Lina DC 22/09/2014Emocionante! "O reino das vozes que não se calam" é uma trama delicada, que expõe a fragilidade humana perante a ignorância e desdém de terceiros.
Narrado em terceira pessoa, o livro conta a história de Sophie, uma adolescente que um pouco introspectiva, tem uma linda voz apesar de não cantar em público e uma alma realmente sensível. Acontece que ela é extremamente magra, e com isso aguenta piadinhas de mau gosto, acusações de anorexia e indiferença dos colegas da escola. Sophie tem apenas uma amiga, a Anna, que é do grupo dos populares.
"- Eles chamam você de "graveto"? - pergunou a mãe aflita, de repente.
- Tem coisas piores....
- Ah, sei lá! Mumm-Rá, The Walking Dead, Olívia Palito, E o vento levou, professor Girafales, louva-a-deus, desentupidor de pia, bandeira de pirata...." (p. 20)
Acontece que mesmo sem uma intenção de causar mal, Anna coloca Sophie em uma situação humilhante em uma festa e a protagonista que já era isolada na escola, cria barreiras intransponíveis.
Seus pais claramente a amam, mas de alguma forma não a compreendem. Fica claro que Laura e George querem o melhor para a filha, mas não sabem exatamente o que seria o melhor, e acabam ouvindo e acreditando em terceiros ao invés de sua filha, o que cria um isolamento ainda maior.
"- Você vai ter que pegar essa almofada! Agora, volte para Mármia, vou deixar você em paz.
- O nome é Nárnia, mãe! - retrucou ela, rindo.
- Tanto faz! Tem sorte de eu não chamar o leão de Simba." (p. 17)
O único escape de Sophie é quando ela consegue ser "sugada" em seus sonhos para um reino de beleza extraordinária. Um lugar onde ela é amada e querida por ser ela mesma, onde ninguém a julga ou tenta mudá-la. Então Sophie decide fazer a única coisa sensata: conseguir ficar nesse reino permanentemente. Como não querer ficar em um local onde as flores cantam, onde Sycreth, a guardiã real é como uma amiga, onde a Rainha Ny é a sua avó, e Jhonx, é um felino falante?
"No topo daquele mundo fantástico, quase não se lembrava de família, escola, amigos, inimigos e traições. Só pensava em beleza e liberdade.
Sentia-se dona do mundo." (p. 44)
Diante da escolha entre dois lugares tão diferentes, um lugar onde sua voz não passa de um sussurro e outro em que seu sussurro se torna a voz do lugar, Sophie passa por sofrimentos até alcançar a resposta para a questão primordial: "Por que não posso ser feliz?"
Sua decisão seria tão fácil se não surgisse um aluno novo chamado Leonardo Gomez, que está decidido em acompanhá-la e assistir Sophie sorrir. E também a uma garota chama Mônica, que aos pouquinhos vai ganhando espaço e importância no cotidiano de Sophie.
A escrita das autoras é fluida, poética e viciante.
O livro é um lindo relato sobre encontrar sua voz em meio a um mundo caótico e turbulento. Uma história sobre amar a si próprio e o próximo, da maneira que ele é. Um livro que fala de amor, crescimento pessoal e sobre encontrar filetes de cores em um mundo cinzento.
O trabalho editorial desse livro está perfeito. Da capa deslumbrante, que combina com a trama, a parte interna e até a revisão, tudo está impecável.
"Ninguém pode fazer outra pessoa feliz. Nós precisamos encontrar a nossa própria felicidade. Eu nunca achei que fosse digna de ser feliz. Esse sempre foi o grande problema." (p. 251)
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