Natalia_Medeiros 27/01/2022
Pelo título, A professora de Piano, não me encheu de expectativas. Escolhi para ser uma leitura leve dentro de uma mudança de cidade. Acreditei ser um romance sutil com felizes para sempre. Se mostrou ser mais.
Já li alguns livros sobre a Segunda Guerra Mundial e outros ambientados na época. Nenhum, entretanto, tinha me levado para Hong Kong. Uma experiência de leitura fora dos padrões que venho seguindo e me esquivando ao longo dos anos. Uma escrita envolvente e um enredo provocante, com personagens profundos e cheios das dualidades que gostamos de pensar que não temos.
A inocência de Claire em contraste com seu desejo avassalador por riscos. Ela vai se deixando envolver pela própria história, vai se complicando, sem necessariamente buscar uma aventura. Claire e Trudy ocupam opostos em modo de ser e mostrar-se. Trudy é envolvente e provocante, adapta-se ao meio como um cameleão se camufla para sobreviver, chama a atenção para manter-se escondida.
Claire, Trudy e Will nos levam, em diferentes momentos da história, pela perspectiva chinesa e japonesa da guerra, com suas desgraças, barbaridades e lutos. Assim como, a rapidez com que cidades conseguem voltar à normalidade mesmo feridas. Mesmo com cicatrizes, amputadas e com a pele aberta, buscamos a normalidade, a rotina. Lee mostra como isso acontece com as pessoas que migram, com as que estão em cativeiro, com as que seguem escapando presas pelo lado de fora e com as que sobrevivem aos caos.
Pelas ruas de Hong Kong acompanhamos preconceito racial, diferença de classe, costumes e dominâncias. Relações políticas entre Inglaterra e China, Japão e Europa, clichês americanos. Luxos exagerados dos abastados buscando igualdades com os dominadores e invisibilidade dos nativos colonizados. Não é um livro transformador, mas vale a pena a leitura, principalmente, se você lê somente pelo viés masculino americano e europeu da vida.