Prof. Wollace Silva 08/02/2022
Brasileiro Europeu
O livro português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa de Marcos Bagno deveria fazer parte da estante não somente dos letrólogos, mas de todos os professores.
Em todo o livro, Bagno narra a depressão que existe entre o português e o que acreditamos ser a língua brasileira. Ao decorrer dos capítulos vemos o quão assustadora é a GT (Gramática Tradicional) que até hoje, é um dogma, é imaculada.
E é justamente sobre essa "perfeição" que o linguísta nos convida à refletir sobre o quão contraditória e excludente a deusa dos falantes conservadores pode ser por banir e negligenciar a Língua falada. Ouve-se muito falar sobre como o
português que falamos aqui no Brasil - especificamente nos estados Nordestinos - é
"errado", "sujo", ou como falamos diferente dos nossos invasores portugueses.
Bagno exclarece o quão patético é esse tipo de pensamento que muitos professores têm! Como o próprio diz: Achar que uma determinada forma linguística é mais certa do que outra, é a mesma coisa que achar que os homens são mais inteligentes que as mulheres, que os homossexuais são doentes e que os brancos merecem mandar nos negros.
É de conhecimento geral a naturalidade - ou não - que uma língua evolui! A palavra "escravo" por exemplo, que antes era escrito e falado "esclavo", ou o "Vossa Mercê" que hoje conhecemos como "Você" e que aos poucos, está sendo substituído pelo "vc" no discurso dos falantes são exemplos claros disso. É nesse quesito que os pregadores
da deusa GT pecam! Como posso invalidar o falante se é por causa dele que determinada língua existe? Afirmar que a língua evolui e não falar que ela é moldada e se adequa ao falante é no mínimo ilógico!
Algo que me chamou bastante atenção foi a exemplificação sensacional de Bagno já nas partes finais do livro. Das várias perguntas escritas, duas captaram toda a minha atenção. "E se ele - o falante - considerar esta sociedade injusta, excludente e discriminadora não merece o esforço do enquadramento?" Aqui está o porque - algumas - pessoas pretas não gostam quando são chamadas de "morenas" e/ou o motivo pelo qual - alguns - membros da comunidade LGBTQIA+ estão pregando o uso da "pronomização neutra". Ambos os grupos se sentem inferiorizados e/ou até mesmo discriminados por sua língua nativa!
A segunda pergunta que me fez pensar arduamente foi a seguinte: E se ele - o falante - quiser usar a língua como instrumento de crítica e contestação do modelo social vigente? Assim como Bagno pede em todo livro, aqui também peço que você leitor e principalmente professor, revise seus ideais para que não seja hipócrita. Acreditar que George Orwell em 1984 e Ray Bradbury em Fahrenheit 451 trazem críticas sociais incríveis, e que suas obras são impecáveis pela "ausência" de "erros" gramáticos e/ou "erros" de sintaxe, mas invalidar a crítica social feita pelos Rapers e Funkeiros nacionais pelo mesmo motivo, é de tamanha hipocrisia que beira o ridículo.
Por fim, gostaria de deixar claro que NÃO estou invalidando a GT! Sabemos o quão necessária ela foi e é. Todavia, o professor precisa lembrar que a função primordial da escola - além de transmitir os conhecimentos básicos - é de ajudar o estudante a produzir seu próprio conhecimento. O professor deve sim ensinar a "norma-padrão" visto que é de extrema importância que os alunos saibam, entretanto, não se pode forçá-los a usar as regras padronizadas todo o tempo! A língua é como roupa, usamos roupas diferentes em diferente ocasiões.
"[...] Falar diferentemente não é falar errado." - João Ribeiro