IvaldoRocha 29/05/2023
Bom demais, pode-se dizer que é um livro dos Diabos.
Foram doze anos para ser escrito, e até próximo de sua morte, Bulgákov, já impossibilitado de escrever, pedia a sua esposa que fizesse seguidas correções no livro. Uma noite chegou a fazer com que ela o ajudasse a se levantar, com todas as suas dificuldades de locomoção, para que pudesse ver o manuscrito, com medo de que ele tivesse sido queimado.
Um livro incrível, terminado em 1940, só veio a ser publicado na Rússia em 1973. Perseguido pelos órgãos de imprensa soviética, Bulgákov, não conseguia publicar nada nem conseguia apresentar suas peças de teatro, embora fossem muito apreciadas pelo público. Já em desespero escreve para o próprio Stalin pedindo que permitisse que ele e sua mulher (Ielena Serguêievna a terceira esposa, coisa que havia sido predito por uma cigana) migrassem para fora da Rússia, ou que lhe fosse concedido um emprego mesmo que braçal no Teatro de Moscou, para que pudesse sobreviver. Bulgákov recebe um telefonema pessoal de Stalin lhe oferecendo o cargo de vice-diretor do teatro.
Projeto editorial muito bom, com notas na medida certa, observando uma série de detalhes, como nomes utilizados em personagens, que correspondiam a escritores e literatos da época, além de várias referências a prédios e localidades citados que tinham algo em relação a vida de Bulgákov, talvez a maior dificuldade na leitura sejam os nomes russos, mas afinal quanto a isso nada se pode fazer.
Um importante editor de uma revista de artes e nada menos que o presidente da maior associação literária de Moscou a Massolit, Mikhail Berlioz, tenta explicar e convencer o poeta Ivan Nikoláievitch de que o poema encomendado sobre Jesus Cristo, que obrigatoriamente deveria ter um conteúdo antirreligioso, apesar de apresentar um Jesus Cristo de cores muito negras, não atendia ao seu propósito, afinal o objetivo não era dizer se Jesus era bom ou mau, mas sim que ele nunca existiu.
Enquanto discutiam, sentados em uma praça de Moscou, um cavalheiro sentado em um banco ao lado, pede desculpas e solicita participar da conversa a qual julga extremamente interessante e científica, afinal estão discutindo a existência ou não de Deus e ele entende bem sobre isso.
Pronto, a partir daí, as coisas mais absurdas e impensáveis irão acontecer, pois o demônio e sua trupe acabaram de chegar à cidade. Uma satírica da sociedade Moscovita, com suas dificuldades e o jeitinho de resolvê-las, como achar onde morar, o dinheiro sem lastro e de pouco valor, a corrupção, o uso de cargos políticos, as denúncias anônimas etc.
Enfim um livro fantástico, uma visão russa do “Fausto” de Goethe.
“O que sempre o Mal pretende e que o Bem sempre cria”