Vanessa Meiser 15/01/2013http://balaiodelivros.blogspot.com/"Tinha saudades da vida que levara, mesmo que a considerasse medíocre. Uma vida comum, repleta de erros e acertos, tentativas e frustrações. Recheada também com algumas realizações notáveis, embora pouco visíveis deste ponto da estrada. Como tantas outras, tinha trechos inusitados e outros bem comuns, mas, ainda assim, maravilhosos." Pág 11.
Adalberto está com 88 anos. Sua esposa já é falecida, um de seus três filhos também, todos seus amigos já se foram, só lhe resta as duas filhas que são incansáveis com os cuidados ao pai que não faz questão alguma da atenção que estas dispensam a ele, ao contrário, Adalberto anseia pelo momento em que a morte virá lhe buscar e dar fim ao seu sofrimento que se arrasta mais e mais com o passar do tempo. Ele já não caminha, passa os dias sentado em sua cadeira de rodas na varanda do seu apartamento a olhar para as pessoas na praia em frente, cuida todo o movimento da rua, dos banhistas, dos que somente passam, dos que trabalham por ali, das prostitutas...
Adalberto não aceita ajuda de ninguém, mesmo já não podendo cuidar de si mesmo, não possui enfermeiras e nem cozinheira, suas filhas é que persistem no zelo mesmo contra a vontade do pai que não quer ninguém em sua casa onde a cada minuto que passa ele espera sem sucesso a chegada do 'momento mágico'.
Bem, este é basicamente o resumo do livro que, diga-se de passagem foi muito bem escrito por Márcio Leite, um talentoso autor baiano que se esmerou ao máximo ao por no papel sentimentos como pena, culpa, solidariedade e outros tantos.
O Momento Mágico nos traz considerações sobre o passado e o presente do personagem, filtrados pela visão de quem já viveu tudo o que havia para ser vivido e que percebe no seu corpo já inútil o preço cobrado pelo tempo passado. O tema abordado na trama nada mais é do que o significado da velhice com reflexões profundas sobre o fim da vida que levam o leitor a se emocionar a cada página lida.
“A filha ficou de passar mais tarde e deixar algumas compras. Comida! Para quê tanta comida? Mortos não engordam, não fazem dieta. Mortos fazem greve de fome. Ele tinha direito à sua greve de fome particular. Não queria morrer de barriga cheia. Consultara o manual dos mortos e lá estava escrito que era aconselhável adentrar o mundo dos desaparecidos com o estômago vazio”. Pág 23.