Pietra 01/02/2024
Uma agradável surpresa
Maluco, esse livro me deu um nó bom na cabeça. Ou seja, ele foi maravilhoso e engoli em menos de uma semana.
Nesse segundo volume da Saga dos Corvos, continuamos seguindo os cinco principais, mas com uma ênfase especial no Ronan, o qual descobrimos ter habilidades sobrenaturais no fim de Os Garotos Corvos. Assim como um rio se ramificando em diversos afluentes, a história começa seguindo um único rumo e logo se divide, explorando diferentes caminhos, para no fim desaguar no mesmo mar. A autora faz com que, simultaneamente, estejamos no rio principal e em suas ramificações, e talvez por isso ele pareça mais lento.
Digo isso porque ouvi muito que esse livro era devagar, que não avançava o plot. Muitas páginas para uma recompensa que não vale tanto a pena, e eu entendo. O plot principal, a busca por Glendower, realmente não avança muito, mas os personagens começam a ter vida. Afinal, não tem como escrever uma quadrilogia e entregar tudo no primeiro livro; se alguém vai se sacrificar por outro alguém, eu quero sentir isso doer porque vou saber o que eles significam um para o outro, eu li!
Vemos os personagens não apenas existindo, mas tendo opiniões, reagindo uns aos outros, errando, se redimindo, errando mais um pouco, e aprendendo a conviver com suas próprias emoções e sentimentos. A autora não tem medo de fazer um personagem querido ser um babaca, e isso é sensacional! As ações dele têm consequências, o modo de agir dele afeta os outros. Todos os personagens principais são tridimensionais, e os que não são nos deixam curiosos o bastante para querer saber mais.
O foco dado na questão de você ser cria de onde nasceu, uma consequência das suas condições, é tratado da melhor forma: nua e crua. A riqueza vai além do dinheiro, assim como a pobreza também. Foi uma delícia ver essas nuances florescerem nos personagens e finalmente serem colocadas pra fora, mesmo que pra isso o Adam seja um chato orgulhoso. Faz parte do personagem, se não fosse assim, não teria o mesmo impacto.
Assim como a Blue é *realmente* uma feminista enraivecida. Cheia de si e de não-me-toques. Achei ela insuportável por alguns capítulos até lembrar que ela tem 16 anos e sim, é assim que uma menina de 16 anos criada em um lar só de mulheres não conservadoras e exposta ao feminismo mainstream de 2013 agiria. Eu sei porque eu era igual.
São nesses detalhes que a história cresce dentro da gente. Isso sem mencionar a forma inteligente como tudo se amarra, como a magia se manifesta, e como é verdadeiramente incrível desvendar cada mistério e ficar ansioso para o próximo.
Ladrões de Sonhos fez o seu trabalho muito bem feito. Agora estou investida o bastante nos personagens, e em toda a trama de magia, mediunidade e mistérios, para querer começar o próximo volume voando.
Entendo que não seja um livro pra todo mundo por conta da narrativa difusa e o foco nos personagens, mas pra mim foi incrível. Melhor que o primeiro!