PorEssasPáginas 12/02/2016
A Cuca Recomenda: Exorcismos, amores e uma dose de blues - Por Essas Páginas
Neon Azul, de Eric Novello, foi uma das minhas melhores leituras do ano passado. Fui conquistada logo nas primeiras linhas e, a cada conto, via minha admiração crescer pela escrita do autor. Por isso, quando recebi Exorcismos, Amores e uma dose de blues da Gutenberg fiquei em êxtase! Logo comecei a ler (no início de 2016), mas acabei finalizando o livro apenas esses dias. Esse não é um romance para ser devorado, como os que eu mais me identifico, tampouco uma história que agradará a todos os paladares. Embora reconheça um bom texto quando vejo um, nem sempre meu paladar é tão refinado para apreciá-lo, e talvez tenha sido isso que ocorreu aqui.
Junte boa música, fantasia noir, magia, seres fantásticos e amor em todo tipo de dose e frascos, e então terá um vislumbre do que é Exorcismos, amores e uma dose de blues. É claro que o livro vai muito além. Tiago Boanerges é um exorcista que encontrou sua perdição em um caso no qual se apaixonou por uma musa, mas agora tem a chance de finalmente concluir sua missão – e, de quebra, reencontrá-la e outros amores e mistérios no caminho. O livro é uma sucessão de encontros fantásticos e conversas envoltas em fumaça e, cá entre nós, a palavra define bem meu sentimento: do início ao fim, o romance me pareceu enevoado, de certa forma imaterial, algo que eu não conseguia decifrar ou tocar. Foi como ser convidada para uma festa, mas ser deixada em um canto, sem ninguém para conversar.
“Poderia ser até o fim dessa vez. Não queria mais seu respeito nem se importava em morrer dentro dela. Na verdade, já estava morrendo, só não sabia disso.” Página 122
A escrita de Eric Novello continua muito bem trabalhada, impecável em vários sentidos, mas não funcionou para mim no formato romance. Talvez eu deva me manter nos contos do autor – pequenas doses de uma escrita de alto nível, que eu posso apreciar apenas como um drinque delicioso no canto de um bar. No livro, por sua vez, eu me senti confusa e desamparada, flutuando entre realidades e personagens pelos quais não consegui me envolver. Talvez as que eu tenha chegado mais próxima de sentir afeição foram Liz e Julia Yagami, duas personagens femininas belamente escritas, com personalidade e brilho próprios, e uma grande importância na trama. Do resto, nem tanto; o próprio Tiago por vezes me parecia distante, apenas levado pela correnteza dos acontecimentos. Não me apeguei o suficiente a ele.
Às vezes o livro parecia simplesmente grande demais, denso demais, e eu me cansava da leitura. Era muita informação para absorver, fatos, personagens e criaturas que poderiam ter sido um pouco mais apresentadas, não de maneira didática, claro, mas com um pouco mais de atenção. Era nesses momentos que me sentia mais no canto da festa e acabava deixando o livro de lado para me dedicar a outra leitura. Refletir sobre o que se lê é essencial, mas, como diz King, prefiro não fazer isso enquanto leio, mas sim depois. Algumas passagens ficaram extensas demais, enquanto informações que poderiam ajudar o leitor foram passadas rapidamente, fazendo com que ficasse difícil engrenar um melhor ritmo de leitura.
Não me entenda mal: Exorcismos, amores e uma dose de blues está bem longe de ser um livro ruim. Pelo contrário, é perceptível a escrita cuidadosa, a pesquisa e o domínio que o autor tem de seu próprio universo. Há, ainda, algumas menções à boate (ou bar, não sei) Neon Azul que me deixaram bem contente e revelam com o autor possui todas suas histórias interligadas entre si, o que é admirável. A escrita é de extremo alto nível, talvez alto nível demais para mim. Prefiro as coisas mais sólidas, mais diretas. Talvez apenas não seja um romance para mim. Talvez seja um romance para você. Boa viagem!
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