Por escrito

Por escrito Elvira Vigna




Resenhas - Por Escrito


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Renata (@renatac.arruda) 18/07/2015

Um livro sinuoso e de camadas
Considerada uma das melhores escritoras da literatura brasileira contemporânea, a premiada Elvira Vigna lançou seu nono livro, Por Escrito, no ano passado e acabou sendo considerado um dos melhores do ano de acordo com diversas listas. Mas não é um livro para todos os gostos: escrito como uma espécie de fluxo de consciência da protagonista Valderez em uma carta para seu companheiro Paulo, o livro requer total atenção do leitor que enquanto é ambientado na mente imagética da narradora, pode dicar com a sensação de que nada acontece durante boa parte da narrativa. De certa forma, não estará tão longe da verdade. De acordo com a própria autora, Por Escrito "não é sobre nada":

"A história principal do Por Escrito não é bem uma história. Nada acontece com a Valderez, que é a narradora. Ela perde o emprego e isso é mais ou menos tudo. O emprego dela inclui viagens, participação em eventos. Antes de perder o emprego ela fica parada esperando o avião que atrasa, o motorista do evento. Depois que perde o emprego, piora. Fica parada sem álibi mesmo. Fica porque fica. Não é fácil escrever um livro desses e levei um tempão só parada, igual à Valderez", escreveu a autora no texto lido quando do lançamento da obra. Mas de maneira alguma temos aqui um livro vazio: o que Elvira nos oferece é um estudo de personagem, uma personagem observadora, solitária e apática, que parece estar sempre em trânsito por lugares impessoais como estradas, hotéis e aeroportos e por lá fica sentada, por horas. E por um bom motivo

Leia mais no Prosa Espontânea:
http://www.mardemarmore.blogspot.com.br/2015/07/por-escrito-elvira-vigna.html
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ElisaCazorla 12/03/2015

Depressão arrastada
Se vai ler este livro prepare-se para páginas e páginas que se arrastam. Pense numa novela que enrola e enrola e enrola e tudo parece se explicar nas últimas páginas...pois é, neste livro nada se explica nas últimas páginas. Livro pálido. Personagem pálida e sem qualquer emoção ou expressão. Um estilo diferente, sim. Muito diferente. Mas, tão chato e tão arrastado que tive a impressão que a autora estava me assistindo dando risada enquanto eu lia o livro.
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Toni 25/09/2018

O estilo de Vigna foi, para mim, o maior trunfo de ‘Por escrito’. Enquanto narrativa, a história de encontros e desencontros da narradora me encontrou muito pouco (o que é estranho, já que a personagem principal e eu estamos em meio a crises muito semelhantes), mas se considerarmos as filigranas da linguagem, o ritmo e as pulsações do texto, a literaturilarividade =) da literatura, a Vigna não decepciona. Desencontrado como suas personagens, o texto de ‘Por escrito’ parece sempre além do que se passa à sua frente, além das palavras que o compõem e seus possíveis sentidos, como se as verdades de cada personagem estivessem o tempo todo a ponto de serem defraudadas. Mas não ainda. Aqui, as vidas de Molly, Aleksandra, Zizi, Pedro, da narradora e do você, amante a quem o texto se endereça, resistem contra a premência do desaparecimento e da falta de sentido num enredo em vai-e-vem sobre expectativas, insegurança e desilusão.
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GRIFO: “Durante tanto tempo, durante todo o tempo que durou esse meu trabalho e minhas viagens, e mesmo antes, tive essa estratégia, de sobrevivência. Uma presença ausente, eu sentada por eternidades em cadeiras pré-moldadas de aeroportos, deitada em colchas pré-históricas de hotéis baratos, eu lá e não lá, eu parada ou a mil por hora, no emparelhamento possível com outros bólides que vão, como eu, com toda a firmeza, para lugar nenhum, indiferentes. Posso tentar ainda por mais tempo.” P. 64.
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Hiago 21/04/2016

Por Escrito de Por Escrito
Eu tenho certeza que a Elvira Vigna é de Capricórnio. Ainda procurei no Google pra ver se achava a data de nascimento dela. Não tem. Só o ano. 1947. Capricórnio pode até não ser o signo da Elvira, mas com certeza é o signo da Valderez. Em Por Escrito, as mais importantes emoções, acontecimentos e tragédias são descritas como qualquer bosta, como sendo indiferente pra viver a vida. Como se fosse o achar de uma coisa perdida a séculos, mas que de tão velha, não importa mais pra quem você é hoje.

O livro é muito, muito lento. Você precisa de um mínimo de afinidade com Valderez que aqui significa observar o mundo, pelo menos em algum nível, parecido com o que ela enxerga: uma merda pra poder se aprofundar nos pensamentos e na mente dela de forma total, para garantir a chegada ao fim do livro. Ou seja, se você é "alegrinho demais e manda sorrisos de meia boca, sem sentidos e fora de hora para pessoas apenas para confirmar sua felicidade", não espere um livro melodramático como a capa sugere.

Ao lermos as confissões antissentimentais de Valderez, vemos uma pessoa frágil, que mesmo sem colocar explicitamente que ama, conseguimos enxergar o amor. Mesmo sem colocar explicitamente que sente saudades, enxergamos a saudade. É como aquele seu amigo que guarda tudo para si, que não fala nada ou por achar pouco importante, ou por vergonha de seus sentimentos por imaginar que são tão idiotas que irão rir da cara dele. E é por isso que Valderez escreve em seus "lugares nenhum": entre aeroportos com cheiros de pães de queijo. Porque é lá que ela consegue se desatrelar de tudo: das cidades, dos quartos, dos apartamentos, dos hotéis, dos cafezais, dos fazendeiros e de sua família. É por isso que ela escreve de seu jeito, para que não pensarmos que ela é boba, para não pensarmos que ela é sensível e frágil, mesmo sendo sensível e frágil.

Ao começar o livro pelo final, Elvira testa nossas capacidades de empatia. Julgamos Valderez de cara, antes mesmo de conhece-la. Só depois, na cronologia inversa do livro, sentimos e entendemos seus "ahns, ahns", seu antissentimentalismo ao mesmo tempo em que sentimos vergonha por julgar uma mulher que nem ao menos sabemos o nome em suas primeiras páginas de confissões.
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