@apilhadathay 21/07/2012
L'Amour
Nenhum livro de Sparks me confirmou mais fortemente como a esposa de Nicholas é a mulher mais sortuda do mundo. “The lucky one” actually is Cathy Sparks. Recebi o livro e o kit em parceria com a Editora Arqueiro e agradeço demais à editora, pelo carinho!
Depois de quase 30 anos de casamento, Wilson Lewis percebeu uma verdade incômoda: sua esposa, a incrível Jane, não parece amá-lo como antes, e apenas entrando em seu passado sabemos por que isso mexe tanto com ele. O protagonista, que é o narrador desta história, é um workaholic que sempre pensou estar fazendo o bem à família trabalhando sem parar para garantir conforto e segurança no futuro, condenando o bem-estar do presente. Nunca fez o tipo romântico, como seus sogros, Noah e Allie Calhoun, casal que inspirou os filhos sobre como é um casamento ideal. E Jane parece ter dúvidas sobre sua escolha, se foi a certa. Wilson continua apaixonado, mas não consegue demonstrar, típico dos homens. Então, como reconquistar a paixão de sua esposa?
Jane simplesmente não queria que terminássemos como um daqueles casais de certa idade que às vezes víamos quando íamos jantar fora e que sempre nos despertaram pena. Devo deixar claro que esses casais em geral se tratam com educação. O marido pode puxar a cadeira ou tirar o casaco da mulher, ela pode sugerir um dos pratos do dia. E, quando o garçom aparece, eles podem completar os pedidos um do outro com a experiência acumulada ao longo de anos (...) Depois que o pedido é feito, porém, os dois não dirigem mais a palavra um ao outro... Passarão a refeição inteira sentados como dois desconhecidos que por acaso estejam dividindo uma mesa. (p. 22)
Este é um dos livros de Sparks mais fáceis de resenhar, porque traz uma autoavaliação consciente do narrador, um debate interno sobre o que teve de fazer versus o que deveria ter feito. Ao encarar o seu casamento minguante, Wilson procura o melhor amigo, o sogro Noah Calhoun. E como este é possivelmente o "Melhor Melhor do Mundo" no assunto romance, o protagonista percebe os pequenos detalhes que fizeram a diferença, e acabaram passando sem nota.
O descaso com datas importantes, a falta de tato e carinho, a ausência de comunicação, a troca da família pelo trabalho em prol da família, o romantismo e o companheirismo cedendo lugar à tolerância. Todos esses fatores geraram uma pintura tão desagradável que, se Wilson não fosse um Grande Homem, essa história teria terminado no Prólogo.
Mas acabei entendendo que amar é mais do que resmungar três palavrinhas antes de dormir. O amor é sustentado por ações, pela constante dedicação às coisas que um faz pelo outro diariamente. (p. 58)
A parte do livro que me cativou de fato foi a forma como o autor mesclou os problemas do presente com suas raízes no passado, flashes de momentos importantes que levaram ao hoje, a jornada de Wilson ao lado de Jane e por que valia a pena lutar por isso. Foi o ponto alto para mim, mesmo considerando o final mais-que-romântico e surpreendente. Afinal, quem [conhecendo a história de Allie e Noah] não lutaria por um Calhoun? São mais importantes do que eles mesmos imaginam.
Outro ponto positivo foi abrir o coração para três histórias de amor, uma mais diferente que a outra e todas interligadas, durante o livro: Noah e Allie, Wilson e Jane, Anna e Keith [os atuais noivos], casais que enfrentaram ou enfrentam dificuldades distintas e procuram seu caminho de volta ou de partida. Acima de tudo a realidade crua dos altos e baixos por que pode passar um relacionamento ao longo de muitos anos.
Já reparou que, quanto mais especiais são as coisas, menos atenção as pessoas parecem dedicar a elas? Parece que acham que elas nunca vão mudar. (p. 162)
Um ponto a pensar, para mim, foi a distância entre nós, leitores, e a própria Jane. Mesmo que o livro tenha sido narrado em primeira pessoa por Wilson [e eu realmente gostei quase tanto dele quanto de Noah, my endless literary love], não me senti próxima a Jane como a Allie, em “Diário de uma Paixão”. Sem dúvida, o afastamento entre o casal protagonista de O CASAMENTO era opressivo, o desconforto era palpável no ar, mas afora o flash do primeiro encontro, eu não senti Jane Lewis realmente ali. Pode ter sido impressão, mas gostaria muito de ler a história do ponto de vista dela, porque sei que ela tinha muito a falar.
Esteja pronto para a afinidade com as situações difíceis e também para as doses cavalares de romantismo desse livro, porque Wilson não parece ter limites. Os homens podem ler, mas acredito que é o público feminino quem vai se apaixonar pela história. Para homens como Wilson é difícil admitir o que sentem, demonstrar esses sentimentos em palavras e ainda mais em ações. Por alguma razão, homens assim acham esse tipo de coisa boba. Mas nós bem sabemos a diferença que faz um cara que se importa, não é, meninas?
Sabia que ele e mamãe costumavam dançar na cozinha? Uma hora estavam lavando a louça e, no minuto seguinte, estavam abraçados, bailando... Quando fiquei um pouco mais velha, Kate e eu sempre riamos ao vê-los fazerem isso. Apontávamos para eles, dando risadinhas, mas eles riam também e continuavam dançando como se só existissem eles no mundo. (p. 193)
Fofo e adulto. Não é o meu favorito de Sparks (segue sendo Diário de uma Paixão), mas para quem amou The Notebook e acha que viu de tudo com Noah e Allie, esperem só para conhecer Wilson Lewis. Ele também vai conquistar você.