Fórmula para o Caos

Fórmula para o Caos Moniz Bandeira




Resenhas - Fórmula para o Caos


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Daniel432 07/05/2009

Corrompendo para instalar o caos
O livro mostra detalhadamente como a CIA agiu para insuflar o golpe de Estado no Chile, transformando em pesadelo o sonho de um novo país, de uma nova justiça social enfim, de uma nova ordem.

Donas de casa da elite chilena bateram panelas vazias nas ruas criticando as imensas dificuldades de abastecimento sendo que os grandes culpados por este desabastecimento eram exatamente os oligarcas, a elite que através de movimentos de paralização das atividades (industriais, comerciais e até de transporte) exarcebavam as dificuldades já existentes em função da ausência de crédito internacional (boicote também liderado pelos Estados Unidos) para realizar as importações de alimentos, máquinas e peças de reposição.

Este era o sonho de um grande homem, Salvador Allende, e certamente de milhares de outros chilenos que, após o golpe, sofreram barbaridades e, até, perderam a vida, mas Allende não perdeu a vida, ele deu a sua vida pelo seu sonho de país!!

O pior de tudo é que o Chile foi o palco principal para as atuações de ações encobertas da CIA visando chegar à Fórmula para o Caos que permitiria o golpe de Estado. O Brasil, a Bolívia, a Argentina e o Uruguai foram laboratórios para desenvolvimento da política de Fórmula para o Caos.
Kleiton 28/10/2020minha estante
Boa síntese. Ansioso para ler!!


Daniel432 28/10/2020minha estante
Obrigado Kleiton. Ainda mais na efervescência que está o Chile hoje.


Kleiton 28/10/2020minha estante
exatamente!!!!




Lucas 05/11/2018

Sem "vino y empanadas": A história do maior atentado contra a democracia na América Latina
A República do Chile é, indubitavelmente, o país mais desenvolvido socialmente da América do Sul. É notável a sua alta qualidade de vida, infra-estrutura e bom desenvolvimento econômico que, se não são capazes de fazer da nação a mais forte economicamente da região, fazem-na o melhor lugar para se viver no continente sul-americano.

Tais atributos, todavia, são precedidos de um período obscuro em sua história, de pobreza, altíssima desigualdade social e uma situação política efervescente, simbolizada por brigas políticas que marcaram especialmente todo o século XIX e XX. O maior de todos estes conflitos foi o golpe de Estado perpetrado pelas Forças Armadas em 11 de setembro de 1973, exatos 28 anos antes do atentado ao World Trade Center.

Fórmula para o Caos – A Derrubada de Salvador Allende pormenoriza toda a tensão política e social criada propositalmente para o enfraquecimento do Executivo chileno, por meio de ações que agrediram todos os princípios de soberania e unidade nacional que possam ser imaginados. Lançado em 2008 pelo professor e diplomata brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira (1935-2017), trata-se de uma obra jornalística sólida, marcada por dezenas de centenas de menções documentais dos fatos relatados, que dão crédito às mais nefastas manifestações de ódio contra um governo democraticamente eleito.

Salvador Allende representou a vanguarda de um movimento radical em uma época de grande tensão política mundial: foi o primeiro dirigente de esquerda que chegou ao poder por meio de eleições democráticas, sendo inclusive precedido de um governante da centro-direita, Eduardo Frei (1911-1982). Definindo-se claramente como um marxista e alcançando apenas pouco mais de 30% dos votos (a eleição nesse caso de maioria simples deveria ser referendada pelo Congresso), Allende tinha como propostas básicas aquelas típicas da sua ideologia: nacionalização/estatização de empresas mediante indenização, promoção de um sistema educacional totalmente público, ampliação das exportações com países do chamado Bloco Socialista (diga-se URSS e Cuba), entre outras medidas. Homem convicto e primordialmente constitucional, Allende tentou implantar essas medidas com uma leitura deficiente da realidade econômica de sua nação (muito dependente dos EUA) e do mundo como um todo.

Tal postura "revolucionária" seria aterrorizante para as "classes superiores" em qualquer contexto histórico, mas o início dos anos 70 foi um período onde esse terror era ainda mais desestabilizador: o mundo ainda seguia em ebulição pelas influências capitalistas e socialistas, que, se não provocaram um confronto direto entre norte-americanos e soviéticos, foram o fio condutor de inúmeras revoluções nacionais e golpes de Estado por todo o globo. A América Latina, em especial, era fruto de grandes preocupações dos Estados Unidos, originadas a partir da Revolução Cubana de 1959. A ilha caribenha, situada a menos de 200 quilômetros da costa da Flórida, tornou-se o símbolo maior da inquietação norte-americana, pois promoveu uma reformulação total da sua política externa a fim de garantir a influência nos países situados no continente americano.

Esta inquietação é exposta por Moniz Bandeira por meio dos incentivos que a CIA oferecia a determinados grupos políticos em golpes de Estado na Bolívia e no Uruguai, que antecederam à catástrofe chilena e que aparecem na obra. A chamada "fórmula para o caos" do título correspondia às formas de atuação, na maioria das vezes indiretas, que os Estados Unidos usavam para consolidar a América do Sul como um reduto de suas influências. Tais formas eram simbolizadas por fatos obscuros, como incentivo a grupos extremistas, planejamentos de ataques terroristas, manipulação de eleições, manobras militares, restrições a créditos financeiros a empresas nacionais, infiltração de diplomatas nas Forças Armadas, uma grande pressão psicológica sob a população, entre várias outras ações.

O golpe militar brasileiro de 1964 funcionou, de acordo com os documentos, como um "laboratório" bem-sucedido da fórmula em questão. Tal postura foi estendida à Bolívia e ao Uruguai (este último um "golpe frio", que não promoveu efetivamente a derrubada do presidente, no caso Juan María Bordaberry), ambos nos primeiros anos da década de 70 e que funcionaram como "ensaios" ao extremo dessa política de influência, que é o que foi visto no Chile: um golpe sangrento ao povo chileno e ao seu presidente constitucionalmente eleito.

Engana-se redondamente quem pensa que o golpe de Estado do Chile foi um movimento construído apenas para derrubar um presidente (e não um regime) e libertar o país "das garras do comunismo e da ditadura do proletariado". Também se engana quem acredita, após um olhar superficial da situação, que o processo de deposição de Allende foi rápido, surgido a partir de eventuais deficiências do seu governo. O fato, concreto e indiscutível, é que os Estados Unidos, por meio de diplomatas e agentes da CIA, agiram em conluio com partidos de oposição para semear o medo na população, impondo sanções econômicas descabidas que feriram sensivelmente a capacidade produtiva do Chile (especialmente a produção de cobre e salitre, as bases das exportações chilenas), atuando inclusive em sindicatos e órgãos de classe, trazendo o caos em todos os setores da sociedade. Isso tudo acabou trazendo para o jogo político (em defesa da preservação da ordem social) as Forças Armadas, cuja figura central era a do general-chefe do Exército Augusto Pinochet Ugarte (1915-2006). Posteriormente elevado ao cargo de presidente do Chile pelas forças golpistas, tornou-se símbolo maior da repressão em suas mais variadas formas. Sua postura em todo o processo de deposição choca, como o futuro leitor perceberá.

Moniz Bandeira, um ex-militante de esquerda, fez de Fórmula para o Caos uma obra curiosa: não possuí vícios nem vieses fortemente ideológicos, sendo "apenas" um grande trabalho de pesquisa histórica e jornalística que preza pela credibilidade de fontes. É muito diferente de outras obras que atingem entes da direita, como os escritos de Amaury Ribeiro Junior (autor de A Privataria Tucana) e do jornalista Paulo Henrique Amorim, que são repletos de ironias de criatividade questionável e que, de tão fortes e presentes, tiram a credibilidade do que expõem. Aqui, tem-se um texto maduro, responsável e que informa, sem o objetivo de "doutrinar" ninguém. Apesar disso, o autor limita seu trabalho apenas a acontecimentos que antecederam as eleições chilenas de 1970 (que conduziram Allende ao poder) até o fatídico 11 de setembro de 1973. Não expõe, por exemplo, nem uma vírgula a respeito da ditadura de Pinochet (que durou até 1990), marcada por expansão do PIB e abertura do mercado para investimentos externos, mas também por um aumento das desigualdades sociais e da já citada violência no sufocamento da oposição. Outra peculiaridade da obra é a manutenção no idioma original da imensa maioria das falas e discursos de políticos chilenos, o que prejudica um pouco a leitura para leitores não fluentes no espanhol, mas que não atrapalha a compreensão dos trechos. Os momentos derradeiros do governo de Allende, com a reprodução do seu último discurso proferido via rádio (cujo áudio pode ser facilmente encontrado na Web e que possui dramáticas interferências de sons de tiros) são reproduzidos de uma forma singularmente impactante, que superam toda e qualquer ressalva que possa ser feita ao escopo da narrativa.

O golpe de Estado chileno virou, com o passar das décadas, um tema mítico, que surpreende e aterroriza até hoje. Independentemente de posição ideológica do leitor, é plenamente abominável o desenrolar dos acontecimentos, culminando até com o supremo absurdo de bombardear a sede (Palácio La Moneda) de um governo eleito democraticamente e alguns acampamentos indefesos de apoiadores de Allende, tudo em nome da manutenção da ordem social, agitada pelos mesmos elementos que se diziam garantidores da mesma. Tal misticismo histórico nasce das ruínas de um governo que, de fato, tomou medidas controversas, mas que em nenhum momento desrespeitou a Constituição, tampouco buscou impor-se por meio da força. Salvador Allende e o seu desfecho trágico (bem esclarecido por Moniz Bandeira, já que há teorias da conspiração surreais sobre o seu fim) não são meramente elementos simbolizadores de uma tendência política radical: devem sim ser entendidos como exemplos do quanto qualquer democracia, por mais madura que seja, é sustentada por bases que podem ruir por simples influências e/ou factoides psicológicos e econômicos que visam apenas a manutenção do status quo de determinado grupo dominante.
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Wellington.Pimente 22/12/2023

Fato histórico
O cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, não se limitou nesse livro "Fórmula para o caos" ( Aliás, um título inspirado na expressão em que o chefe da CIA em Santiago, Henry Heckscher, usou para designar o conjunto de operações secretas "atentados terroristas, assassinatos, sabotagem, boicote econômico, entre outros" e que levou ao golpe de Estado no Chile, em 11 de setembro de 1973), buscou expor e a estudar não apenas os fatores externos, como as operações encobertas da CIA e o boicote econômico e financeiro internacional, que concorreram para desestabilizar o governo do presidente Salvador Allende, já expostos e denunciados em muitos livros, mas apontou também os fatores internos, que foram fundamentais para a eclosão do golpe de Estado. É uma obra que constitui um estudo de um processo político complexo, bem arquitetado e com estratégias e marcadas traições, em cujo trágico desfecho marcou terrivelmente a história do Chile.
O autor fez uma profunda pesquisa em que ele aponta as fontes utilizadas, como os documentos nos Estados Unidos, devido ao trabalho do professor Peter Kornbluh - diretor do Chile"s Documentation Project, no National Security Archive da George Washington University -, mas também os documentos do Itamaraty, que muito contribuem para compreensão da queda do presidente Salvador Allende, e de outros golpes de Estado ocorridos nos países vizinhos como o Uruguai, a Bolivia e o Peru.
Portanto, uma obra completa para entender o Golpe no Chile. Ressalto, que apesar de ficar evidente o partidarismo do autor em alguns pontos, não compromete todos os estudos e a história relatada.
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Fábio Valeta 15/12/2023

Em meados do século XX, a América Latina foi varrida por uma sequência de golpes de Estados. Países como Brasil (1964), Bolívia (1964), Argentina (1966 e 1976), Chile e Uruguai (1793) sofreram com ditaduras com várias similaridades entre si: todas elas promoveram autoritarismo e censura, perseguição a qualquer pessoa que fosse considerada “subversiva”, assassinatos, tortura, discurso ultranacionalista enquanto vendia o país para quem pudesse pagar mais (e sempre a empresas dos Estados Unidos ou aliados), corrupção extremada ao mesmo tempo que denunciavam os inimigos como corruptos, etc. Além disso, todas as ditaduras foram colocadas no poder com apoio direto ou indireto dos Estados Unidos através de sua Central de Inteligência, a CIA com a desculpa de “combater o comunismo”. E todas seguiram em maior ou menor grau a mesma cartilha para que o golpe pudesse ser dado.

Fórmula Para o Caos, é um livro que fala um pouco sobre o passo a passo para o golpe de Estado formulado pela CIA. No caso, centrando sua narrativa principalmente no Chile, único dentre os países citados em que um governo dito socialista de fato chegou a ser eleito.

Salvador Allende foi um político chileno abertamente socialista e que acreditava firmemente no que ele chamava de “Via Chilena para o Socialismo”, que nada mais era do que o sonho de converter o país para uma economia social por dentro da via estritamente democrática. Em 1970, foi eleito presidente em uma apertadíssima eleição, quando conseguiu pouco mais de 1/3 dos votos. Era a quarta eleição presidencial a qual Allende concorria, e sua vitória, mesmo que apertada, provocou espanto em um mundo dividido pela guerra fria, provocando reações tanto internas quanto externas.

O livro esmiúça como o golpe contra Allende e o povo chileno começou a ser gestado antes mesmo do dia da eleição de Allende. Richard Nixon, então presidente dos EUA e Henry Kissinger, conselheiro nacional de segurança e secretário de Estado se recusavam a aceitar que um socialista pudesse ser eleito de forma democrática em seu quintal e decidiram por em prática o mesmo plano que culminou na ditadura militar brasileira em prática no Chile. Um misto de provocar uma crise econômica e de desabastecimento de produtos, negando empréstimos ou qualquer forma de crédito (exceto para os militares, que eram muito bem financiados) ao mesmo tempo em que comprava matérias os jornais locais para botar a culpa na crise no governo e incentivar a classe média e elite a se revoltarem abertamente. Infiltrar agentes em grupos de esquerda para tentar radicalizar os movimentos (e dar desculpas para persegui-los e criminaliza-los) ao mesmo tempo que financiava grupos de direita a promoverem atentados e assassinatos políticos. E assim como no Brasil, a Fórmula para o Caos foi bastante efetiva no Chile.

Allende nunca teve muita chance em seu sonho da via Chilena. Eleito com apenas 1/3 dos votos, ele jamais esteve perto de ter a maioria no parlamento para conseguir implementar suas reformas. Tinha um congresso e um judiciário hostil a seu governo, sem apoio das elites locais e com uma ferrenha campanha interna e externa contra si. E mesmo entre os grupos de esquerda chilenos, havia aqueles que não acreditavam na possibilidade de um governo pacífico e desejavam a luta armada e constantemente criticavam Allende pela lentidão com que tentava aprovar suas reformas. E junto a tudo isso, milhões e milhões de dólares gastos pela CIA para financiar seus críticos e promover greves que aumentavam ainda mais o caos do país. E ainda assim, para o espanto de muitos, o governo Allende resistiu por três anos, antes de ser derrubado de forma brutal por uma junta militar que colocou no poder o ditador Augusto Pinochet.

O livro tem uma boa quantidade de informações, mas tem também uma série de problemas. Há vários errinhos de digitação pela obra que são bem grosseiros. Em mais de um trecho, o autor fica repetindo o nome de determinadas figuras várias e várias vezes em poucas linhas. Já em outras, é citado um grupo político a partir de uma sigla e só páginas depois é dito o nome completo do grupo e dar um pouco mais de contexto, além de redundâncias como “implantar a implantação...”. Parece ter faltado na obra a figura de um editor e revisor para fazer alguns ajustes e melhorar a compreensão do livro. Também senti falta de tradução das várias citações em espanhol. Algumas, são pequenas e até fáceis de serem entendidas pela similaridade com o Português, mas outras ocupam quase uma página inteira, o que dificulta sua leitura e entendimento por quem não lê espanhol fluentemente.

Ainda assim, é um tema importante e, em um mundo que está vendo o fortalecimento de uma extrema-direita pouco democrática, é infelizmente uma leitura muito atual. A derrubada de Salvador Allende, assim como a de João Goulart no Brasil, levou ao poder um grupo militar corrupto e com poucos compromissos com a própria nação. Exatamente o que países como os Estados Unidos desejava. E os mortos pelas ditaduras latino-americanas merecem ter suas histórias contadas e compreendidas, para que governos assim não voltem mais ao poder jamais.

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