Leandro Matos 10/09/2014COMO CRIAR UMA MENTE | DOS NEURÔNIOS À ENGENHARIA REVERSA DO CÉREBRO HUMANO.O segredo do pensamento humano, esse subtítulo, foi o que me chamou a atenção para o recente título publicado pela Editora Aleph, “Como Criar uma Mente”. De autoria de Raymond Kurzweil, futurista, inventor e atual diretor de engenharia do Google, o livro propõe uma leitura sobre os recentes avanços e pesquisas no campo da neurociência e como o cérebro, poderia ser codificado de “dentro para fora” em busca de melhor compreendê-lo e até mesmo recriá-lo artificialmente.
Em seu sexto livro, Ray Kurzweil expande e explora temas e assuntos que já foram abordados em seus outros trabalhos. Em A Era das Máquinas Espirituais (também publicado pela Aleph), o foco era a união da inteligência artificial com a sensibilidade humana e em The Singularity is Near (em tradução livre, A singularidade está próxima), o autor aborda sobre um evento chamado “a singularidade”, uma etapa tecnológica em que corpos e cérebros seriam fundidos com máquinas, criando seres híbridos e de que forma seria essa nova (e distante?) realidade.
Ray já acumula mais de 20 anos, de estudos e pesquisas em torno de tecnologias e áreas relacionadas ao cérebro e suas funcionalidades cognitivas. Logo nos capítulos inicias de Como criar uma Mente, ele pontua:
“O CÉREBRO É O COMPUTADOR MAIS PODEROSO QUE EXISTE.”
Apontada durante a leitura, como uma das principais funções do cérebro humano, o reconhecimento de padrões entende-se como a capacidade do nosso cérebro em aprender por meios de etapas, organizando o conhecimento de forma hierárquica e sempre buscando assimilar uma nova informação com algo para uma melhor compreensão. O conceito de ideia advém dessa formulação. Ray afirma que os neurônios estão em um padrão, em uma ordem também geneticamente pré-estabelecida e que incrivelmente esse arranjo, só atesta a complexidade do cérebro humano como uma das maiores criações da natureza. Essa é uma aptidão única aos Homo Sapiens.
Por uma necessidade inerente ao homem no decorrer das eras, desenvolvemos um neocórtex – região do cérebro responsável pelo pensamento crítico, memória e pela percepção – sofisticado e com uma base de conhecimento em constante expansão e que nos permite repassar essas características de uma geração para outra. A primeira invenção do homem (entenda do cérebro) foi a linguagem falada, a segunda foi a linguagem escrita, depois pequenos objetos rudimentares e assim em diante como está bem explicitado na frase de Joel Havemann, jornalista portador da síndrome de Parkinson:
“O QUE PARECE ESPANTOSO É QUE UM MERO OBJETO COM POUCO MAIS DE UM QUILO E TREZENTOS GRAMAS, FEITO DOS MESMOS ÁTOMOS QUE CONSTITUEM TUDO O MAIS QUE HÁ SOB O SOL, SEJA CAPAZ DE DIRIGIR PRATICAMENTE TUDO AQUILO QUE OS HUMANOS FIZERAM: VOAR À LUA E REBATER SETENTA HOME RUNS, ESCREVER HAMLET E CONSTRUIR O TAJ MAHAL – E ATÉ DESVENDAR OS SEGREDOS DO PRÓPRIO CÉREBRO.”
É bem verdade que há momentos que o autor fica preso em especificações técnicas, que para um leigo como sou, pareceu distanciar um pouco da linha apresentada como narrativa, porém, nos capítulos onde o mesmo detalha sobre como seria a construção e desenvolvimento de um cérebro artificial, e de que forma, ele poderia replicar os processos e funcionalidades do (cérebro) biológico é um ponto de destaque fascinante no livro. Outras conjecturas feitas pelo autor detalham que a experiência consciente de nossas percepções é alterada por nossas interpretações. Supondo que vemos aquilo que esperamos, isso implica que estamos constantemente prevendo o futuro e levantando hipóteses sobre aquilo que vamos experimentar. Essa expectativa influencia aquilo que vemos de fato.
Ray chega a afirmar que há certa simplicidade nessa teoria/proposta de engenharia reversa do cérebro humano, porém é franco o suficiente para assumir que existem características particulares ao cérebro biológico, que até o momento, o artificial não seria capaz de compreender. Como curiosamente a ironia!? Ele exemplifica por exemplo, que a assombrosa inteligência artificial da IBM (o Watson), teria dificuldade de distinguir frases (ou perguntas) em tons de ironia. Isso sem falar na empatia, na autoconsciência e na tão famigerada inteligência emocional.
Como criar uma mente entrega uma leitura edificante e informativa. O livro examina como a inteligência e o aprendizado, da maior máquina que possuímos está ligada aos recentes avanços das tecnologias e até que ponto, uma intersecção entre ambos (cérebro x máquina) nos seria benéfica (ou não) e o que poderíamos fazer com essa nova inteligência/tecnologia?
site:
http://nerdpride.com.br/literatura/como-criar-uma-mente/