Nathan.Seriano 09/03/2024
O título é lindo. A história, nem tanto assim
Eu poderia começar dizendo inúmeras coisas, de inúmeras formas, mas vou me atrelar ao básico: O livro é ruim!
Adquiri esse livro há muito tempo, logo no seu lançamento, porque sejamos sinceros, este título é fenomenal, e olha que eu nem gosto de Blues. Só consegui terminá-lo depois da terceira tentativa, e achava que o problema estava em mim, (juro!), começava, ia até uma parte e parava e não conseguia entender o porque, já tinha colocado na cabeça que eu iria adorar esse livro e talvez tenha sido meu primeiro erro.
Todavia, vamos por partes: A escrita do Eric, tinha tudo pra levar esse livro a uma infinidade de coisas boas e bem executadas, mas isso não acontece, e sabe porque? Porque não tem uma introdução digna para você minimamente entender as coisas, ou alguma explicação decente que dê algum foco ao leitor, que integre o leitor aquele mundo. O tempo todo em que li essa trama, eu me via muito alheio aos fatos, descrições rasas, muitos personagens, um passado, que é minimamente explorado, um presente confuso, cheio de pessoas que aparecem do nada, que não ajudam em nada, pelo contrário, apenas atrapalham e parece que a história não caminha, só patina.
Existe um glossário no final do livro, que não serve de nada, poderia, tranquilamente ser inserido na história com breves descrições, até porque pelo tanto de coisa que o autor tenta inserir, o glossário mais atrapalha do que ajuda.
Com a ausência dessas informações no início da história já a torna muito problemática, quando eu parei as duas primeiras vezes, eu não tinha tanta criticidade para entender o que não encaixava para mim, agora eu vejo que é a linha narrativa. A ideia é excelente, e o livro até funcionaria bem SE e SOMENTE SE ele fosse uma sequência que finalizasse uma trilogia, duologia, série, ou alguma coisa com mais volumes. Já fui um grande amante de sequências literárias, hoje não me agradam mais, e por isso ressalto que ele fecharia muito bem uma história longa e densa, uma na qual esse passado que é colocado, e é tão raso, fosse explorado de forma que caracterizasse minimamente e mais profundamente esse universo que o escritor tenta explorar, e que parece ser incrível, entretanto, não é. O Passado, (não estou dizendo o começo da narrativa) fica muito, muito, muito, muito jogado, de forma alguma você consegue se aproximar dos personagens, se identificar, sentir algum tipo de sentimento por eles, por todos eles, Thiago, Júlia, Liz, Dinho, Bonini, Jaques, Beatrice (que por sinal, a história funcionaria muito bem sem ela). Você não consegue ter nenhuma empatia por qualquer um.
É um livro com muitos acontecimentos, mas raso, completamente raso, os plots finais, não serviram de nada, não se tem uma emoção transmitida aos leitores, a única emoção transmitida a mim era “MEU DEUS ACABA LOGO, QUE LIVRO CHATO!”
A estrutura do livro, não me agradou nem um pouco, apesar de ter inúmeras referências incríveis, principalmente pelo blues, tem muita, isso poderia ser tranquilamente enxugado facilmente, daria mais coesão e coerência. O livro é ambientado na capital paulista, São Paulo, que é chamada neste universo de Libertà, o que é fantástico, até pq SP tem exatamente essa mesma energia: Liberdade. Achei incrível as referências aos lugares, como o ibirapuera e me vi indo de um lado pro outro da cidade com o Thiago, mas apesar dessa identificação, quem não conhece a capital paulista, não tenderá a esse mesmo envolvimento (que foi bem difícil por sinal) inclusive, até me arrisco a dizer que foi o único motivo que me segurou até o final. Na real, eu queria mesmo que os personagens fossem pra lua, todos, sem exceção tiveram uma motivação horrorosa.
Falando da história agora: Ambientada em Libertà, o livro conta a história de Thiago, um exorcista, que teve um caso com um ser onírico, (e aí eu te pergunto, o que é onírico? Até porque o livro não explicita isso de uma maneira clara o suficiente) que possuiu sua namorada/ficante há um tempo atrás, e se alimentava do Thiago, de sua energia, através dos prazeres (Sim, é isso mesmo, o ser ‘maligno’ absorve energia do Thiago e de sua hospedeira por meio do sexo, ou seja, não é um a dois, e sim um a três pois a namorada está possuída, literalmente) - Importante destacar aqui que isso acontece no passado - o presente e o início da narrativa mostra o personagem principal tentando reconstruir a vida depois desse episódio que quase o matou e quase matou sua namorada/ficante. Seu ex-chefe liga para ele dizendo que a Musa (este ser onírico) retornou e que é para ele encontrá-la e que precisa ser por baixo dos panos. Não pode ser de forma oficial, porque o Conselho de Hórus, a instituição em que Thiago trabalhava, não pode saber e o próprio Thiago foi afastado depois do seu envolvimento com a Musa. A história começa a caminhar a passos lentos, como se você já estivesse inserido neste mundo, utiliza de “termos técnicos” e descrições que nos fazem reler o mesmo parágrafo algumas vezes e pensar “cara que que isso????????” O personagem principal, é um exorcista, que manda os ‘oníricos maus’ para uma terra além, mas fica completamente estranho a forma como ocorre isso, várias vezes a descrição do acontecimento é apenas uma frase como: “conduziu o exorcismo rapidamente” apenas isso. Não fala o que é, como faz, se faz, é raso e é isso que me dói mais neste livro.
Tem cenas excelentes, mas a descrição, mais uma vez, acaba com a magia da coisa, você precisa reler muitas vezes o mesmo parágrafo para conseguir entender o que de fato acontece, não tem a coesão o suficiente para estabelecer o que o personagem faz, como faz, e a sua motivação naquele contexto. Outro ponto que poderia ser incrível, é o entremundos, que é uma literalmente isso, um local que fica entre os mundos, entre as realidades, e que são acessadas por meio de uma passagem ou pode ser através dos espelhos, tanto que existem os reflexos, que da mesma forma, o nome é bem autoexplicativo, são os reflexos de outros mundos, e que teve a melhor descrição, na primeira vez que os personagens entraram lá, a segunda vez que os personagens vão parece muito ter sido escrito às pressas, não tinha nexo, confesso que nem deu pra entender o porque eles estavam indo lá novamente.
Júlia, sua pupila, é uma querida, uma necromante, que está na faculdade de necromancia por possuir esses poderes inatos desde seu nascimento, a idéia dela é ótima, mas a sua execução, mais uma vez, não. Ela é engraçada, bonita, de fato, uma querida, mas teve uma única função e que poderia ter sido concluída por outra personagem, que parece ser mil vezes mais interessante que ela. Da mesma forma que o passado do Thiago, o seu passado, é completamente confuso e completamente raso, nem motivação a coitada tem. Ressalto também, que é entendível que ela era pra ser o suporte emocional do Thiago mediante ao que aconteceu com ele, no entanto, não se tem a proporção disso, apenas uns detalhes, uma preocupação meio tosca e mais uma vez, executada de forma rasa. Percebe-se que há um vínculo intenso, mas isso de forma alguma é transmitido com clareza o suficiente para o leitor. Existem personagens que poderiam ser mais, ou que poderiam simplesmente ser cortados facilmente, como o Marafo, que tem um capítulo inteiro sobre ele, e que não acrescenta em NADA.
Para finalizar, é um livro cheio de pontas soltas, a impressão que dá é que o autor pegou um emaranhado de barbantes, tentou desembaraçar, na metade do caminho você desiste e simplesmente começa a picar o rolo embaraçado a fim de aproveitar alguma coisa. Como eu disse anteriormente, funcionaria muito bem se fosse o final de algo maior, ou até mesmo se mudasse a forma como a história é transmitida, talvez uma história em quadrinhos, como numa resenha que li, ou até mesmo uma série. Mas como tudo é muito raso, qualquer possibilidade de adaptação é perigosa demais, e se for conduzida como a escrita desse livro, é melhor não arriscar, deixar apenas no literário mesmo, o que é uma pena. Numa generalização, de zero a dez, eu daria um 3, e esse três ainda é muito.