Tatiane Buendía Mantovani 15/11/2014
Li sofregamente, levei 3 dias para terminá-lo (lendo em cada momentinho livre do dia, hora do almoço do serviço, um pouco - ou melhor: muito - antes de dormir. A pia lotada de louça a semana toda que o diga - rsrsrs). Acho que, de tanto compartilhar a ansiedade com o pessoal do grupo do FB, acabei criando uma expectativa grande em torno deste lançamento, então me joguei mesmo na leitura. Não me decepcionei.
As resenhas que li sobre ele, antes do lançamento, não foram muito elucidativas, e apesar de ter lido algumas páginas liberadas em teasers antecipados, eu não sabia direito o que esperar.
No decorrer do livro, só temos a visão do lado de Jamie da história, e mesmo ele já tendo 53 anos no clímax, ele ainda me soa como aquele garotinho das primeiras páginas: assombrado e mais cheio de perguntas do que de respostas. Talvez em uma excelente, porém incômoda, metáfora do que nós humanos somos diante dos grandes mistérios do mundo, da fé, do sofrimento.
Talvez.
Mas King pode. Ele é King.
A sinopse oficial diz que o reverendo Charlie Jacobs após uma tragédia familiar, se volta contra Deus. Além de religioso, ele é um aficionado por pesquisas envolvendo os mistérios da eletricidade e sua manipulação.
Não sou uma grande fã de narrativas em primeira pessoa - para mim, elas são - acima de tudo, parciais e limitadas. Só vemos e sabemos o que o narrador vê e sabe, o que geralmente leva a páginas e mais páginas de cambaleios no escuro, para nos depararmos (nós, leitores, juntamente com o narrador) com a Grande Revelação convenientemente bem no final, preferencialmente nas últimas páginas. Particularmente, acho isso um truque meio sujo dos autores.
O livro é permeado de melancolia, nostalgia, tristeza e reflexões sobre a vida, o universo e tudo o mais. Ao fundo, o narrador vai dando dicas, insinuações e amostras de que algo mau está vindo, algo mau está chegando, que acabará tudo em lágrimas, mas sem dizer exatamente o que é, deixando os leitores imaginando mil coisas ao longo da história. A maioria das quais, obviamente, não dão em nada.
Para mim, ficou bom mesmo na reta final, mais especificamente a partir do capítulo XII, que é quando os acontecimentos que vinham se desenvolvendo num crescendo acabam tendo seu clímax e conclusão. E a conclusão não decepciona!
É um livro que fala de superação, mas nestes termos, para mim, foi impossível não comparar Jamie Morton a Dan Torrance, e na comparação, Dan ganha de lavada. Eu tive uma certa dificuldade em sentir empatia e torcer para valer por Morton. Confesso que - talvez por só ter o ponto de vista dele da história - ele me pareceu mais do que tudo: INGRATO-devido-a-superstições-bestas (talvez o fato de EU não ser religiosa tenha influenciado um pouco nesta impressão, talvez não). Não consigo deixar de pensar que, se ao invés de uma primeira pessoa, o autor tivesse arriscado uma terceira pessoa, e um narrador onisciente, teríamos a possibilidade de ver o pastor Jacobs não como o bicho-papão do ponto de vista de Jamie (porque é isso que ele é, o livro todo - e só entendemos no final - um grande e gordo bicho-papão), eu senti falta de um pouco do ponto de vista DELE, para que eu pudesse sentir um pouco de empatia, me posicionar diante de tudo o que ele fez, o que ele crê, o que ele descrê. Até em Sr. Mercedes, o King consegue que a gente sinta um pouco de compaixão pelo maluco do Mercedes desgovernado (o que é aquele capítulo do flashback sobre o Frankie, mon Dieu?! Dá vontade de chorar só de lembrar. Mas em Revival eu senti falta disto.
Gostei muitíssimo das referências a Mary Shelley (Mary Fay, filha de Janice Shelley, mãe de Victor - RÁ!) e Lovecraft reina absoluto em um final que mereceu uma quarta estrelinha na minha avaliação. Fora as referências do rock que são arrasadoras (mais rock dos anos 60 e 70 que não são muito minha praia).
Não vou falar da história porque, afinal, em linhas gerais, ela é BEM SIMPLES. E qualquer revelação adicional acabará em spoiler.
Só lendo mesmo para saber.