Jacqueline 29/11/2014
Reflexão e filosofia andando juntas
Roger-Pol Droit nasceu em Paris. É filósofo, escritor e jornalista, além de colunista do Le Monde e de diversas outras publicações na França. Já escreveu cerca de trinta obras, várias delas traduzidas no mundo todo, como A companhia dos Filósofos e 101 Experiências de Filosofia Cotidiana.
Se só me restasse uma hora de vida é seu primeiro livro lançado pela Bertrand Brasil.
Tem livros que escolhemos pela capa bonita, ou a sinopse instigante. Existe também aqueles livros que a gente escolhe por indicação de algum amigo, ou até mesmo por conta do título curioso e interessante. Mas tem livros que nos escolhem, o que foi o caso de Se só me restasse uma hora de vida. O título - que é bastante sugestivo -, foi o que me chamou atenção logo de cara. E o livro não poderia ter vindo em hora melhor. Justamente no fim do ano em que costumamos fazer aquele balanço do que fizemos em nossa vida, a leitura me deixou ainda pensativa, e reflexiva.
"Se só me restasse uma hora de vida, apenas uma hora,exatamente, inelutavelmente, o que eu faria?que atos realizar? que pensar; sentir, querer?que traços deixar?"
Roger-Pol Droit nos convida a fazer uma profunda reflexão sobre nossa vida através de sua obra. Existe uma explicação para a morte? O que deixaremos de legado quando morrermos? Se só restasse apenas uma hora de vida, o que você faria?
Como meu pai sempre falou: a única certeza que temos na vida, é que vamos morrer um dia. Independente de classe ou posição social, a morte é o fator em comum entre todos os seres humanos. Da morte nós não temos escapatória, e não temos como saber quando será a nossa hora. Contudo, temos a opção de escrever nossa história, e deixar vivo o nosso legado quando partirmos.
"a escrita obstinadamente, indiferentemente, como armadilha dos momentos, como um secativo na pintura (...) pela escrita, um fragmento de ato, uma faísca da vida, um gesto vêm a ser cristalizados apenas singularidades, nada genérico pode ser escrito, e, por sinal, nada genérico sobrevive, só as singularidades não morrem."
Com uma narrativa em primeira pessoa, acompanhamos os pensamentos frenéticos de um homem que tem apenas uma hora de vida.
Que atos realizar? O que pensar, sentir, viver? Como aproveitar apenas essa uma hora de vida? Utilizando uma linguagem lírica, Roger nos presenteia com uma obra que nos incita a viver plenamente cada minuto da nossa vida. Como ele mesmo afirma, não podemos aprender a morrer, pois só se morre uma vez. Mas podemos aprender a viver o hoje, aproveitar cada minuto e hora como se fossem os últimos.
Eu nem saberia por onde começaria. Só sei que gostaria de passar esse precioso tempo final com a minha família, cercado pelas pessoas que amo.
"a morte não pode ser ensinada, não pode, em sentido algum, de maneira nenhuma, ser objeto de algum tipo de treinamento, só o que se pode, contemplar é preparar-se para fazer boa figura, condicionar-se para atravessar com dignidade a suprema prova, a luta final, o suposto combate da agonia, essa palavra que lembra guerra e confronto"
Droit cita diversos filósofos e seus conceitos, como Montaigne, Nietzsche, entre outros. O que eu achei mais bacana na forma como Roger-Pol expõe seus pensamentos, é o fato dele utilizar uma linguagem acessível e super clara. E eu não poderia concordar mais com o autor, quando ele questiona a afirmação de outros filósofos que acham que os seres humanos são indivíduos unificados, e vai tecendo uma série de observações a respeito de suas considerações.
A edição da Editora Bertrand está lindíssima. Preciso elogiar essa capa estupenda, que ficou muito mais bonita e significativa do que a original.
Se só me restasse uma hora de vida, é brilhante e leitura indispensável.
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