Higor 11/01/2017
Sobre livros bem planejados, mas que não despertam fascínio
Quando o leitor gosta um autor, é normal sempre criar expectativas com um novo livro, e mais, que tais expectativas sejam superadas, mas quando tal fato não acontece, a frustração é grande. ‘A vista de Castle Rock’ é, então, o caso de livro que, embora bem planejado, não desperta o fascínio existente com a leitura dos demais da autora, e certamente não é o melhor de Munro para se conhecer a escrita.
A premissa, claro, desperta a curiosidade: fruto de uma modesta pesquisa sobre seus antepassados, que viviam na Escócia do final do século XVIII, Alice Munro vai montar a própria árvore genealógica, a começar de James Laidlaw, até chegar à própria autora e como ela fora parar no outro lado do oceano, no Canadá.
O que poderia ser o ponto alto do livro, no entanto, se torna um enfado. As informações históricas são jogadas ao leitor com didatismo demais, que não se esforça para decorar os nomes ou saber sobre eles, e como progredirão no decorrer das histórias. Papeis fundamentais ou não, a citação dos personagens logo é esquecida.
O primeiro conto, ‘Sem proveito’ já começa árduo, entregando uma leitura sem ânimo do mais difícil ainda ‘A vista de Castle Rock’, onde conhecemos o desejo incansável e quase impossível de conhecer a América vive no coração de boa parte dos antepassados, que sonham sair da vida pacata e miserável de pastor de ovelhas, para ser alguém na vida. Outros, mais enraizados, preferem ficar ali, alimentando-se de mitos e patriotismo. É a partir daí que somos conduzidos a vida das próximas gerações.
As coisas ficam boas apenas no terceiro conto, ‘Illinois’, onde os personagens já estão do outro lado do oceano, e temos a enviuvada Mary, mudando para Canadá com o cunhado Andrew. A viagem se torna turbulenta quando o bebê de Mary some misteriosamente, e todos acreditam que quem a roubou foi à empregada, descendente de índio.
Sem mais contos memoráveis na primeira parte, somos conduzidos a ‘Lar’, a segunda e melhor parte, onde todas as histórias são da própria família de Munro. Quem leu ‘Vida Querida’, último livro da autora, e seus quatro contos intitulados de ‘Finale’, vai ficar feliz, devido a intensidade franca e conhecida com que a autora fala de seus pais e momentos marcantes na vida de todos.
Temos, então, uma Munro em dúvida se deve se casar ou não; assim como não sente saudades de casa e nem gosta tanto da madrasta. Relações adolescentes, a possibilidade de um câncer, a relação conturbada com a mãe... Enfim, a velha e boa Alice Munro, contanto sua vida em uma pausa deliciosa para o chá, mas, para apreciarmos o que há de melhor, precisamos vencer certos percalços, o que cansa o leitor menos paciente.
O mais fraco dentre os seis lidos da autora, ‘A vista de Castle Rock’ pode ser uma boa pedida para quem quer saber um pouco sobre a vida da autora, e todas as dificuldades enfrentadas por ela e a família. Em caso de primeiras leituras ou uma boa ficção, outras coletâneas se tornam mais pontuadas.
Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:
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