Luan 30/04/2018
No quinto livro, série Gone volta a ter um livro relevante
Quantos livros uma história precisa ter para contar a trama de forma completa? É uma pergunta constante de diversos leitores. E também faço parte deste grupo. Várias vezes, quando me deparo com algumas séries, penso se é necessário ou não tantos livros. A série Gone é um dos maiores exemplos. Com uma boa sinopse e uma boa escrita de Michael Grant, a série tem seis livros no total, sendo cinco lançados no Brasil até agora. Mas é mesmo necessária essa quantidade toda para contar a história de uma redoma que divide Praia Perdida do restante do mundo, onde apenas crianças e adolescentes passaram a habitar?
Em Medo, o quinto da série, os moradores da redoma continuam tentando sobreviver as consequências de cada um dos atos dos livros anteriores. Mas agora os problemas parecem ter ficados mais graves. A morte do Pequeno Pete fez com que a consciência da criança ficasse pairando pelo local e gerando alguns acontecimentos estranhos. Ao mesmo tempo, o gaiáfago está em um momento decisivo. Ele precisa se fortalecer ao mesmo tempo que a redoma parece estar enfraquecendo. E para isso vai precisar de um novo e importante personagem.
Antes de tudo, é preciso dizer que o quinto livro é o melhor da série até aqui. Praticamente tudo funcionou. Grant parecia estar inspirando como nunca – ou como no primeiro, que foi tão bom quanto. Saltou aos olhos de mim, enquanto leitor, como o autor teve foco, objetivo e organização ao construir e desenvolver a história. Diferente dos volumes anteriores, que pareciam bagunçados, aqui vemos uma clara linha que conduz a história para um ápice grandioso e surpreendente.
Desde o início, o livro tem acontecimentos interessantes e que convidam o leitor a devorar as páginas. A história de uma redoma que separa adultos e jovens dos adolescentes, que ganham poderes estranhos, parece bizarra. Mas os assuntos abordados pelo autor fazem com que o leitor reflita sobre diversos acontecimentos do nosso cotidiano. Isso acontece em todos livros e está bastante presente no quinto volume. O que também ganhou destaque foram os personagens. Parecem estar mais maduros e conscientes. Poucas foram as manhas e birras que faziam a história perder o ritmo. Alguns mudaram de perfil, assumiram um tom mais condizente com os fatos e isso acrescentou muito à história.
Outro fator que ajudou muito o livro a ser o melhor até aqui foi uma novidade. Os capítulos de Medo agora são intercalados entre o dentro da redoma e o lado de fora. A gente passa a ter conhecimento de como o mundo e, especialmente, os pais das crianças estão encarando a redoma e tudo que aconteceu em mais de um ano desde que o fato bizarro os separou. E estes rápidos momentos fora da redoma também serão importantes para os momentos decisivos do livro, que deixa grandes consequências para o último volume.
Em função dos vários acontecimentos desde o início e de ser uma obra que, pelo menos parece mais organizada, o ritmo é alucinante. Eu devorei as quase 500 páginas em um período de tempo bem abaixo do que eu costumaria com um livro deste tamanho. O ritmo ajuda, a história ajuda e a escrita colabora muito. O texto de Grant não é o mais bonito, mas é para um público jovem e mesmo assim ele não subestima os jovens leitores – tanto na boa escrita quanto em acontecimentos fortes, detalhados, que podem até assustar os mais fracos de estômago. Mas certo é o autor ele tem o dom das palavras e sabe exatamente o que escrever para que o leitor sinta aquilo que ele quer passar.
Então, chegando ao fim da resenha, e respondendo à pergunta do primeiro parágrafo, não. Acredito que não fossem necessários seis livros. Talvez quatro seria o ideal. O autor conseguiria cortar gorduras desnecessárias, ter mais foco e objetividade. Mas essa é uma outra discussão. O que reafirmo é que depois de eu andar bastante desanimado com a série, Medo me deu esperanças com Gone para chegar ao fim por cima, de um jeito positivo e não com a imagem desgastada que eu estava depois de ler alguns livros que pareciam bagunçados.