Maria - Blog Pétalas de Liberdade 06/04/2015ExtraordinárioSerá uma resenha repleta de trechos do livro, já que me apaixonei por ele, colocando-o na lista dos melhores que já li e de favoritos.
"Havia um tesouro vivo sob nosso teto, e nenhum dos meus irmãos conseguia vê-lo." (página 120)
Tudo começou num verão extremamente quente no Texas, no ano de 1899. O calor excessivo obrigava as famílias a reorganizarem suas rotinas e mudarem seus horários; entre essas famílias, estava a de Calpúrnia Virgínia Tate, uma curiosa garota de 11 anos. Calpúrnia era a filha do meio entre sete irmãos, a única garota.
Calpúrnia percebeu que havia dois tipos de gafanhotos em seu quintal: amarelos e verdes, e que os amarelos eram bem maiores que os verdes. Intrigada, começou a tentar desvendar o motivo dessa diferença de tamanho, mas nenhum dos seus irmãos nem seus pais sabiam lhe ajudar. Calpúrnia tomou coragem e foi falar com seu avô, ele tinha fama de mal-humorado e passava muito tempo sozinho, mas se interessava pela natureza e por livros, tinha até um laboratório.
Sua conversa com seu avô foi melhor do que ela esperava, de forma que a garota voltou a procurá-lo mais vezes. E Calpúrnia descobriu um mundo novo e encantador, aquele "velho rabugento" que ficava enfurnado na biblioteca era um tesouro vivo! Em seu tempo livre, Calpúrnia passou a acompanhá-lo em suas pesquisas, ajudando-o a coletar espécies, fazendo anotações, entre outras coisas.
No livro, acompanhamos mais ou menos seis meses da vida de Calpúrnia, de sua evolução. Ela ficou fascinada com tudo o que podia descobrir com seu avô, passou a respirar ciência. Mas o restante de sua família não apoiava muito suas pesquisas com ele, especialmente sua mãe, que fazia o possível para que a garota fizesse as coisas que as outras garotas da época faziam, coisas que não interessavam nem um pouco à Calpúrnia.
"Minha mãe tinha tido uma filha em sete tentativas. Suspeito que eu não era exatamente o que ela havia planejado, uma filha delicada para ajudá-la a enfrentar a maré alta da energia turbulenta dos meninos, que sempre ameaçava inundar a casa. Não tinha passado pela minha cabeça que ela desejara uma aliada, e não havia conseguido uma. Bom, eu não gostava de conversar sobre moldes, receitas nem de servir chá na sala de visitas. Isso fazia de mim uma egoísta? Fazia de mim uma pessoa estranha? Pior de tudo, fazia de mim uma decepção? Provavelmente, eu poderia viver com o fato de me considerarem egoísta ou estranha, mais uma decepção?! Isso era outro assunto, algo bem mais difícil." (página 221)
Essa resistência de sua família trazia sofrimento para a menina, que não se conformava em ter um futuro como o das mulheres que conhecia; Calpúrnia queria ser uma cientista, mas se sentia em conflito, pois amava muito a sua família. A garota estava numa idade complicada, em que muitas mudanças acontecem, ela estava deixando a infância despreocupada e tentando entender o mundo dos adultos e encontrar seu lugar nele. É uma fase difícil, onde, muitas vezes, não temos poder suficiente para impor nossas vontades e sofremos intensamente pelo que nos acontece.
"Encostei-me contra a parede e fiquei ali, vazia, por um bom tempo. Vazia de tudo. Eu era apenas um recipiente prático de serviços úteis, esperando para ser completado com receitas de cozinha e tricô." (página 253)
O papel da mulher na sociedade é algo bastante questionado por Calpúrnia na história, afinal de contas, é a sua vida que estão tentando moldar, são os seus sonhos que estão em jogo.
"- A mãe está ameaçando fazer com que eu aprenda um prato novo por semana. Talvez não seja tão ruim, mas a gente leva horas para fazer e em quinze minutos não tem mais nada. Aí a gente varre a cozinha, esfrega o balcão e tem de começar tudo de novo, sem um minuto de descanso. O que se ganha com isso? Como é que Viloa aguenta?
- É tudo o que ela sabe fazer - ele disse. - E quando tudo o que você sabe é aquilo, fica fácil suportar." (página 182)
" - Por que eu tenho de tomar conta dos bebês? Porque eu não posso levar mensagens? Por que eu não posso ganhar dinheiro?
- Porque você é menina - disse Lamar alarmado, farejando possível perigo.
- E o que isso quer dizer?
- Meninas não são pagas - caçoou Lamar. - Meninas não votam e não são pagas. Meninas ficam em casa." (página 229)
A formação dada à garota e aos demais alunos é algo questionado algumas vezes pelo avô de Calpúrnia, a escola se interessava mais em moldar comportamentos do que em transmitir conhecimentos.
"Um microscópio era uma coisa rara e valiosa. Não tínhamos microscópios na escola. Eu podia apostar que estava olhando para o único que havia entre Austin e San Antônio.
- Nós não temos nenhum na escola, vovô.
Aquilo fez com que ele parasse. - É mesmo? Não entendo o sistema moderno de educação de jeito nenhum.
- Nem eu. Temos de aprender a costurar, tricotar e bordar. Em Comportamento, eles fazem a gente andar em volta da sala com um livro na cabeça.
Vovô disse: - Acho que ler o livro de verdade é um jeito muito mais eficiente de absorvê-lo." (página 121)
Me identifiquei com algumas situações vividas pela garota e com sua família, tenho uma família pouco menor do que a dela, de forma que sua relação com os irmãos foi algo que me cativou. Harry era o mais velho, vê-lo deixando de ser uma criança como os demais e se tornando um adulto, era algo complicado para Calpúrnia, também vivi isso com um de meus irmãos mais velhos.
"Eu nunca tinha pensado em Harry como um adulto. Meus irmãos e eu sempre tínhamos sido crianças juntos, mas pela maneira como disse a palavra, eu soube que naquele segundo ele tinha atravessado alguma fronteira invisível para uma terra diferente, e nunca mais voltaria para nosso bando infantil." (página 98 e 99)
De todos os irmãos de Calpúrnia, Travis, de 10 anos, foi o que mais gostei. Ele tinha um bom coração e uma inocência encantadora, além de super fofo e apaixonado por animais. Foi ele quem protagonizou a cena que mais me emocionou no livro, me fazendo ficar com lágrimas nos olhos. Tem razão de a Calpúrnia sentir a necessidade de protegê-lo, mais um ponto onde me identifiquei, também já quis proteger um irmão menor.
"Ele parecia um pintinho recém-nascido: molhado, inseguro e sujeito a danos. Como é que eu conseguiria protegê-lo de um coração partido?" (página 167)
Calpúrnia é uma personagem inesquecível: por sua curiosidade, sua inteligência e também por seu bom humor.
"Considerávamos os vagalumes uma dádiva e as formigas uma praga, mas, pela primeira vez me ocorreu por que tinha de haver uma distinção. Todas elas não passavam de criaturas que tentavam sobreviver à estiagem, assim como nós. Pensei que Viola deveria desistir e deixá-las em paz, mas reconsiderei depois de descobrir que a pimenta do reino na salada de ovos não era pimenta coisa nenhuma". (páginas 14 e 15)
"Um dia eu teria todos os livros do mundo, prateleiras e mais prateleiras deles. Viveria em uma torre de livros. Leria o dia todo e comeria pêssegos. E, se algum jovem cavaleiro de armadura ousasse vir gritando em seu cavalo branco, me pedindo que soltasse o cabelo, eu o bombardearia com caroços de pêssego até que fosse para casa." (página 25)
Cada capítulo começa com uma citação do livro "A origem das espécies" de Charles Darwin.
Veio um marcador de páginas no livro, mas ainda não tive coragem de destacá-lo da orelha para usar.
Quis ler A evolução de Calpúrnia Tate por ter achado a sinopse interessante, além de ter gostado do título, mas o que me encantou inicialmente foi a capa linda, o livro é tão bonito! A diagramação da Única está muito boa, com margens, espaçamento entre as linhas e tamanho das letras grandes; as páginas são amareladas e tem uma textura porosa.
A evolução de Calpúrnia Tate se tornou um dos meus livro favoritos por combinar vários fatores: a escrita maravilhosa da autora, que fala de temas complexos e/ou comuns como o papel da mulher, a vida em família, o mundo científico e a passagem da infância para a adolescência de forma tão bonita e leve; o fato de a história se passar em outro século também trouxe um toque mais especial para a trama.
Sempre que alguém me pedia uma sugestão de leitura, independente da idade da pessoa, eu indicava o livro Extraordinário, da R. J. Palacio, agora passarei a indicar o livro da Jacqueline Kelly também, pois é tão extraordinário e perfeito quanto o da R. J. Palacio. August e Calpúrnia são igualmente encantadores! A evolução de Calpúrnia Tate pode ser um companheiro para crianças em idade escolar, despertando o gosto delas pela ciência, assim como pode tocar quem procura uma história sobre famílias ou apenas uma história divertida e bonita.
"Ele disse: - A lição de hoje é a seguinte: é melhor viajar com esperança no coração do que chegar em segurança. Você entende?
- Não senhor.
- Significa que temos de comemorar o fracasso de hoje, porque é um sinal claro de que nossa viagem de descobertas ainda não terminou. O dia em que o experimento der certo será o dia em que ela termina. E eu acredito, inevitavelmente, que a tristeza de terminar supera a celebração do sucesso." (página 266)
- É curioso - eu disse -, que as meninas tenham de ser bonitas. Na Natureza são os meninos que precisam ser bonitos. Veja o cardeal. Veja o pavão. Por que é que com a gente é tão diferente?" (página 335)
Espero ter conseguido mostrar para vocês o quanto A evolução de Calpúrnia Tate é incrível e maravilhoso, bonito por dentro e por fora, totalmente recomendado por mim. Agora, imaginem a minha alegria quando eu estava fuçando no Goodreads (espécie de Skoob internacional) e descobri que a autora escreveu mais um livro sobre a Calpúrnia!!! Pelo que li na sinopse, nesse segundo, o fofo do Travis vai aparecer um pouco mais. É claro que já estou doida por "The Curious World of Calpurnia Tate", ainda mais com a capa linda que ele tem.
* Tem promoção valendo 1 exemplar do livro no blog, inscrições até 02/05/2015.
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