Ana Paula 22/01/2020
A premissa do livro é bem simples: as diferentes técnicas para preparar alimentos são divididas nos quatro elementos: fogo (representado principalmente pelo churrasco), água (na forma de sopas e cozidos de panela), ar (pães) e terra (fermentação). Essa estrutura permite que Pollan intercale seu aprendizado culinário com digressões sobre a história da técnica descrita, sua relação metafórica (ou não) com um dos elementos, e, de vez em quando, parágrafos de críticas e reclamações sobre a atual indústria alimentícia.
No geral, o resultado é bem satisfatório. Poderia ser um livro maçante, cheio de divagações e teorias questionáveis sobre os diferentes alimentos citados. Mas apesar de a obra conter um pouco disso em cada capítulo, a narrativa envolvendo as aulas do escritor com professores escolhidos a dedo para cada tipo de receita compensa quaisquer páginas gastas lamentando que não temos mais tempo para cozinhar.
Não discordo dessa ideia. Meu interesse no autor vem de um interesse na culinária caseira, e por diversas vezes eu concordava com seu ponto. O livro Em Defesa da Comida é apenas sobre isso, e foi o livro que me convenceu a procurar mais de Michael Pollan. Porém, aqui, onde a premissa inicial é percorrer diversas tradições culinárias, esses desvios da narrativa principal começam a cansar depois de um tempo, ainda que traga pontos interessantes (a observação de que a diminuição do tempo gasto com a cozinha vem em parte do fato de que as mulheres deixaram de ser donas de casa e entraram no mercado de trabalho é um dos melhores).
São repetições um pouco cansativas, mas não é o suficiente para estragar o livro. A força dos personagens apresentados, cada um com sua especialidade e sua história, sem dúvida carregam o livro junto com as experiências de Pollan se aventurando sozinho. Como alguém que cozinha muito em casa, a identificação com as tentativas, com as falhas (reais ou imaginadas) e principalmente com os sucessos foi enorme. Ler sobre a satisfação de comer algo que você preparou do zero é quase tão bom quanto realmente comer algo que você preparou do zero.
Quase. Mas pra um livro, é mais do que o suficiente.