spoiler visualizarPablo 22/08/2015
A Queda do Acrobata
Sabe quando um livro sussurra para você? É o caso de WOLLF, Fausto. “O acrobata pede desculpas e cai”. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998 comigo. Comprei-o naquele programa da Imprensa Oficial do Rio de Janeiro em que os livros saem de R$2 a R$3 – vida longa! Escolhi pelo título, confesso. Adoro a possibilidade do anti-herói, que me parece muito mais interessante em nível de análise do que o perfeitinho lutador. Minhas paragens são os sobreviventes. Eles merecem minha reverência mais interna.
Escrito em pura e latente melancolia e uma contundente visão do plano político-social brasileiro (“Interessante: sempre há quem dirija a opinião pública” – p.19), o texto angustia o leitor. De suas verdades desveladas e de suas duras constatações psicológicas, torna-se um grande desafio ao redimensionar os sentimentos de personagens, narrador e experienciador. Obra-prima para releitura. Não o indico com o breve estreitamento lateral dos lábios da formalidade, mas com o choro entranhado de uma humanidade que deve olhar para si mesmo se pretende crescer.
A sociedade, como grande teatro e acordo pela regência econômica, sobrepõe-se ao indivíduo, aquele que quer ser, mas que TEM DE SER. Só que há luta, há resistência da personagem. E é isso que, talvez, me aproxime dele. Afinal, “não sei [não sabemos] fingir que não jogo o mesmo jogo” (p.11).
Joga com símbolos, entoa lugares-comuns que trazem o leitor para o lado do autor. Deles, o que permeia a obra é o sorriso. De expressão da alegria à máscara que agrada os pares, implanta-se no rosto daquele moço à força. “Eu, porém, não posso deixar de sorrir. Sorrir, como sempre faço. Ensinaram-me a sorrir muito cedo” (p.17). Quase berçístico, como o choro, como a vontade de comer será?).
Todo o tecido, sensível, entoa uma brasilidade moderna quase contemporânea. Não há sutileza: as coisas são ditas. Há momentos em que assim se lê melhor. “Provavelmente, me obriguei à escuridão” (p.9). Escuro como uma dissecação. Duro como uma visão não romântica de si mesmo. Escrito que dá, mas que arranha. “Nada importa muito. Apenas o tempo e depois o fato. Às vezes eu penso que gostaria de participar, mas não consigo” (p.13).
Tenta ser um cachorro (p.32-3), mas fere: “sou um mau cachorro e depois falta-me talento para pedir desculpas” (p.33)... Seria tão mais fácil! É aquela parte de todo ser humano que insiste em manter tudo no lugar – casa organizada é mais fácil de cuidar. Entretanto, não pode ser um cão desses: “Deus condenou-me à humanidade” (p.33).
Mas há uma cruzada, porque “o estrangeiro precisa morrer e sabem disso, pois – caso contrário – como poderão rezar em paz esta noite?” (p.61). Já disseram tantos: o mundo hostil depende do hostilizado. Às vezes, é mais fácil ser transparente e apático, João Teimoso (p.115). Mas nunca é recomendável. Como todo ser humano, texto rico em mas. Mas.
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