spoiler visualizarCris609 13/09/2022
Quem não teria vontade de aprender sobre a natureza humana sob as perspectivas da justiça e do poder através de um debate entre um ativista político, linguista, filósofo analítico e um dos mais influentes pensadores e filosofo dos últimos 50 anos?
De um lado, temos Chomsky, um racionalista e universalista que parte do princípio de que a natureza humana existe em um sentido objetivo e que todos os seres humanos compartilham essa natureza com as ideias inatas e estruturas que ela contém. Do outro, Foucault, empirista, que, a partir da experiência, defende que o poder é a ideia mestra que destrói o conceito de justiça universal.
Para Chomsky o elemento fundamental da natureza humana seria a necessidade de um trabalho criativo, sem o efeito arbitrário e restritivo das instituições coercitivas, tentando superar os elementos de repressão, opressão, destruição e coerção que existe como resíduo histórico. Para tanto, necessário se faria a superação dos elementos mecânicos dos processos de produção por meio de uma sociedade com liberdade e livre associação.
Por outro lado, Foucault não acredita que nossa sociedade seja democrática. A necessidade imediata seria desmascarar todas as relações de poder político que controlam o corpo social e o oprimem. Para ele é evidente que a família e os sistemas de ensino que difundem o conhecimento são feitos para manter determinada classe social no poder e para excluir os instrumentos de poder de outra classe social.
Em consequência, a ideia de justiça para Foucault foi inventada e posta em circulação como instrumento de determinado poder político e econômico ou como uma arma contra esse poder. Para Chomsky, quando o sistema legal não acaba expressando uma justiça melhor, mas sim técnicas de opressão que foram codificadas em um sistema autocrático específico, ele deveria ser desconsiderado.
Sempre que assistirmos a um debate entre dois grandes estudiosos, inevitavelmente, ampliaremos muito mais o nosso entendimento sobre o tema. Cada pensador abre nossas cabeças para uma cascata de informações que se explicam, mas não se sobrepõem. Cada um acredita na vertente que lhe é mais íntima, ao passo que, no final, conheceremos boa parte dos argumentos que levaram a cada raciocínio e ficaremos mais aptos a construir o nosso próprio saber.
Pego um pouco da idealização otimista de Chomsky, que acredita que associações livre e libertárias podem servir para maximizar os instintos humanos decentes. Mas, também, piso no freio para abrir os olhos e enxergar o que Foucault quer nos mostrar: por trás de todo agir há uma relação de poder e nossa tarefa é descortiná-la sempre.