Resenhas - O Mestre e Margarida

João Pedro 08/04/2024

O diabo é quem sabe
Essa leitura me pôs a pensar sobre rótulos, porque "O mestre e Margarida" não é nem de longe o tipo de livro que eu esperava de um clássico da literatura russa. Se minhas experiências anteriores tinham sido bastante satisfatórias com Dostoiévski e Tolstói (esse, um dos meus favoritos), é natural que eu tenha iniciado o romance de Bulgákov com algum tipo de expectativa. Afirmo: foi maravilhoso ver minhas preconcepções serem desmanteladas de uma forma tão divertida e inusitada como é a história narrada nessa obra.

O próprio mote do romance não é nada peculiar: o diabo visita Moscou, acompanhado de uma trupe bastante incomum (dentre elas um gato preto falante com jeitos humanoides e uma bruxa que só anda nua), e, sob o pseudônimo de Sr. Woland, inicia uma série de atos extraordinários que põe de cabeça para baixo a vida dos cidadãos da capital russa.

A primeira parte do romance tem como foco o emaranhado de confusões armadas por Woland e seus seguidores, que, sob o pretexto de montarem uma apresentação teatral de magia negra, se valem de incontáveis ações escusas, que levam uma série de personagens à internação em uma clínica psiquiátrica. Já a segunda parte dá um salto para o surrealismo e a fantasia, e tem como centro maior as personagens Margarida e o mestre (que aparecem timidamente na primeira parte). O enredo, apesar de parecer extenso e por vezes confuso (são muitos personagens afetados pelas peripécias do capiroto e os nomes russos não auxiliam), está todo interligado, inclusive com uma história paralela sobre Pôncio Pilatos que daria, por um só, outro romance magistral.

Essa é, sem dúvida, a obra-prima da carreira de Bulgákov, que ele finalizou no seu leito de morte, em 1940, e só foi finalmente publicada no final dos anos 1960. Uma faceta interessantíssima da literatura russa que vale muito a pena ser conhecida.

Pedro 21/03/2024

Fausto da shopee, ou o Fausto russo, apenas um bom livro, o autor escreve bem e o livro se torna bem claro, mas sua visão a união soviética impacta o livro de forma negativa

Márcia 10/03/2024

E se o diabo visitar sua cidade? O Mestre e Margarida.
Fascina-me a força que Bulgákov teve com o Mestre e Margarida, leitura do Comfy Book Club, por saber que ela jamais seria publicada na Rússia de seu tempo. E por quê? O livro foi escrito entre 1928 e 1940, ano de sua morte, mas só publicado no Ocidente no fim dos anos 1960 e em 1973, na Rússia. Já sabemos o que ocorria naquele momento: a Revolução Russa, perpetrada em 1917, com Stalin, o grande carrasco, assumindo o poder em 1927.

Bulgákov era um escritor satírico, o que era inadmissível naquela Rússia, uma vez que o Partido exigia que as Artes deveriam exaltar a Revolução, tornar o mundo soviético superior ao capitalista. Só que o livro usa de sátiras, alegorias e comicidade para justamente criticar essa Rússia (ateísmo, vaidades humanas, pobreza de caráter, ambição). Para fazer essa crítica, o autor faz o diabo e seus séquitos (gatos, vampiros) visitarem Moscou e uma grande confusão se segue. Como?

Dois amigos se encontram no Lago do Patriarca: Berlioz, editor de uma revista de artes e presidente de uma associação também de artes, e Ivan, um poeta, que havia recebido a incumbência de Berlioz para escrever um poema contestando a existência de Jesus. É nesse momento que Woland, o diabo, aparece, na forma de um estrangeiro, para dizer que sim, Jesus existiu e ele mesmo esteve presente em todo o processo de sua condenação e começa, então, narrando a história com Pôncio Pilatos. O livro vai seguindo essa estrutura: ora em Moscou, ora na época de Cristo.

As pessoas que eram afetadas por Woland tinham um fim trágico, mas eram todas corrompíveis. Porém, havia um mestre que estava escrevendo justamente a história de Jesus e que não pôde ser publicada (autobiográfico? Há muito no livro) e sua Margarida, casada com homem rico e infeliz, que se apaixona por ele e faz uma reviravolta na história. O diabo precisava dar uma festa e tinha que levar uma Margarida e escolhe essa. Para salvar o Mestre, ela aceita ser a anfitriã.

Bom, não tenho espaço aqui para o tanto que essas 393 páginas apresentam. Bulgákov foi um gênio, a ponto do próprio Stalin lhe dar um emprego em teatro, uma vez ele que não conseguia seu sustento por suas obras sempre serem censuradas.

Dida 09/03/2024

?- Pois bem, quem és então?
Sou parte da Energia
Que sempre o Mal pretende e o Bem sempre cria?

Essa epígrafe do Fausto contida no início desse romance nos dá uma prévia do que vamos encontrar nessa história. Pelo nosso imaginário moldado mesmo sem querer pelo cristianismo, sempre imaginamos o Diabo como uma figura ruim, que representa o mal e tudo o que não presta. Aqui, não necessariamente. É claro que, ao imaginarmos o diabo e sua trupe fazendo um passeio por uma das maiores cidades do mundo, é de se esperar que as coisas fujam do controle, que o inexplicável aconteça, e isso de fato ocorre. Esse é um livro que, a meu ver, foge completamente do que costumamos pensar quando falamos de literatura russa. É um livro que usa o humor como escape, para satirizar os acontecimentos da época em que foi escrito, a Rússia da década de 30, período Stalinista. O autor pôs neste livro um grande quê de autobiográfico, que é recomendável, ao meu ver, saber para que a leitura seja de todo compreendida ao final.
O diabo e seu séquito, composto de uma mulher ruiva nua, um estranho com um dente canino sobressalente, um com óculos quebrado e sem lente, e um grande gato gordo que não só fala e anda nas patas traseiras, mas que também é um dos personagens mais engraçados, vão aqui, além de entrar numa discussão acalorada sobre a existência ou não de Jesus - o diabo a afirmar que sim -, irão demonstrar que a falsa sensação de que tudo funciona perfeitamente e todos vivem felizes é uma grande farsa. Irão expor a ganância das pessoas, ridicularizar a burocracia, e, acima de tudo, condenar pecados e salvar alguns personagens. O mais incrível desse livro é que, além do humor, ele tem duas linhas de narrativa, que só depois entendemos o porquê. É um livro genial, engraçado, bem escrito, com uma história completamente maluca e com acontecimentos que são bem a frente do seu tempo.
O autor, assim como o Mestre do livro, só publica a obra após sua morte, devido às reprimendas que sofreu em vida por causa das críticas feitas no livro.
?Os manuscritos não ardem?, diz o Diabo ao Mestre. E de fato, os dele, que dedicou os últimos anos de sua vida ao romance, perduraram até hoje, se tornando um dos livros mais lidos da Rússia.

Maria17758 07/03/2024

Inteligente, super divertido e engraçado, mordaz, subversivo?. E, em meio a tudo isso e muito mais, ainda consegue conter uma história de amor belíssima e meio autobiográfica, baseada em uma história de amor igualmente bela. Esse livro é sem igual, brilhante mesmo.
Só não dou 5 estrelas porque a segunda parte foi um pouquinho arrastada e, como eu não ando tendo muito tempo ou força de vontade pra ler, essa segunda parte acabou sendo um pouco penosa em alguns momentos.
Mas, como se não bastasse ter terminado o livro encantada, o posfácio da edição só me envolveu ainda mais. ?Fica-nos, porém, a imagem deste autor, em seu leito de morte, ditando? emendas a uma obra que ele sabia ser impossível publicar na época. Segundo a viúva, disse quando estava morrendo: ?talvez isso esteja certo. ? O que mais poderia eu escrever depois de Mestre???.

André Figueiredo 03/03/2024

Criativo
Um livro um tanto fora da caixinha. Não apenas por tratar da situação insólita do capiroto e sua trupe dando rolê por Moscou e zaralhando geral - tipo de coisa, aliás, que os Neil Gaiman da vida fizeram bastante décadas adiante e este livro mostra que eles não inventaram a roda - mas também por se tratar de uma história entremeada por outra. Um artifício que gera estranhamento a princípio, mas cuja quebra de ritmo e expectativa é agradável e fisga ainda mais o leitor por conta da situação e personagens para os quais a segunda história nos leva.

As poucas e boas que a trupe demoníaca apronta são interessante e divertidas. Mas nem sempre. Assim como o livro como um todo, que poderia ser mais enxuto. Aqui e e acolá sobram também elementos e descrições que parecem sem função.

Ainda no campo dos problemas, se por vezes, principalmente no início, onde o livro brilha, a escrita é adorável, há alguns poucos trechos adiante onde ela é simplesmente pobre. Mas isto é um defeito pontual.

Há também uma certa sensação geral de coisa mal amarrada. Mas isso é difícil de definir e nem todo leitor vai terminar com esta sensação. O livro definitivamente não obedece o formato comercial moderno, de best seller, e pode causar estranheza em parte do público. Porém, tem o mérito de nos deixar um gosto saboroso na boca ao terminar e nos manter pensando a respeito durante um bom tempo. Sobre os personagens, a "moral da história", as possíveis críticas ao período stalinista, etc.

Um bônus é a capacidade do autor de criar algumas cenas que nos transportam visualmente para elas. E como algumas, grandiosas, pediam desesperadamente por isto, esse talento vem bem a calhar.

Um livro com personagens cativantes e situações muito curiosas que creio valer a pena ser lido.

Obs.: evite ler as orelhas desta edição antes de terminar a leitura.

Obs.2: Se não estiver acostumado com nomes russos, tenha especial atenção a eles. Não é difícil confundir personagens ou esquecer de quem se está falando, uma vez que os nomes não são familiares ao falante de português e o uso de nomes, sobrenomes, cargos, apelidos, etc. não facilita.

Alessandra.Jungblu 03/03/2024

Uma história inusitada
Sempre amei a literatura russa, mas O Mestre e Margarida é algo realmente inusitado. Apresenta Moscou sendo invadida por um bando de seres estranhos, entre eles o Satanás (chamado Woland), causando estragos por toda a parte e bagunçando a vida de vários cidadãos. Aparentemente por pura diversão. Apesar disso, tudo parece ter um objetivo no final: selar o destino do Mestre e sua amada Margarida. Margarida foi a escolhida de Satanás para um baile muito doido e o Mestre foi o autor de um livro sobre Pôncio Pilatos que vai fazer todo o sentido no final da história. Destaque para o capítulo 29, quando Woland recebe uma visita inesperada e atende a um pedido especial...

Carolina2054 25/02/2024

Manuscritos não ardem
O que podemos dizer de uma obra genial? Acho que começo dizendo que somos extremamente felizes de esta obra não ter ardido (foi por pouco)
Se trata de uma sátira, narrando uma visita do diabo a Moscou Stalinista. E quando digo sátira, digo no sentido de um nunca tinha GARGALHADO com um livro quanto gargalhei com esse

Não vou entrar muito na história porque acho que esse é um dos livros que é melhor quando tu não sabe muito sobre antes de ler. Mas vou dizer que ele é uma obra de arte, se entranhando com a vida de um autor censurado, acabando com o conceito de bem e mal, de ficção e realidade.

Dica: antes de ler, tenham uma ideia geral de Paixão de Cristo, é um dos 3 ramos da história deste livro que se enrosca fenomenalmente com o resto da história

stcarvalho0102 31/01/2024

Livro excelente para iniciar a leitura de Bulgakov.
Os temas tratados e os personagens apresentados criam uma atmosfera intrigante.
Ficamos com vontade de terminar o livro de uma sentada.
Recomendadíssimo!

Luciana 29/01/2024

O livro começa bem, com excelentes diálogos, aí o diabo resolve passear por Moscou e desandou tudo para mim. Histórias que se demoram com detalhes desnecessários, nem o humor salvou. As partes de Jerusalém são bem cansativas. E nem mesmo quando as histórias se entrelaçam no final fica interessante.

Anthoni.Brunetto 24/01/2024

Os manuscritos não ardem
Espécie de Fausto russo e considerado um dos maiores romances do século XX, com uma mistura de sátira política, fantasia e misticismo, O Mestre e Margarida é um romance divertidíssimo, cômico e surpreendente em algumas partes.

Confesso que tem um ou dois capítulos que a leitura se torna um pouco maçante, pois aborda outra história em outra linha temporal, mas o ponto alto sem dúvida é Satã e seu séquito infernal que viram Moscou de ponta cabeça.

Margarida também é uma personagem forte, interessante e decidida, mas o personagem que mais gostei, sem dúvida, foi o gato Behemoth, que apronta muito, é inteligente e sarcástico.

Foi uma leitura prazerosa, fluida, além de toda a história real que envolve o processo de escrita do romance e sua publicação que vale a pena conferir.

Suellen144 23/01/2024

Um gato que paga passagem no transporte público
Queria ler este livro há muitos anos, mas acredito que li no momento certo. O primeiro ponto importante é que, apesar de ser uma obra russa, em nada se assemelha aos clássicos russos famosos, então não espere algo como Crime e Castigo ou Irmãos Karamázov.

O livro é uma sátira que conta a história de satanás e seu séquito aprontando várias confusões em Moscou. Ao mesmo tempo, também desenvolve a história do mestre e da Margarida, que apesar de darem nome ao livro, não são, ao meu ver, protagonistas da história.

O livro é como um compilado de contos das peripécias demoníacas e é muito divertido e confuso, o que torna o livro ainda mais especial. Ri bastante com Behemoth e seu senso de humor irônico, principalmente na cena do tiroteio, que é uma das melhores, na minha opinião.

Adoro livros confusos e que não tem um enredo muito claro, então obviamente gostei desse também. Se você gosta de Neil Gaiman, Alice no País das Maravilhas e dos filmes do Tim Burton, acredito que você vá amar esse livro.

Tefi 18/01/2024

O caos, o Deus e o Diabo
Antes de falar sobre o livro especificamente, preciso fazer duas considerações sobre as minhas leituras, primeiro que sou uma entusiasta da literatura russa e sempre busco ler seus clássicos, segundo que esse livro faz parte do Rory Gilmore Book Project, em que estou lendo todos os livros citados em Gilmore Girls. Disse isso para deixar claro que: sabia que o livro era um grande clássico russo, sabia que era a história do diabo em Moscou, e só. Não sabia quem era o mestre e nem Margarida.

A estrutura do livro é diferente de outros russos e de qualquer livro que tenha lido, é uma confusão entre o que é real ou não, entre o passado e o presente e e uma confusão de personagens com nomes parecidos - li no kindle, mas acho que a leitura teria sido melhor e mais fácil no físico, em que se pode voltar para os trechos e checar quem é cada personagem, além disso, é bom escrever em uma folha o nome deles e quem são, porque tem MUITOS personagens e isso acaba confundindo na hora da leitura.

Sobre a história, o início, apesar de um pouco truncado e do nada começar uma história sobre Pôncio Pilatos, dá o tom do livro: caótico. São muitos locais, muitas coisas acontecendo, muitos personagens. E tudo é proposital. Essa sensação de caos, de estar perdido, de se questionar o que é real ou não, penso ser um dos objetivos do autor a escrever a obra.

Durante todo o início também me questionei quem eram o mestre e a Margarida e quando apareceriam - eles demoram um pouco, mas vale a pena a espera. A primeira parte demora um pouco a "engrenar", mas depois que entra na obra, é fácil ficar apaixonado e se perder nela.

O livro não é fácil, é preciso paciência, repertório, é uma história densa, mas ao mesmo tempo genial. São inúmeros enredos, camadas, em uma obra que busca criticar e satirizar a sociedade. Recomendo a leitura.

JP Orsi 02/01/2024

Ganância, orgulho e vaidade ???
Demorei para finalizar este livro, mas com toda a certeza, tornou-se meu livro favorito. Ganhei de presente e acredito que farei o mesmo com outra pessoa próxima. Este livro vale a pena ser lido, acreditem.

Carol 30/12/2023

Difícil
Pra mim, foi uma leitura difícil nas 250 primeiras páginas. Dps, engrena. Leria novamente, vale o esforço, mas não é bolinho não. Nem sei se entendi 1/3 do livro.