Josué Brito 11/03/2019
Convido-lhes a conhecer o homem
Convido-lhes a visão única e, em meu ver, precisa de Spinoza. Filosofo de descendência lusitana, ele reconhece o homem como corruptível, praticante de erros e movido pela paixão, pelos desejos. Baruch, entretanto, na sua visão de construção do real, negando utopias, não defende a total negação da paixão, mas a criação de mecanismos que nos tornem menos susceptíveis ao fracasso. Baseado neste homem falível, surge o Estado de Spinoza, um elemento civil que não aboli o direito natural e que permite ao homem, que na natureza não podia resguardar nem mesmo a sua vida, possa exercer algum direito. É um Estado factível.
O Estado de Baruch, baseado em sua visão de homem corruptível, objetiva-se por não destinar todo poder na mão de um único homem. Não é, em sua visão, impossível errar, o que se deve é construir mecanismos para que se torne menos possível o erro, por isso, sugere diversos conselhos representativos não vitalícios e rotativos para que o poder jamais se concentre. Para se abrandar o desejo são criados mecanismos de ascendência, de forma que o homem que defende o Estado estará defendendo o próprio interesse e sua oportunidade de ascensão. Em uma passagem, o filósofo anuncia: “nenhum homem defende o direito de outrem senão crendo estar defendendo seu próprio interesse”.
Em Spinoza é possível conhecer a natureza humana, discutir o melhor Estado, as bases do Estado e outros tantos temas que trataram antes dele Aristóteles, Rousseau, Hobbes, etc., com a diferença de se ter aqui um filósofo que busca construir aplicações práticas tal qual Machiavelli. Infelizmente, para nossa tristeza, o filósofo faleceu em 1677 deixando a obra ainda incompleta, de forma que não houve tempo hábil para descrever sua visão e princípios sobre a democracia. Teremos que nos contentar com a descrição da monarquia e da aristocracia.
Concordando ou não com todas as formulações de Spinoza, este livro é uma leitura mandatória para aqueles que querem entender o homem e compreender os governos atuais, seus escândalos e suas corrupções. Talvez nossa salvação como democracia seja revisitar os antigos teóricos. Spinoza tem muito que nos ensinar, falta-nos o talento para lê-lo.