Hildeberto 16/07/2019Segundo o "Livro da Literatura" (Editora Globo), O Mestre e Margarida "[...] pode ser interpretado como uma validação histórica de dogmas religiosos, uma crítica a regras exageradamente burocráticas e uma sátiras às autoridades soviéticas [...]".
Além disso, a descrição da quarta-capa diz que ele "é um livro com estilo absolutamente original, sobre a liberdade da escrita e a força do amor em tempos adversos".
Comprei o livro justamente por esses elementos e não posso esconder minha decepção com o que li. Não sei se foi a tradução da edição Editora Alfaguara (dizem que a tradução da Editora 34 é melhor), mas achei a escrita truncada e sem fluidez. Estava procurando algo que beirasse ao absurdo, mas que fosse bem construído. Não encontrei. A primeira parte do livro narra diversos acontecimentos com moscovitas que encontram Woland, o demônio, e seu séquito. Sua contribuição para a narrativa é mínima. A segunda parte da narrativa centra-se na Margarida e no mestre do título, em uma festa que o demônio deu e no desfecho do livro. Por fim, alguns capítulos retomam a Jerusalém da época de Jesus e contam uma versão da crucificação de Cristo.
Há alguns elementos interessantes, como um gato sarcástico, a narração de um estória dentro de outra estória, personagens absurdos e misteriosos. Mas, apesar de tudo isso, o livro é pífio. É uma coletânea de elementos que Bulgákov considerava interessantes, mas não formam um todo coeso. O começo não leva ao meio, e este não leva ao fim. Não há nada. Apenas uma coletânea de momentos bizarros.
Alguém poderia dizer que trata-se de um romance escrito para ser no-sense. Sou fã do gênero e, de fato, algumas passagens são deliciosas: um terno que não para de trabalhar, pessoas que cantam a cada dois minutos, baile dos mortos... Enfim, há coisas legais no texto. O problema é que "O Mestre e Margarida" não é uma coletânea de contos; é, ou deveria ser, um romance. E mesmo para os padrões no-sense, deveria haver um mote, uma ideia comum que trespassasse todo o texto. Simplesmente isso não acontece nesse livro. Em diversos momentos nota-se que o autor tentou criar essa conexão, mas não conseguiu. Talvez tenha morrido antes de concluir ou revisar completamente a obra. Mas isso não muda o resultado.
Não posso dizer que foi uma experiência agradável. Foi um pouco monótona e, para uma "leitura divertida de férias", não atendeu as expectativas. Pessoalmente, acho que não faz jus a fama de grande obra da literatura mundial.
E, não esqueçamos, manuscritos queimam. Ideias não.