NaiaraAimee 18/10/2014
Uma leitura envolvente
No início do livro a Syrie James nos diz que este se trata de uma história verídica, os diários realmente existiram, foram encontrados nas Ilhas Virgens Britânicas e autenticados como sendo da Charlotte.
O livro está divido em três volumes e foi escrito de forma romanceada. Quem já leu As Memórias Perdidas de Jane Austen, conhece o estilo da autora e já sabe o que esperar: apenas uma narrativa deliciosa, com lacunas muito bem preenchidas e um estilo bastante fiel a dos autores. Para quem não conhece sobre a vida da Charlotte e até mesmo de suas irmãs, vai se surpreender com a maravilhosa história das Brontë.
A narrativa é feita pela autora como se ela própria fosse Charlotte, por isso irei resenhá-lo como se fosse a própria Charlotte Brontë que estivesse nos contando a história. O diário se inicia com a chegada de Nicholls Bell a Haworth, enviado para auxiliar seu pai na paróquia. Logo de cara, ele mostra uma opinião muito machista em relação às mulheres e tece um comentário sobre a Charlotte, que a deixa bastante ofendida. A partir desse dia, ela nutre por ele uma antipatia ferrenha, o que só vem a aumentar com o passar do tempo e algumas revelações desfavoráveis a seu respeito. Conforme a narrativa vai se estendendo, vamos conhecendo vários lados de Nicholls e sua personalidade: ora nos deparamos com seu mau-humor, sua timidez, ora com suas maneiras cordiais e sua bondade, pois se mostra o tempo todo pronto a ajudar a família Brontë e todos os que estão ao seu redor.
Branwell, Emily e Anne também são constantemente citados e têm suas histórias contadas. Branwell é o irmão mais velho que, após ter um caso com uma mulher casada, volta com a irmã Anne para a casa em Yorkshire. Lá ele se afunda na bebida, torna-se violento, um desalento para o pai e as irmãs que tentam ajudá-lo sem sucesso. Ela relata seus momentos bons com Branwell, nos levando um pouco ao passado, onde ambos escreviam juntos sobre Angria, um país imaginário no continente Africano, com Zamorna, um personagem inspirado em um herói de infância que lutou na batalha de Waterloo: Duque de Wellington.
Emily, a irmã do meio, é muito simples. Uma pessoa de poucas palavras, sem vaidades e também bastante reservada, até mesmo para com suas irmãs, sem deixar com que elas vejam seus trabalhos. Um dia entrando em seu quarto, Charlotte não consegue deixar de ler alguns de seus poemas, o que a deixa muito irritada e sem falar com ela por dias. Suas irmãs, contudo, conseguem convencê-la a dividir suas obras e publicá-las.
Ao contrário de Emily, a doce, meiga e corajosa Anne, a irmã mais nova, sem muitos receios, parece sentir prazer em compartilhar suas obras, se mostra uma pessoa inteligente e cheia de vigor, apesar da saúde frágil.
As três se juntam e fazem uma coletânea de seus poemas, enviando-os a várias editoras. Não tendo muitas chances de publicação sem um custo, elas aceitam pagar para que eles sejam editados, porém, não obtêm sucesso. Charlotte então tem a ideia de escrever romances e, assim, as três se empenham para escreverem seus famosos clássicos.
Ela também relata sua passagem por Bruxelas, onde ficou um tempo estudando com sua irmã Emily. Lá elas aprenderam a aprimorar suas maneiras de pensar e escrever com o professor Constantin Heger, por quem Charlotte desenvolveu uma paixão impossível, já que ele era casado. Depois a narrativa retorna ao presente e assim vai seguindo com mais detalhes dessa vida fascinante.
Esse livro é maravilhoso, assim que terminei a leitura, tive uma sensação triste como se deixasse uma amiga partir. Para quem gosta das irmãs Brontë (eu amo de paixão), ou tem apenas curiosidade sobre a vida delas, vale muito a pena. É extremamente interessante ver como a vida de Charlotte se desenrolou, em como ela superou os obstáculos, as tormentas funestas que a vida lhe reservou e soube transformar essa dor em arte, se tornando uma autora muito aclamada por sua obra Jane Eyre e depois por Shirley e Villette.
Digo com toda minha admiração, que apenas aumentou com essa leitura, que Charlotte e suas irmãs, por toda a genialidade que pairava em suas mentes, continuam sendo símbolos da literatura, mesmo nos tempos de hoje, pois são escritoras incríveis, suas obras só têm a contribuir e acrescentar em conhecimento, dando-nos também uma grande lição de vida.
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