GilbertoOrtegaJr 16/03/2016O pintassilgo- Donna TarttExistem escritores que eu sempre fico a um passo de ler; os amigos a quem confio me indicam, leio resenhas elogiando o livro, o autor é consagrado, a trama interessante e por aí vai. Neste caso só falta eu tomar vergonha na cara e ler. É o que aconteceu com o romance O pintassilgo o livro mais recente da escritora Donna Tartt, que só escreve um livro a cada dez anos.
Theo Decker é um adolescente nova iorquino de treze anos, que está com sua mãe em um museu quando há uma explosão no local, por uma bomba, deixando muitos mortos e outros gravemente feridos. A mãe de Theo morre nesta explosão, mas ele consegue escapar do museu e leva junto com ele uma importante pintura, sem que ninguém perceba. Após a perda da sua mãe, e sem ninguém no mundo que possa ficar com ele, já que seu pai o abandonou junto com sua mãe anos antes, Theo acaba indo morar com a família de um amigo seu da escola, sendo esta família de classe média alta. Ele também passa a se interessar mais profundamente sobre arte e antiguidade, influência herdada de sua mãe.
Depois de um tempo o pai de Theo reaparece na vida do filho e o leva para morar com ele e sua mulher em Las Vegas, onde leva uma vida nada conhecida pelo filho, que fica constantemente sozinho em casa sem a sua madrasta ou mesmo seu pai. E na escola ele acaba conhecendo Boris, um garoto russo que emigrou para os Estados Unidos. Theo e Boris logo se tornam amigos inseparáveis, e se considerarmos também o padrão jovem responsável: insanos, delinquentes que já que consomem drogas, e fazem várias maluquices.
E estas são as partes mais tocantes da narrativa; a amizade entre os dois, que rompem tudo, um companheirismo de melhores amigos que para mim Tartt consegue retratar de forma magistral, mas não somente de Theo com Boris, mas com todos os personagens que ele respeita ou tem algum afeto.
O livro acompanha a vida de Theo dos 13 aos 27 anos, e pode ser considerado em muitos aspectos como um romance de formação, mas a evolução de Theo me irritou profundamente; de um adolescente incrível ele se transforma em um homem cretino, malandro, drogado e por aí vai, mas me controlei, lembrando que se tornar mais velho não quer dizer necessariamente que seremos pessoas melhores, no que a autora foi coerente na jornada do personagem.
Um dos grandes motivos de queixa por parte dos leitores foi a extensão do livro de 728 páginas, e que ele flui de forma lenta e arrastada. Comigo aconteceu justamente o contrário, o livro fluiu de uma forma vertiginosa e me prendeu a ponto de chegar a ler 100 páginas ou mais por dia, mesmo tendo outras ocupações paralelas.
Ainda levando em conta a minha experiência de leitura, recomendo muito este livro, em especial para quem curte livros com tramas mais introspectivas e detalhadas, porque nestes dois aspectos Donna Tartt não poupa o leitor, tampouco poupa a si própria, pois ela está ali para contar uma boa história, e é isso que faz, independente de quantas páginas ou acontecimentos a levem para atingir seu objetivo. E justamente a partir desta força narrativa é que O pintassilgo faz com que o leitor passa de apartamentos luxuosos em Nova Iorque, a uma Las Vegas decadente, museus e antiquários, convergindo em um final peculiar e muito potente, transformando assim O pintassilgo em um dos meus livros favoritos desde o começo do ano.
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