Mateus 04/03/2016Melhor livro de entrevistas!!!!!!!Sou um comprador compulsivo de livros. Logicamente, em meus passeios, sempre procuro incluir uma visita a uma livraria, biblioteca, sebo ou qualquer outro espaço em que os livros são o atrativo principal. Em uma dessas curtas voltas literárias, encontrei Fama e Loucura, do jornalista Neil Strauss, pela metade do preço original. Embora atraído pelo exemplar ali exposto, não o adquiri de imediato.
A cada vez que visitava a livraria, eu me encantava por ele, mas não o suficiente para fazer parte da minha coleção particular. Até que em uma oportunidade, resolvi abri-lo em uma página aleatória. Acabei na cena em que o cantor Ernie K-Doe pedia ajuda à polícia para impedir que o autor saísse de seu bar com o gravador, pois supostamente o jornalista teria gravado algumas canções sem a autorização do músico. Arrebatado pela história e querendo mais causos do universo musical, decidi, após dois meses de flerte, levá-lo para casa.
Ao contrário da primeira impressão generalizada, Fama e Loucura Entrevistas Censuradas com os Maiores Artistas do Planeta, não é um copilado das melhores reportagens e entrevistas de Strauss, repórter imerso no universo o musical há mais de vinte anos, trabalhando em importante veículos, como o The New York Times e a revista Rolling Stone. Também não é algum daqueles exemplares cujo único objetivo é criar polêmica sobre o comportamento dos maiores artistas da música. São minutos de entrevistas não aprovados pelos editores de Neil, que narram as experiências mais incomuns que o jornalista teve com os músicos. Como ele mesmo define, não é um livro sobre celebridades, mas sim sobre a natureza humana.
A estrutura do livro é diferenciada de outros volumes de gênero parecido. Primeiro, as datas das conversas não são divulgadas, mas é possível saber em qual época a entrevista foi realizada por meio de detalhes da carreira da celebridade, seja por lançamento de álbuns, turnês ou acontecimentos na vida do famoso. Os títulos dos capítulos e as cenas neles retratadas possuem um tom de irrealidade, algo nonsense, com informações picotadas que são complementadas ao decorrer da escrita, algo que flerta com o jornalismo gonzo, já que não é a objetividade que importa, mas a construção da cena e do personagem entrevistado.
Mesmo com as constantes adversidades em seu trabalho, Neil consegue se envolver com os entrevistados, participar de suas atividades rotineiras e com isso ganhar a confiança dos artistas. Neste ponto, está um dos méritos do livro. De maneira involuntária (ou não), Fama e Loucura oferece dicas e instruções de como o jornalista deve estar preparado para lidar com as mudanças de comportamento do entrevistado em seu trabalho, bem como ter a malemolência de saber se adequar ao quadro desenhado. Pois se não for assim, de que outra forma Strauss conseguiu atirar com Ludacris, andar de helicóptero com a Madonna, comprar fraldas com o Snoop Dogg, entrar na mesma banheira que Marylin Manson, jantar com Gwen Stefani e beber com Bruce Springsteen?
As conversas replicadas no livro são bem contextualizadas, seja na ambientação do local ou no momento pessoal do artista no momento da entrevista. Algo interessante a ser notado é a ressalva das celebridades em responder questões devido ao medo de ter sua fala distorcida ou se auto mutilam com as opiniões negativa da imprensa, como é exemplificado na entrevista com o cantor Jack White:
Rebelando-se, você se dobra ao sistema de forma negativa. Você ainda está permitindo que o sistema controle o seu comportamento
Jack: Viu, quando você for embora vai dizer: Sabe, o White Stripes vai ter problemas, porque vai ter continuar tendo de combater toda essa gente, e isso só pode acabar mal para eles.
Talvez seja a natureza humana, mas percebi que você pode receber mil elogios e uma crítica, e só vai se lembrar da parte negativa.
Jack: Gosto de aprender com maus exemplos. Gosto de aprender o que não fazer. Então consigo apreciar o comentário negativo. Acho que o aprecio mais do que cem comentários positivos. (Pg 378)
Se a primeira vista o volume do livro assusta (são mais de 500 páginas), por ser constituído por entrevista, ou seja diálogos, Fama e Loucura é uma leitura fluída, e a diagramação somada com as ilustrações proporcionam momentos agradáveis e prazerosos. Além do mais, há a possibilidade conforme seja seu ritmo de leitura, de ler no início ler somente os trechos de entrevistas de seus artistas favoritos, e logo uma história é amarrada a outra, e quando você percebe, já apreciou o livro por inteiro. Meu receio inicial em adquirir o título era ligado ao fato de apreciar a música apenas como um momento de lazer, sem me preocupar com os nomes dos integrantes de minhas bandas favoritas. No entanto, ao terminar o livro, percebi que Fama e Loucura não é apenas sobre conhecimentos do mundo artístico ou uma celebração do sucesso das celebridades, e sim um perfil do que há de humano e imperfeito no universo delas.
site:
http://blogdialogos.com/2016/03/25/resenha-fama-e-loucura-de-neil-strauss/