natália rocha 14/09/2021Antes de começar essa leitura, quando me perguntavam sobre o que esse calhamaço tratava eu não sabia o que responder. E de fato ele não tem nenhum enredo marcante e fácil de resumir, como ''Crime e Castigo''. Acho que posso resumir o que eu li em: tretas familiares, reflexões existencialistas e críticas à Igreja - elogios também, tanto que me senti seduzida pela religião.
É um livro que demanda certo tempo de leitura para que os raciocínios não sejam deixados incompletos, eu tentei ler sempre por capítulos inteiros. O difícil mesmo foi ler apenas um capítulo de cada vez: é uma história viciante, nós ficamos com vontade de descobrir o desenrolar dos integrantes dessa família.
As primeiras páginas desse calhamaço são usadas para nos apresentar a família Karamázov. Como todo romance russo, os nomes complicam um pouco nessa fluidez e aqui não foi diferente. Ademais, leva um tempo para que nós nos acostumemos com a escrita de Dostoievski. Tive que reler os primeiros capítulos para entender melhor.
Os personagens são construídos com maestria, muito profundos, complexos e diferentes entre si.
O livro tem alguns acontecimentos bem marcantes - como o nascimento de Smerdiakov, e a cena do menino jogando pedras contra outro grupo de meninos - e outros bem engraçados, dei risada de verdade - como a cena em que a família se reúne na cela do monge.
Confesso que me apeguei bastante aos personagens - Aliócha é meu xodó - e to começando a achar que isso é um dom de Dostoiévski: quando terminei a leitura de Crime e Castigo senti saudade de Raskolnikov.
Eu senti que o volume II concentra a ação do livro, enquanto o volume I está mais voltado para a apresentação dos personagens e para discussões de cunho existencialistas - tanto que o capítulo ''O Grande Inquisidor'', um dos mais famosos, está na primeira parte.
É uma experiência única a leitura desse calhamaço. Passei três meses em volta dessa família, acompanhando seus dramas, e até hoje me pego pensando sobre eles e sobre o que eu li. Talvez seja assim que a gente descobre que um livro nos marcou. :)