A cidade e a cidade

A cidade e a cidade China Miéville




Resenhas - A Cidade e A Cidade


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Antonio Luiz 22/12/2014

Como se desaprende a desver?
É interessante uma editora como a Boitempo, voltada para ciências humanas e filosofia, principalmente marxista, começar a publicar obras de ficção. Mais curioso ainda escolher não algum clássico do futurismo russo ou do realismo socialista, mas uma obra britânica de ficção científica de 2009, quando as editoras tradicionalmente voltadas para esse gênero, como a Aleph, ignoram quase tudo que tem sido publicado no exterior depois dos anos 1970.

Mas faz, no fundo, todo o sentido. China Miéville é um pensador de esquerda, com uma tese sobre marxismo e direito internacional e uma história de militância política (até 2013 no trotskista Socialist Workers Party e depois no eclético Left Unity), além de revolucionar a literatura especulativa desde 1998 com uma série de contos, romances e ensaios literários com os quais fundou uma nova corrente, o New Weird, e propôs explicitamente um novo tipo de ficção política e socialmente consciente, mesmo sem ser panfletária. Seu primeiro romance, Rei Rato (1998), foi publicado no Brasil pela pequena e já desaparecida Tarja Editorial e resenhado em Um Esopo para o Século XXI.

A Boitempo se propõe a editar outros, inclusive a trilogia de Bas-Lag (Perdido Street Station, The Scar e Iron Council, 2000-2004), mas começou por A Cidade & A Cidade, seu sétimo romance. Trata-se de um policial em um cenário que poderia ser considerado de ficção científico-antropológica, pois é estranhamente fantástico sem envolver magia e tecnologias futuristas ou alternativas. Trata-se de um par de cidades-estados imaginárias da Europa Oriental chamadas Beszel e Ul Qoma, situadas em um estuário (do Danúbio?) aparentemente junto ao Mar Negro e perto da Bulgária e Romênia. Talvez não seja irrelevante que Beszel, signifique “fala” em húngaro e Qoma, “chão” em hebraico.

O peculiar é que essas cidades falam línguas diferentes, têm sistemas econômicos, políticos e ideológicos opostos e uma história de rivalidades e hostilidades, mas não apenas são vizinhas, como têm territórios sobrepostos. Existem áreas puramente “besz” e áreas “ul-qomanas”, mas a maior parte da ação (e a mais interessante) se dá em áreas “cruzadas”, que pertencem simultaneamente às duas e pelas quais cidadãos dos dois Estados circulam diariamente, esforçando-se ao máximo para ignorar a existência uns dos outros. Aprendem desde cedo a “desver” e “desouvir” os estrangeiros, mesmo se moram em casas vizinhas, fazem compras na loja ao lado, andam nas mesmas calçadas e dirigem seus carros nas mesmas ruas.

Se um besz precisar falar com um ul-qomano que mora ao lado, precisa fazer uma ligação internacional. Para visitá-lo, tem de entrar na “Copula”, construção central que serve de conexão entre as duas cidades, apresentar passaporte à imigração e retornar ao mesmo espaço físico, invertendo seus hábitos para desver e desouvir os próprios concidadãos e mover-se apenas na cidade estrangeira. Quem desobedece e faz contato direto com pessoas e objetos do Estado vizinho é imediatamente sequestrado ou eliminado por uma entidade misteriosa conhecida como “Brecha”, encarregada de manter a separação a qualquer custo.

O protagonista e narrador, Tyador Borlú, é um investigador da polícia de Beszel encarregado de esclarecer o assassinato de uma jovem que inicialmente pensa ser uma prostituta, mas descobre tratar-se de uma arqueóloga estadunidense que trabalhava numa escavação em Ul Qoma e pretendia desvendar a origem da separação entre as cidades e o que existia entre elas. O aspecto detetivesco noir da trama não é particularmente inspirado ou eletrizante, mas funciona bem como pretexto para o investigador explorar as duas cidades e a “Brecha” e expor ao leitor a complexidade kafkiana dessa realidade alternativa.

É um cenário mundano e moderno do início do século XXI, os problemas pessoais, sociais e políticos são realistas e o lado peculiar do cenário não é tão absurdo. Em muitas cidades reais, a existência lado a lado de populações, poderes e realidades que se esforçam por não ver uma à outra é rotina. Considere-se, por exemplo, a coexistência da cidade das favelas, tráfico e milícias e de uma cidade maravilhosa da classe média, dos turistas e dos espetáculos no mesmo Rio de Janeiro, frequentemente separadas por uma esquina, ou nem isso. O cenário deste romance apenas leva essa possibilidade ao extremo.

A maioria dos romances de Miéville é ambientada em estranhas cidades imaginárias, das quais esta talvez seja a menos fantástica e mais insólita. Muitos leitores acostumados com o Old Weird acharam mais difícil suspender a descrença nesta obra, em que a barreira entre as cidades existe apenas na cultura e mente dos seus cidadãos, do que em outras nas quais a existência de mundos paralelos é “explicada” pela magia, à maneira do Beco Diagonal e da Plataforma 9¾ das histórias de Harry Potter, ou por “portais dimensionais”, como os da série de ficção científica Stargate. E ficam intrigados: afinal, o que isso significa?

Não é exatamente uma distopia, pois a vida nas duas cidades não é apresentada como particularmente terrível ou desumana. Beszel é uma democracia corrupta, e economicamente estagnada e sedenta de investimentos estrangeiros que lembra países do sul e leste da Europa em crise e Ul Qoma combina um regime autoritário, pós-socialista e hostil aos EUA com uma economia aberta e em rápida modernização, como a China moderna, mas esses aspectos não são centrais à história. Existem nacionalistas um tanto fascistas que pregam a supremacia de sua cidade e a anexação da vizinha e também há unificacionistas um tanto anarquistas que sonham derrubar os dois governos e a Brecha para unir os dois povos, mas isso é no máximo uma pista.

Seria indevidamente redutor tentar interpretar este romance como uma alegoria com um significado unívoco, mas seria um erro ainda maior julgá-lo apenas uma história fantástica, até porque a narrativa existe apenas para explorar sua ideia central. Entre as leituras possíveis, este resenhista destacaria a reflexão sobre o tema de como a ideologia se baseia em cegueira e autoengano voluntários, embora condicionados pela educação e pelo medo de sanções como a exclusão social. A separação entre Beszel e Ul-Qoma evoca o receio ou recusa a considerar a perspectiva alheia em questões sociais ou a questionar dicotomias de nação, classe, raça, gênero, sexualidade e outras. A “Brecha” faz pensar na mídia e nos intelectuais que compreendem o caráter artificial e arbitrário dessas distinções e podem ver além delas, mas as consideram indispensáveis para manter a ordem entre as massas das quais se afastaram e à quais não podem retornar, por não ter como desaprender o que descobriram.

É preciso fazer uma advertência quanto à tradução. Miéville quis dar ao texto, narrado em primeira pessoa, a voz peculiar de um estrangeiro com os deslizes gramaticais e estilísticos típicos de um homem do Leste Europeu ao falar ou escrever em inglês. Acontece que um alemão, húngaro ou eslavo ao se exprimir em português cometeria equívocos diferentes. O tradutor, ao tentar recriar as idiossincrasias do original em português, dá menos a impressão de um sotaque estrangeiro do que a de um falante nativo inculto ou descuidado. Vale a pena, porém, desver e desouvir esses pequenos tropeços para enriquecer a própria perspectiva com esta reflexão sobre a natureza relativa e limitante dos pontos de vista. Uma amostra:

"Eu não, mas quem não seria tentado a queimar ou picar em pedacinhos as anotações daquela conversa? Claro que eu não faria isso, mas... Fiquei sentado até tarde na mesa da minha cozinha, com elas espalhadas à minha frente, escrevendo distraído merda/merda por cima delas de vez em quando. Coloquei música: Little Miss Train, uma parceria, Van Morrison duetando com Coirsa Yakov, a Umm Kalszoum de Beszel, como era chamada, na turnê de 1987. Bebi mais e coloquei a foto de Marya Fulana Desconhecida Estrangeira Rompe-Brechas Detail ao lado das anotações.

Ninguém conhecia ela. Talvez, Deus nos ajude, ela não tivesse estado propriamente em Beszel afinal, embora Pocost fosse uma área total. Ela podia ter sido arrastada para lá. Os garotos encontrando o corpo dela, toda a investigação, isso podia ser brecha também. Eu não devia me incriminar levando isso adiante. Devia talvez apenas me afastar da investigação e deixar ela apodrecer. Foi escapismo por um momento fingir que eu podia fazer isso. No final, eu faria o meu trabalho, embora fazê-lo significasse quebrar um código um protocolo existencial de longe mais básico do que qualquer outro que eu fosse pago para defender.

Quando crianças, costumávamos brincar de Brecha. Nunca gostei muito desse jogo, mas aceitava minha vez me esgueirando sobre linhas marcadas por giz e sendo caçado pelos meus amigos, seus rostos em expressões assustadoras, suas mãos curvadas em forma de garras. Eu também fazia o papel do caçador, se fosse a minha vez de ser invocado. Isso, juntamente com puxar paus e pedras do chão e afirmar que eram o veio principal da magia besz, e a mistura de pique e esconde-esconde chamada Caça aos Insilados, eram jogos comuns."
Dalton 25/01/2015minha estante
Boa resenha, mas ela deixa de lado a estruturação de texto muitas vezes confusa e com pouca fluidez, que me obriga a reler trechos inteiros para não perder o fio da meada. Ainda estou lendo a obra, comprei-a inspirado pelo número de prêmios e pelo argumento (que é bom), mas quase me arrependi (e desisti) de lê-la, assim que li a biografia do autor.
Depois de 4 anos estudando esquerdopatas na comunicação - na faculdade de jornalismo - e mais dois no curso de Economia da UNIFESP (fora tudo que já acompanho em ambas as áreas, tomadas pelo marxismo aqui em nosso país), não nutria boas perspectivas para um livro escrito por alguém que faz parte da Internacional Socialista (!!!) e posa de intelectual marxista sem mostrar um pingo de vergonha ao defender uma ideologia responsável pela destruição econômica, social e institucional de 100% dos países nos quais alcançou o poder. Sem contar, claro, ser culpada inegável por um número de mortes tal, que a soma da peste negra, a gripe espanhola e os mortos pelo nazismo, juntos, não lhe fazem se quer sombra ou cócegas.
Enfim, tendo lido até aqui (um terço do livro), não deixa de ser extremamente irônico acompanhar um autor declaradamente marxista se utilizar descaradamente do conceito orweliano do "duplipensar" (sendo Orwell reconhecido como um anti-socialista ferrenho) para, nas entrelinhas, criticar a sociedade capitalista. Terminarei de ler a obra, mas temo que a arrogância e a prepotência na forma de escrever intrincada de Mieville (será que inspirada pela igualmente arrogante forma de redigir de camaradas como Adorno, Horkheimer ou Engels?), no final, só servirá para dificultar o entendimento de um texto, que em si, não têm trazido nada de novo. Estou cada vez mais inclinado a considerar o livro apenas mera extrapolação - a nível de cidades-estado-, do que seria uma Berlim dividida à força por um muro de medo (ao invés de concreto e soldados armados) e que sofre de uma amnésia artificialmente implantada sobre seu passado (um passado editado pela Brecha, que embora na trama seja uma espécie de sistema de olhar panóptico focautiano onipresente, pode, provavelmente, ter exercido a função de Ministério da Verdade orweliano editando e apagando registros históricos oficiais sobre a origem de uma mítica única cidade que unia Bezel e Ul Qoma para reforçar a narrativa nacionalista e de terror que lhe confere poder.)


Murilo Amorim 25/03/2015minha estante
Conde, de onde vc tirou a sandice de que Orwell era "anti-socialista ferrenho"?
Ao contrário, Orwell era socialista, mas um crítico dos rumos que o Stalinismo tomou após a Revolução de 17. Pouco tempo antes de escrever 1984 ele disse em uma carta, ressaltando os ideias da revolução: "Da mesma forma que eu iria apoiar a URSS contra a Alemanha, porque acho que a URSS não pode escapar completamente de seu passado e mantém bastante as ideias originais da Revolução para torná-la um fenômeno mais esperançoso do que a Alemanha nazista." No próprio "Animal Farm" a crítica ao Stalinismo fica muito longe de se confundir com o ataque ao socialismo: os dois personagens retratados de forma mais positiva (o Major e o Bola-de-Neve) são claramente inspirados em Marx e Trotsky.


Claudia Cordeiro 05/07/2015minha estante
Ótimo comentário, Conde. Não vou ler esse livro.


sagonTHX 06/07/2015minha estante
Conde, ótimo comentário. Concordo contigo, achei o livro um saco no quesito político. A parte policial foi passável. Esse é um tipo de livro que eu não relia outra vez e muito menos recomendo.


romulo mafra 03/11/2015minha estante
Até aqui o "conde" vem dar o ar de sua desgraça??? Aliás, seria aquele conde do Orkut??? Que lástima ahahahahaha




Marcelo.Castro 07/11/2022

O livro e o livro
Da leitura da orelha do livro você fica extremamente empolgado com a proposta que a obra tem. Os questionamentos políticos, sociológicos e filosóficos, revestidos por uma aura de sci-fi e com uma história policial de fundo. Mas na prática temos uma história truncada, com pouco (ou quase nada) de ficção científica, e um mistério policial que no fins da contas não tem nada de tão misterioso assim. Uma pena, porque a ideia da obra é extremamente original, e poderia se tornar uma leitura ótima, se melhor executada. Um livro que exige muito do leitor, sem dar a contrapartida equivalente.
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Shaqit 08/09/2015

As fronteiras fantásticas de China Miéville
Uma cidade qualquer no mundo. Um homem não consegue enxergar todos à sua volta. Os diferentes são invisíveis aos seus olhos: os que cultuam outras divindades, usam outras roupas, falam outra língua. É algum país convulsionado no período pós-soviético? É Jerusalém em suas divisões geográficas? Não, pois a invisibilidade aqui é real. Estamos falando de Beszel, cidade-estado fictícia da obra do escritor britânico China Miéville, A cidade & a cidade. Dividindo seu território com Ul Qoma, outra cidade-estado, os habitantes de ambas são “proibidos” de ver uns aos outros, precisam se ignorar, pois correm o risco de fazer “brecha” e cair nas garras de uma misteriosa entidade que protege as fronteiras das duas cidades.

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Dois gêneros constantemente marginalizados pela crítica literária em geral são a fantasia e o policial. Em A cidade & a cidade, o escritor britânico junta os dois para construir uma importante e impactante obra que transcende os gêneros, quebrando as amarras que os prendem às convenções e os limitam. Miéville costuma dizer que aprecia a literatura fantástica pois a mesma funciona para “além da metáfora”. As cidades que coexistem mas são invisíveis uma para a outra não é apenas uma forma de se referir às cidades divididas como Jerusalém atual ou a antiga Berlim. Ou ao nível mais geral de invisibilidade que determinadas características constroem no cotidiano das grandes e pequenas cidades no mundo, como a cor, o credo, a classe. As cidades são literalmente assim. E é nessa característica que Miéville nos conduz em sua trama. O procedimento é o clássico do gênero policial: um corpo é encontrado, nada se sabe a princípio quem é a misteriosa mulher assassinada. Pistas vão surgindo e se aponta algo grande demais, onde o detetive Tyador Borlú se sente ludibriado ou empurrado para longe. Seguir Borlú e ir aprendendo sobre a geografia e história de Beszel e Ul-Qoma é fascinante. E é na construção do espaço, que aqui atua como um importante personagem, que o romance brilha.

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Embora diga que o movimento “new weird”, do qual foi um dos principais representantes, é passado, o bizarro, o estranho, não se desprendeu da obra de Miéville. E isso não é, de forma alguma, demérito. Ganhador de diversos prêmios, inclusos o Locus Award, World Fantasy Award, Arthur C. Clarke Award, o prêmio da Associação Britânica de Ficção Científica e o Hugo Award, maior prêmio do gênero de Ficção Científica, a estranheza que permeia a obra de Miéville por completo e esse livro em particular mostra que possui muita força. Buscando inspiração em mestres da literatura policial mais ‘pé no chão’ e suja, como Raymond Chandler e Dashiell Hammett, e também em autores de ficção científica como Philip K. Dick e no expoente da literatura fantástica, o polaco Bruno Schulz, a quem o livro é dedicado, é que Miéville constrói sua trama. A jornada do inspetor Borlú pelas duas cidades na perseguição do assassino da jovem conhecida de início apenas como Fulana Detail, é instigante. Sua incursão pelo submundo da política também é interessante. Embora não panfletário, esse livro perpassa algumas ideias que o autor defende enquanto militante. Segundo o próprio, é impossível se dissociar, pois é a forma qual ele vê o mundo. E é esse diferencial que o eleva a um dos grandes nomes da atual ficção científica mundial, embora sua obra seja difícil de classificar. E é nessa “brecha” entre os gêneros que esse romance se faz, lançando mão de diversos tropos literários, sobretudo da fantasia e do policial, para questionar, principalmente, os conceitos de fronteira que possuímos. Tanto a fronteira geográfica, na questão irreal das divisões absurdas das duas cidades, chegando a pontos onde ninguém sabe ao certo a qual cidade pertence, até as fronteiras sociais, colocando em xeque o conceito de “desver” a qual os cidadãos de cada cidade são treinados para não perceber o da sua contrapartida (é crime punido pela assustadora Brecha, entidade mítica e misteriosa que supervisiona as duas cidades). Nos fazendo questionar a organização social e também apreciando esses moldes clássicos da narrativa de gênero, Miéville mostra que para ser relevante pode, assim como o inspetor Borlú, viajar entre fronteiras absurdas mas bem marcadas entre a chamada “baixa e alta” literatura. E, ainda bem, estamos em um período que “fazer uma brecha”, como os personagens da obra, não é crime. É, diria, até desejável. Que mais fronteiras sejam transgredidas, por favor.





site: http://fastfoodcultural.com.br/a-cidade-a-cidade-as-fronteiras-fantasticas-de-china-mieville/
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Inn Moura 30/01/2021

Bom, mas não surpreendente
Quando comecei a ler A Cidade e A Cidade, me senti num torpor, parecia que eu estava lendo e não lendo ao mesmo tempo, o livro não me pegou de imediato, tive que insistir na leitura. A escrita de Mieville não é inovadora como muita gente diz, já vi vários livros que são escritos como o fluxo de ideias da nossa cabeça, cheio de repetições, maneirismo, gírias, erros de dicção. Como o próprio tradutor diz, o autor parece ter escrito em sua língua fictícia, o Bész é traduzido espontaneamente para o inglês, por isso, o texto parece tão confuso de início. Em geral é uma boa leitura, mas extremamente confusa, o desfecho não é interessante, pelo contrário, bastante previsível, demorei horrores pra ler pq não tinha muito interesse de ficar lendo durante o dia, a escrita é muito arrastada e lenta e enrolada.
Assisti também a série baseada no livro e o começo, o primeiro episódio é bem parecido, porém, a partir do segundo episódio, distorce bastante do livro e ainda inventaram uma esposa fictícia pro protagonista sem necessidade alguma.
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Manu 01/02/2021

A cidade, a cidade e o indivíduo
"Eu sempre quis viver onde pudesse ficar olhando trens estrangeiros". Para mim essa frase do inspetor Borlú resume um pouco do contexto retratado no livro: as cidades de Bészél e Ul Qoma compartilham um território físico intercalado, mas se divisam a partir de fronteiras muito familiares para os seus habitantes que, por meio do recurso de "desver", garantem a cisão entre as duas cidades.

Nesse intricado contexto, o assassinato de uma jovem exige que o inspetor Borlú mergulhe à fundo nessas fronteiras, nas diferenças culturais que separam Bészel e Ul Qoma não só uma da outra mas que também as diferencia de outros países, bem como nas tramas políticas travadas nas duas cidades, entre aqueles que contestam esse estado de coisas e aqueles que buscam preservá-lo.

A partir desses elementos o China Miéville construiu um livro nada previsível e que promove reflexões interessantes sobre as formas de organização social e seu reflexo nos indivíduos. Sem dúvidas Miéville é um dos grandes escritores do nosso tempo e a narrativa instigante de A cidade e a cidade é um verdadeiro presente aos seus leitores.
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Ana Flávia 05/05/2022

Mundo muito rico
A criação do mundo é muito sólida, sem cansar a leitura. É uma narrativa lenta, sem correria nem tramas de ação. Tudo se desenrola lentamente e com muita calma. Gostaria de ler mais sobre esse universo!
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Léo T 19/04/2015

Ainda bem: não é um manifesto.
A CIDADE E A CIDADE é um livro sobre duas cidades que ocupam o mesmo espaço geográfico e são completamente divididas - não por muros, mas pelos próprios cidadãos que aprendem desde criança a "desver" (lê-se: ignorar) os habitantes, prédios, carros e até mesmo assassinatos que acontecem na "outra" cidade. Qualquer habitante que desobedeça esta clivagem e "veja"elementos da outra cidade é imediatamente detido por uma poderosa sociedade secreta chamada Brecha, que existe para policiar esta separação entre as duas cidades.
Neste cenário, o detetive Borlú da cidade de Beszél (uma das cidades - espécie de Berlim Oriental) se depara em seu "território" com o corpo desfigurado de uma universitária da cidade de Ul Qoma (a outra cidade - espécie de Berlim Ocidental), brutalmente assassinada. Os primeiros indícios apontam para um assassinato que aconteceu nas duas cidades ao mesmo tempo, o que torna a investigação de Borlú confusa e muito perigosa, principalmente quando ele descobre um complô envolvendo a Brecha.
Mais do que uma ficção-científica noir, esta primeira obra do China Miéville - Brasil a que tive acesso (ganhou vários prêmios da área) é uma alegoria muito bem feita sobre divisões sociais ou étnicas comuns em metrópoles mundo afora. Gostei bastante. China é inglês, doutor em Relações Internacionais pela London School of Economics e esquerdista assumido, o que dá contornos muito mais fortes e realistas para os embates políticos e sociais entre as duas cidades narrados na obra.
No entanto, para minha sorte, o livro é um suspense policial de fato e não um manifesto. O final do enredo deixou um pouco a desejar, mas a ambientação das duas cidades coexistindo e se ignorando no mesmo espaço geográfico é de uma criatividade absurda, o que já vale a leitura. Isso sem falar nas perseguições acontecendo simultaneamente nas duas cidades sem que as pessoas possam se tocar ou se ver - o máximo. Próximo alvo: PERDIDO STREET STATION, do próprio China.
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Bruno.Santos 22/08/2021

Incrível
Nossa, que livro bom, tava pegando leve na leitura para aproveitar por mais tempo, sem pressa para chegar no final, consegui até um ponto, mas não dá resistir, a curiosidade e a empolgação não deixam o fluxo lento.

Essa atmosfera meio noir, meio distópica é fascinante, queria mais coisas, casos e causos sobre a Brecha.
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Claire 24/01/2019

A Origem das Cidades
A Cidade e a Cidade nos descreve uma realidade onde um país inteiro, na verdade, são dois. Imagine que, aqui no Brasil, ao invés de sermos um Estado, somos dois, e que esta divisão entre um e outro não é linearmente definida, de maneira que, seu vizinho mora em um país e vc em outro, e talvez seu quintal seja em outro país, de maneira que todas as pessoas que andam por lá, devem ser "desvistas" por vc, ou a penalidade será alta. Bem alta.

Os dois países que existem coabitando o mesmo ambiente entre ruas cruzadas e individuais, são divididos somente pela cultura assimilada desde a infância, que faz cada pessoas ver e "desver" o que está e o que não está em seu país, assim como "desouvir", "dessentir", etc. Eu aguardei até o final do livro para entender o porque, mas não houve nenhuma explicação sobre isso. Não sabemos porque as cidades são misturadas, como isso aconteceu, não sabemos a origem da entidade auto-intitulada "Brecha", que mantém cada pessoa do seu lado da rua, em seu próprio país. Nada foi explicado quanto a isso, absolutamente nada.

O plot principal é sobre um assassinato, e este sim é resolvido, mostrando seus detalhes de como tudo aconteceu, o que para mim, foi apenas bem razoável. Imaginei que, dentro do desvendar do assassinato investigado pelo Inspetor Borlú, por Corwi e por Dhatt, nós, leitores, descobriríamos sobre a origem e razão de haver um país misturado ao outro, de haver esse terceiro lugar chamado de Brecha, e tudo isso. Mas não foi o caso.

Boa leitura, boa narrativa, mas ficou bem aquém das minhas expectativas.
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Carlos Magno 07/02/2015

RESENHA DO BLOG "CANTINA DO LIVRO":

Beszél e UI Qoma são duas cidades-estado situadas geograficamente no mesmo lugar, porém completamente opostas. Os cidadãos de cada lugar aprenderam a não ver (ignorar ou "desver", como é definido no livro) a outra cidade, sejam as pessoas, lugares ou qualquer coisa referente ao "outro lado da moeda", sob pena de terem feito uma brecha, acarretando assim em punições gravíssimas, de acordo com o nível da brecha. Para ficar mais claro: cometer uma brecha é como você estar em UI Qoma e parar para admirar um ponto turístico de Beszél, por exemplo. Transitar de uma cidade para outra é algo quase incabível para os cidadãos comuns.

Mas quem controla tudo isso? As duas cidades são administradas por uma monolítica autoridade denominada de Brecha (B maiúsculo), uma "instituição" temida por todos de ambos locais.

Diante de tudo isso que foi descrito, a história de A Cidade & A Cidade nos apresenta um crime curiosíssimo: Uma jovem foi morta em Beszél mas logo descobre-se que ela vivia em UI Qoma. Sem identidade, motivos aparentes ou o que ela fazia, o inspetor Tyador Borlú foi incumbido de investigar o caso. E claro, logo viriamos que não se tratava de um crime qualquer. A apreensão aumenta proporcionalmente ao quanto o inspetor Tyador Borlú se envolve com a resolução do crime. No que a jovem estaria envolvida a ponto de ser assassinada? Quem o faria e quais os motivos para isso?

Em meio a todo aquele problema, descobrimos mais um mistério paralelo que englobaria o livro: o mito de uma terceira cidade "fantasma", com suas próprias leis e regras: Ornicy.

O livro é dividido em três partes de acordo com a transição de Borlú pelo crime: Beszél, UI Qoma e Brecha. A Obra se destaca não apenas pelo seu conteúdo arrebatador e surpreendente, mas também pela visivel preocupação do tradutor da obra (Fábio Fernandes) em manter a forma como o autor China Mieville decidiu desenvolver seu trabalho, preservando aspectos como as linguagens dos personagens (gírias e palavras comuns naquela respectiva localidade) como os lugares descritos.

RESENHA COMPLETA:

site: http://cantinadolivro.blogspot.com.br/2015/02/resenha-cidade-cidade.html
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Leonardo T. 05/10/2015

Já imaginou duas cidades que ocupam o mesmo espaço físico? O China Miéville já.
Crítica publicada originalmente no site leioeu.com.br

As histórias de China Miéville chegaram às terras brasileiras pela extinta Tarja Editoral, em 2010 com o romance Rei Rato. Com a descontinuidade da Tarja os leitores brasileiros ficaram sem um horizonte de obras traduzidas desse relevante autor que começou uma nova corrente de literatura de ficção conhecida como "New Weird". Mas as brumas da incerteza logo se dissiparam, pois a Boitempo havia anunciado a compra dos direitos de publicação em língua portuguesa de toda a obra desse autor singular. E, em 2014, trouxe, pela primeira vez, a versão em língua portuguesa do sétimo romance de Miéville: A Cidade & A Cidade.

A Cidade & A Cidade parte de uma premissa extremamente instigante e criativamente estimulante. Imagine duas cidades-estados que existem no mesmo espaço físico. Sim! Não são separadas por geografia e fronteiras físicas, mas sim pela mente de seus habitantes. As cidades se chamam Beszel (cidade de origem do narrador-protagonista) e Ul Qoma, e são separadas por uma espécie de conduta mental onde seus cidadãos aprendem a desver os habitantes, prédios, trânsito e tudo mais que pertença a outra cidade. Mesmo que os moradores de Beszel estejam em um prédio adjacente a um prédio de Ul Qoma, os mesmos falam línguas diferentes, e se precisarem fazer alguma ligação entre as cidades é preciso fazer uma ligação interurbana.

Tendo este incrível cenário de pano de fundo (nem tão de fundo assim!) acompanhamos a jornada narrativa do detetive Tyador Borlú, do Esquadrão de Crimes Hediondos de Beszel. Borlú se depara com o assassinato de uma jovem, que a princípio parece ser apenas mais um simples caso de violência urbana, mas que, conforme o investigador vai mergulhando na cena do crime e nos fatos incongruentes que o cercam, mais ele se envolve com um grande mistério que envolve as duas cidades.

Há uma espécie de "sociedade secreta" conhecida como Brecha, que controla as barreiras mentais entre as duas cidades. Ou seja, um cidadão de Beszel que ouse "ver" um cidadão ou qualquer outra faceta de Ul Qoma (e vice versa) está em apuros, pois está cometendo o que eles chamam de brecha e pode ser perseguido e julgado pela sociedade homônima.

Estes três elementos (As cidades, a investigação de um assassinato e a Brecha) formam a trama do romance. Podemos encarar como uma espécie de romance policial, mas a história vai muito mais além e provoca estranheza e admiração.

A questão do "desver" o outro pode ser usada para refletir sobre a nossa própria condição como sociedade. Não é difícil reparar que em uma cidade grande como, por exemplo, São Paulo existam duas cidades. Quantas vezes não "desvemos" os moradores de rua, as favelas etc.

Só pela premissa das cidades, A Cidade & A Cidade vale cada centavo pago e cada segundo de leitura. É um livro onde o mais importante está nos ornamentos e detalhes espalhados aqui e acolá na história principal. E, é claro, na metáfora (proposital ou não) que nos faz refletir sobre a nossa condição enquanto sociedade e ética humana.

Leitura altamente recomendada.


site: http://www.leioeu.com.br/2015/10/a-cidade-cidade.html
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Jacqueline 14/02/2021

Baseado em fatos reais...
"A Cidade e a Cidade " é uma ficção científica baseada em fatos reais mas não é uma distopia. Pra mim que acompanho assiduamente política e relações internacionais foi impossível olhar para Beszel e Ul-Quoma e não pensar em Jerusalém disputada por Israel e pela Palestina, por exemplo. Estados que coexistem geograficamente e se ignoram, se desvêem. É um livro com misto de ficção científica e policial, com um enredo instigante. A crítica social não é explícita e nem panfletária mas ela está lá, e reflete o arcabouço teórico do autor China Miéville , cuja formação acadêmica passa pela antropologia e pelas relações internacionais. Confesso que demorei a engrenar a leitura, já que o estilo da escrita é propositalmente meio truncado no início.Mas a insistência na leitura valeu a pena e no fim eu fiquei positivamente impressionada.
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Rabello 18/09/2018

Surreal!!
Pela primeira vez um livro me fez "bugar" a mente.
O autor cria um mundo onde até agora eu não consegui imaginar completamente. Andei pela minha cidade tentando imaginar duas cidades geograficamente no mesmo lugar, não consegui. Isso só me faz ficar abismado como a mente humana pode se superar.
Uma mistura de Thriller com ficção científica que tira nossa mente da zona de conforto e nos leva a perguntas questionáveis. Um livro que todos os amantes de ficção científica devem ler e ter em suas estantes.
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