Tomás Quirino 07/02/2010Tygre, tygre, viva chama. Que as florestas da noite inflama..."Viva Chama" é um livro mágico e surpreendente. Possui 400 páginas, mas parece que tem a metade disso. A história é rica em detalhes, personagens e fatos. O poder de descrição de Tracy Chevalier, que eu já havia conhecido em "Moça com Brinco de Pérola", é muito bem expresso ao longo da história. A autora consegue nos transportar para a Londres do século XVIII, para o grandioso anfiteatro de Philip Astley e para a cidadezinha de Piddletrenthide, em Dorset, na Inglaterra. E temas como a Revolução Francesa, as relações familiares, a infância e a adolescência são abordados de maneira sutil, porém clara e interessante.
O assunto principal do livro é o poeta e pintor inglês William Blake, e mais especificamente a sua obra "Canções da inocência e da experiência". Sua vida é retratada sob o olhar de duas crianças vizinhas, Jem e Maggie. Suas obras não fizeram muito sucesso na época, pois suas ideias eram consideradas estranhas, que envolviam características como misticismo e crítica social. Teve problemas com o governo inglês, pois era considerado simpatizante da Revolução Francesa.
Embora eu acredite que a autora poderia ter dado mais destaque ao cotidiano, ao processo de criação e ao perfil psicológico do poeta, definitivamente não posso reclamar. É muito difícil criar uma história em cima de algo que realmente ocorreu e faz parte da história de séculos atrás. É uma tarefa desafiadora, que exige muita cautela, imaginação, perspectiva e, acima de tudo, pesquisa. No final do livro, podemos ver as inúmeras fontes de pesquisa que a autora utilizou. Não é uma tarefa fácil, mas ela conseguiu executá-la de forma muito satisfatória.
Minha única reclamação é em relação ao desfecho do livro. É um bom final, encerra o livro coerentemente, mas deixa a impressão de que algo está faltando. A autora podia ter detalhado ou aprofundado um pouquinho mais o destino das personagens, ter acrescentado ou deixado subentendido alguma informação a mais, alguma mensagem, um final mais contínuo. Porém, ainda assim, não é um final decepcionante.
Enfim, quem gostou de "Moça com Brinco de Pérola" também vai, muito provavelmente, gostar de "Viva Chama". É um livro que segue a mesma fórmula, e é mais dinâmico em alguns aspectos (possui mais personagens, cenários e acontecimentos). Vale a pena ler!