Roberta - @rkrutzmann 01/10/2014{Resenha} A-LIIDepois de toda propaganda que eu fiz de A-LII aqui no AT, vocês já deviam imaginar que ele logo seria uma das minhas próximas leituras, não é verdade? E olha que foi uma grande novela conseguir o meu exemplar, porque o livro só foi vendido na Bienal de São Paulo, e eu estava aqui no RS. Por isso pedi para uma das meninas do grupo de "fãs" da Macedo me comprar o livro, mas o banco simplesmente não deixava eu fazer a transferência para ela. No final foi outra pessoa que comprou ele pra mim e me enviou. Fiz tudo isso por um livro? Sim! E faria de novo. Comprei A-LII com as expectativas lá no alto, estava até um pouco receosa de acabar me decepcionando, ou de finalmente ler algo da autora e acabar perdendo o encanto que tenho por ela. Porém a Macedo não decepcionou, fez algo pior, fez com que minha admiração por ela aumentasse e que me apaixonasse por sua história.
"Obviamente esse episódio nem ao menos tinha acontecido para a maior parte da população. A mídia conseguira desviar o foco do povo com esportes, novelas e programas ridículos, como sempre."
O livro nos conta a história de A-LII, ou A52 ou Allie, um clone criado pelos humanos para servir, nada mais. Não foi criada para pensar, nem para sentir. Era torturada das mais diversas, e horrorosas, formas possíveis, e mesmo assim deveria de permanecer calada. Pois a ensinaram desde o início que ela não era nada e que isso era tudo o que ela merecia.
"infelizmente, minha opinião não importa.
Eu não fui criada para pensar. Questionar não é parte de quem eu sou."
Ao mesmo tempo conhecemos Will, um garoto que vive em uma família problemática, onde o pai é um bêbado ordinário, a mãe se prostitui para tentar trazer algum alimento para casa e Will tenta criar seus irmãos pequenos da maneira que consegue. Ele ainda é treinado pela Voz, governo que surgiu depois das últimas guerras, para virar um soldado para poder ajudar no combate contra os rebeldes.
"Não, a vida não é justa.
Nem simples.
A verdade é que crescer é uma bosta."
Allie acaba sendo surpreendida ao ser resgatada do centro pelo Dr. Alec Muniz, mas ela não consegue entender porque ele fez isso, afinal, ela é um clone, não é digna nem de olhar nos olhos dos humanos sem ser punida. Mas ela descobre que seu salvador não é de todo um herói. Mesmo assim, em seu novo "lar", ela descobre várias coisas que fazem sua visão do mundo mudar. Muniz possui uma biblioteca, o que foi a muito tempo proibido pela Voz, e é lá que Allie descobre o que significa liberdade.
"- O que está lendo? - ele perguntou, olhando para capa queimada do meu livro.
- 1984, senhor. - respondi-lhe - o título me chamou a atenção.
Diferentemente dele, eu lhe devia explicações.
- Por que? - ele perguntava, arqueando uma sobrancelha.
- Pois são só números, senhor, assim como eu."
Will e Allie não sabem, mas tem em comum o ódio pelo governo que acabou por destruir suas vidas e, tudo o que querem é vingança. E é na busca por ela que seus caminhos acabam se cruzando.
"Eu tentei quebrar o silêncio.
Mas o silêncio me quebrou."
A história tem seus capítulos intercalados entre Allie e Will, ambos contados em primeira pessoa. Dessa forma, temos acesso imediato a todo o sofrimento pelo qual passam, e já digo uma coisa à vocês, este não é um livro escrito para ser bonito. Foi escrito para causar choque, indignação e acender uma pequena fagulha de revolta em você, que possa vir a virar um incêndio.
"Então peço que se ergam.
Lutem, se puderem lutar.
Ajudem-se, se puder ajudar.
Munam-se de todo conhecimento que puderem.
Agradeço a atenção de vocês, e peço-lhes:
Não deixem que nos calem."
O trabalho da editora com a diagramação está impecável, foi com certeza um dos livros mais lindos que já li e, por isso, não resisti e tirei fotos para mostrar à vocês.
Porém, uma das coisas que me incomodaram muito durante a leitura foram os erros de revisão. Isso nunca tinha me chamado a atenção em nenhum livro, pois muitas vezes eu nem percebo, ou é só um e não ligo. Mas em A-LII foi impossível ignorar porque chegou um momento que tinha quase um erro por página. Mas isso é a minha única reclamação, porque de resto, tanto a autora quanto a editora estão de parabéns.
A-LII foi um tapa na cara da sociedade, na minha opinião. Por mais que a "realidade" do livro seja muito diferente da nossa, percebe-se claramente a crítica que a autora faz a nossa comodidade, ao nosso silêncio perante tudo o que está errado. E isso me fez querer aplaudir em pé quando terminei o livro.
"- O que você quer dizer? - pergunto a outro - Você a viu sangrar, gritar e chorar. O que pode ser mais humano do que isso?
- É exatamente esse o ponto. - responde a voz subitamente soturna - como todo esse sangue derramado, o jeito como ela cresceu, como foi criada. - ele faz uma pausa e suspira fundo - Só existem duas opções, ou ela é o monstro, ou nós somos."
O final fica subentendido, porém não foi necessário mais para me encantar. Aquele final, na verdade, dá vontade de estampar em todos os lugares possíveis de tão tocante e, principalmente, necessário que ele é. Para aqueles que gostam de distopias, não tenham dúvidas em se entregar à A-LII.
"- O mundo é cruel, filho, as pessoas simplesmente fingem não enxergar. Elas escolhem não enxergar."
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http://www.apenasumtrecho.com/2014/10/a-lii.html#more