Ricardo Santos 21/06/2015universo incrível, mas roteiro comprometeQuando eu soube desse projeto no Catarse, fiquei empolgado em apoiá-lo pela beleza do material de divulgação. O roteirista Octavio Cariello e o ilustrador Pietro Antognioni souberam vender bem seu peixe com um vídeo dinâmico com páginas finalizadas da HQ. Infelizmente, a promessa se cumpriu em parte.
Portais me deixou fascinado porque artistas nacionais criaram um dos universos mais interessantes que vi em quadrinhos nos últimos anos, com qualidade internacional. Os cenários e personagens no traço mais realista e cores elegantes de Antognioni têm muita expressão e criatividade. Bebem em várias referências (por exemplo: quadrinhos de FC europeus, filmes de FC de décadas passadas, quadrinhos pulp como Flash Gordon), mas são imagens que mantêm uma identidade própria.
Terminada a leitura, porém, um universo tão rico e executado visualmente conta tanta competência, perde bastante do brilho pelo roteiro fraco. Afinal, uma HQ também tem que contar uma boa história.
Em Portais, conhecemos a jornada de cinco personagens que vivem em diferentes épocas na Terra e que são teleportados para um futuro distante. O planeta está completamente transformado, com criaturas inteligentes variadas, inclusive semelhantes a animais como sapos, tigres e leões. Os protagonistas se envolvem numa guerra de poder pela disputa de um trono.
A trama é promissora, mas logo nas primeiras páginas se perde numa sucessão de subtramas, sempre apresentando personagens novos e nunca desenvolvendo os que já foram apresentados. Os autores da HQ deixam a impressão de que queriam mostrar todo o universo criado de uma só vez, na dúvida se haveria volumes que continuassem a saga.
O leitor pode ficar babando pela arte e cores, mas dificilmente terá conexão com a maioria dos personagens. As exceções são Shastah, o irmão rebelde e irônico do tirano, e Enki o cientista, criador da máquina do tempo. Eles têm arcos mais completos.
Um atrativo muito bacana é o material de bastidores da HQ com esboços dos desenhos, arte conceitual, fichas dos personagens e um passo a passo do roteiro à arte final.
Fico na torcida para que saia um segundo volume com um desenvolvimento mais acertado desse universo que me encheu tanto os olhos.