessoas nem tão do bem assim que o cercam, especialmente em seu trabalho numa loja da rede inglesa de cafeterias, a Proper Coffee (fictícia, logicamente).
Livro merecedor de vários prêmios europeus, eleito pela revista Panorama como um dos 10 melhores romances italianos de 2013 (conforme consta na capa da edição brasileira), a delicada história de Imi tem vários lances emocionantes, proporcionados por ele mesmo e por alguns personagens secundários húngaros, do orfanato onde ele viveu.
Mas é sobretudo quando a ação se passa em Londres que vamos encontrar algumas passagens engraçadas, proporcionadas por duas mulheres mais velhas que ele. Elas se interessam em ajudá-lo quando as coisas se tornam meio cinzentas, como quase sempre está o céu da capital inglesa. A metrópole aos poucos vai se revelando não ser aquele lugar ideal com que Imi sonhava quando ainda vivia em seu país.
A razão de Lecca ter escrito este romance como escreveu está explicada por ele mesmo no final, que é quando ele também aproveita para esclarecer algumas questões, inclusive uma sobre certo prêmio que seria ofertado à conhecida atriz italiana Sophia Loren numa cerimônia em Nova Iorque. Personalidades, celebridades e escritores são citados aqui e ali: a escritora sul-africana Nadine Gordimer comparece numa noite de autógrafos em Londres e uma personagem (fictícia) premiada com o Nobel encomenda um livro do escritor sueco Stig Dagerman.
Bem, o que mais posso dizer sobre esse livro simples e encantador, que se lê em poucos dias, pois a partir de certo ponto é quase impossível parar sua leitura? Que eu o recomendo com entusiasmo para todos os leitores que apreciaram livros emocionantes como A Comédia Humana (William Saroyan), Como Era Verde Meu Vale (Richard Llewellyn), O perdido (Hans-Ulrich Treichel), O Garoto no Convés (John Boyne), Extraordinário (R. J. Palacio) e outros belos textos que não me vêm à memória agora.
Lido entre 02 e 04/07/2016.