Ceile.Dutra 17/12/2014Acredito que quando a gente reclama de um livro ser clichê a gente está reclamando da coisa errada. Definitivamente. Um clichê bem construído, desenvolvido e verossímil ganha o coração de qualquer leitor. O problema não é a história ser óbvia, é não ser desenvolvida o suficiente para nos envolvermos a ponto de desejar que seja tudo bem previsível - afinal, quem quer um personagem favorito morto, só para não ser lugar-comum? E, definitivamente, Amor em Jogo é clichê, mas é o tipo certo dele.
A autora teve muitos acertos que, somando tudo, deixa o livro bem "redondinho", algo que eu, pessoalmente, acredito que falte muito nos YAs atuais. A primeira cena já me fez rir, o que, convenhamos, é bem raro em se tratando de livros de fora, porque muitas piadas que fazem sentido lá, não fazem aqui, mas o trote teve uma linguagem universal e até agora eu fico pensando "cara, o Derek foi genial e HAHAHAHAHAHA". Aí tem a Ashtyn: a única garota no seu time de futebol americano, a que namora o quaterback do time, a que tem amigos incríveis - espera, eu quero dizer incríveis MESMO! Ou seja: tem personagens maravilhosos. Só isso não faz história, então vamos para o próximo: bom desenvolvimento. Sem pressa, tudo vai sendo construído e, naturalmente, as coisas se desenrolam, tudo no tempo certo, mas sem perder o ritmo e sem deixar a história parada - tanto que eu o li em um domingo a tarde, apesar de suas 353 páginas. Além disso, o romance é coerente e verossímil, o que, sinceramente, é fundamental para eu favoritar um livro - eu tenho que estar convencida que aquilo ali é possível naquele ambiente construído pela autora. Como não poderia faltar, existe também aquela tensão no ar e fiquei torcendo pra que eles dessem logo o braço torcer, ao mesmo tempo que foi legal esperar que ambos estivessem prontos para simplesmente deixar acontecer. É engraçado como Derek simplesmente não sabe como lidar com a situação e como a Ash se desconstrói e se revela frágil.
"- É, bem, a Ashtyn é toda mandona e controladora. - Minha comida ameaça voltar quando eu acrescento: - Como eu não gosto de gente mandona e controladora, ela não é a mulher dos meus sonhos.
- Derek é, na verdade, o garoto mais irritante que já conheci - Ashtyn se intromete com um sorriso falso. - Se ele pintasse CASE COMIGO na minha parede, eu faria um círculo e um risco bem no meio."
MAS POR QUE, CEILE, VOCÊ DEMOROU TANTO PARA RESENHAR ESTE LIVRO? That's the point, sabe quando você gosta muito de um livro e só quer falar "cara, você precisa ler"? Então, é isso que acontece. É complicado achar palavras pra descrever o que agradou e porque, afinal, as pessoas precisam ler, bastaria saber que é realmente bom e, PFVR, vocês precisam ler! É desnecessário que esta história me deixou encantada e fazendo a linha adolescente apaixonadinha (e iludida, convenhamos, porque 1. não sou adolescente e 2. já passei da fase de acreditar nessas coisas, sad but true).
Ok, mas o livro é tão perfeito assim? Não. Sabe, tem umas coisinhas que acontecem perto do final que você fica "ai, cara, fala sério", porque realmente não parece possível/real, mas é só isso (se tratando de enredo). Eu juro que não atrapalha, só é meio absurdo - e antiquado. A tradução deu umas leves derrapadas, deixando uma palavra ou outra deslocada no texto, mas são poucas e acaba sendo só um detalhe (que, claro, talvez muitas pessoas nem reparem).
Apesar de só ter (até então) uma obra publicado no Brasil (e em uma editora que faliu), Simone Elkeles acumula admiradores e adora posso entender o porquê. A mulher realmente sabe como escrever um livro para adolescentes-nem-tão-adolescentes-assim. Quem vê a capa americana logo pensa que se trata de um new adult (se não foi o caso, comece a pensar agora. Obrigada, de nada.), quem vê a capa nacional acha que é um young adult, mas quem tá certo, afinal? Pergunta difícil de responder, porque é fato que o livro tem elementos dos dois gêneros, deixando-o mais como um middle grade, nem lá, nem cá. Ou seja: ele é ideal para quem não quer aqueles draminhas de garota popular na escola, mas também não quer um dramalhão envolvendo mil traumas de bad-boys e mocinhas certinhas.
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