Ana Clara 13/08/2020Um livro leve e muito reflexivo, diz muito além das palavras.Somos apresentados na história a de quatro amigos Alain, Ramon, Charles e Calibã. O autor não se aprofunda na história deles, são vários momentos e diálogos, que o autor constrói pra nos revelar a insignificância de nossas vidas e para aprendermos a darmos valor a ela, apreciar sua beleza. E o autor nos mostra isso de forma excepcional.
“A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças. Isso exige muitas vezes coragem para reconhecê-la em condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la. Aqui, neste parque, diante de nós, olhe, meu amigo, ela está presente com toda a sua evidência, com toda sua inocência, com toda a sua beleza. Sim, sua beleza. Como você mesmo disse: a animação perfeita… e completamente inútil, as crianças rindo…sem saber por quê, não é lindo? Respire, D’Ardelo, meu amigo, respire essa insignificância que nos cerca, ela é a chave da sabedoria, ela é a chave do bom humor…” p. 132
A ambientação do livro não deixa a desejar também, fui transportada o tempo todo para o plano de fundo, o Jardim de Luxemburgo, a festa, o apartamento, achei fácil me misturar, fazer parte do local em que se passava.
Há também uma crítica ao regime stalinista, e o próprio autor foi expulso do Partido Comunista e teve inúmeros desentendimentos com este ao longo da vida.
“A única coisa que me parece inacreditável em toda essa história é que ninguém entendeu que Stálin estava brincando. [...] Pois ninguém em torno dele sabia mais o que era uma brincadeira. E é por isso, a meu ver, que um novo grande período da história se anunciava.” p. 29
Não sinto que fui capaz de absorver toda a profundidade desse livro em uma única leitura, a cada trecho que releio apreendo algo novo. Um livro feito para ser relido inúmeras vezes.
Eu não sabia o que esperar desse livro e ele me surpreendeu com uma das melhores leituras de 2020. Me transmitiu uma energia boa, me fazia rir, pensar, e muitas vezes, ao longo da leitura, eu era transportada pra um estado de contemplação a partir do que foi dito, do que penso e do que ele me fazia sentir. Esse livro realmente me tocou, se tornou um dos preferidos da minha vida. Realmente acho que a insignificância deve ser valorizada, é ela que compõe a maior parte de nossas vidas, é ela que nos move, é ela que se prende a nossa memória, somos constituídos de insignificâncias constantes.
Acho esses pequenos momentos tão gloriosos quanto grandes acontecimentos e se tivermos o olhar atendo ao presente, eles irão nos tocar tanto quanto.
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