Pavões Misteriosos

Pavões Misteriosos André Barcinski




Resenhas - Pavões Misteriosos


8 encontrados | exibindo 1 a 8


@esporropublico 04/11/2021

Eu perguntava Do You Wanna Dance?
Pra você entender como a música brasileira teve seu apogeu, basta ler esse livro Pavões Misteriosos, escrito pelo jornalista André Barcinski.

No livro, fala sobre como uma legião de músicos resolveram sair das asas da Jovem Guarda e lançarem seus discos, que mudariam o curso, numa época em que o Brasil vivia numa Ditadura militar.

De 1973 até 1983, foi passado a limpo as variadas épocas. De Rock a Disco, passando pelo brega e Pop comercial. Nada foi ignorado.

O que posso dizer é que eu já fui influenciado por música brasileira, mas, ao ler esse livro, percebi o significado da palavra "indústria musical".

Deu a entender que as gravadoras, produtores, rádios, TVs e músicos de apoio foram os "culpados" pela música brasileira ser conhecida o que é atualmente.

Se fosse hoje, acho que não teria UM disco que se tornaria imperdível, para os dias de hoje.

Por falar nisso, o autor resolveu fazer sua escolha, ao selecionar 50 discos importantes na linha de tempo citada.
comentários(0)comente



Luis 29/12/2014

Os pavões se revelam
Nos últimos anos, André Barcinski vem se firmando como um dos nomes mais significativos do jornalismo cultural. A publicação de “Maldito”, biografia de José Mujica, o criador do Zé do Caixão, escrita em parceria com Ivan Finotti, transformada depois em documentário premiado, além da atuação em revistas como Superinteressante, Mundo Estranho e na finada Flashback, atestam a sua capacidade de apurar episódios inusitados que contam a história do mundo pop.
“Pavões Misteriosos- 1974-1983: A Explosão da música pop no Brasil” (Três Estrelas, 2014) é provavelmente a iniciativa mais importante do jornalista até o momento. Primeiro porque cobre justamente um período desconsiderado da nossa bibliografia oficial : a fase que compreende da época de ouro do rádio até os anos 60 com a Bossa Nova e o Tropicalismo, assim como o Brock dos anos 80, tem sido vastamente investigado por pesquisadores e jornalistas, o problema é justamente a etapa que está entre esses dois marcos, normalmente tratado com desdém pela crítica especializada. É nesse fosso que Barcinski faz o seu garimpo e o resultado é ouro puro.
Um segundo aspecto fundamental e que transforma “Pavôes Misteriosos” em uma espécie de clássico instantâneo, é que, ao fim da leitura, ergue-se um painel realista da profunda transformação da indústria fonográfica brasileira entre o fim dos anos 70 e o início dos 80, quando as gravadoras, reagindo à crise econômica, passaram a apostar em poucos artistas mas que vendessem muito, ao invés de pulverizar os seus investimentos, permitindo que trabalhos mais autorais também vissem a luz do dia e potencialmente elevassem o gosto médio. É sintomático que mesmo os grandes astros da MPB, que na década de 70 talvez tenham chegado ao seu nível mais alto de sofisticação e experimentalismo, a partir de 79-80 fizeram movimentos claros de aproximação a um gosto mais “popular” com ressonância clara no mercado e nas execuções em rádio. Não por acaso, Fagner, Djavan, Gal Costa, Tim Maia, Caetano e Gil (aliás o disco Palco, gravado em Los Angeles com sonoridade claramente pop, é apresentado como referência desse momento) registraram algumas de suas maiores vendáveis nessa época.
Um caso emblemático é o de Rita Lee, que após fazer história com os Mutantes e dos excelentes discos roqueiros com a banda Tutti Frutti, inspirada pelo relacionamento com Roberto de Carvalho, mergulha de cabeça em um pop totalmente acessível, transformando-se em uma das maiores vendedoras do país (ocupa o quarto lugar geral da história do disco no Brasil, atrás somente de Tonico e Tinoco, Roberto Carlos e Nelson Gonçalves e à frente de Nelson Ned e Xuxa).
Um trio de músicos tidos como magos dessa “popularização” são absolvidos pelo livro: O produtor onipresente Lincoln Olivetti, tido como gênio pela grande maioria de seus pares, e a dupla Sullivan e Massadas, Reis Midas dos anos 80, responsáveis por quase tudo que tocou nas rádios naquela fase, em diversos estilos. Esses personagens , antes vistos como vilões da pauperização da música brasileira no período, são na verdade apresentados como efeito e não causa de um processo de reconfiguração geral da indústria do disco.
Mas Pavões Misteriosos traz ainda outros golaços : Pela primeira vez, temos uma avaliação justa sobre o fenômeno bem brasileiro dos falsos gringos, onde nomes como Fábio Jr, Cristian (da dupla sertaneja com Ralf), Jessé, Dudu França e outros, mais tarde famosos (ou não), se passavam por ingleses ou americanos inundando as paradas como Steven Maclean, Peter Dunaway, Dave Maclean, Mark Davis, etc. O auge foi mesmo com Morris Albert e sua “Feelings”, regravada por diversos artistas ao redor do mundo, sendo inclusive indicada ao Grammy.
Outra grande sacada do autor, foi se debruçar sobre a febre das covers que fez a festa das gravadoras brazucas por muito tempo. O negócio era mais ou menos assim : durante os anos 60 e 70, eram comuns o lançamento de coletâneas do tipo “Explosão de sucessos”, “Superxplosão Mundial” etc. A questão é que não eram usados os fonogramas originais e sim regravações das músicas feitas por músicos de estúdio que recebiam cachê para “imitar” `a perfeição os artistas das gravações “verdadeiras”. Como não pagavam direitos, o custo de produção era muito baixo, daí a avalanche desse tipo de lançamento. Entre os inúmeros músicos que dominavam esse mercado, destaca-se a incrível história da banda, apropriadamente chamada, “Os Carbonos” composta por músicos com a incrível capacidade de mimetizar qualquer gravação, independente do estilo. Só a história dessa banda, publicada também em forma de matéria na edição de setembro da revista Piauí, já vale o livro.
“Pavões” avança também na polêmica relação da indústria com o mundo do rádio e da TV, que, a partir principalmente dos anos 80, foi marcada pela prática do jabá. Chama a atenção o corajoso depoimento de Roberto Menescal, na época um dos diretores da Polygram, relatando uma negociação com Chacrinha para o lançamento de um artista da empresa (em outros livros, constam informações sobre a generalização do Jabá, ou, para usar um eufemismo, de “uma troca de interesses” envolvendo várias gravadoras e o programa do Chacrinha em sua última fase na Globo). Já o produtor Mazolla, que atuou na Warner e na BMG, diz que inclusive que o jabá muitas vezes não envolviam só dinheiro, há relatos de negociações de execuções em rádios em troca de mulheres e até drogas para programadores.
Curioso ainda é o relato sobre a montagem de bandas “fabricadas” através de pesquisas de mercado, ou seja, o avanço do tratamento da música como produto. O exemplo mais nítido, e muito bem retratado por Barcinski, foi o do grupo Balão Mágico. Montado pela CBS em 1982, o Balão vendeu muito bem logo na estreia. Para o segundo disco, a gravadora resolveu investir pesado e apostou em versões de sucessos infanto juvenis internacionais, um deles, “Juntos”, foi gravado com Baby Consuelo, então também em alta nas paradas. Mas o maior sucesso acabou sendo uma música que entrou no disco quase por acaso, “Superfantástico”, outra versão, assinada por Edgar Poças, que convenceu o produtor Mauro Motta a gravar a canção, apesar da resistência da diretoria da CBS. A ideia original era que Roberto Carlos cantasse com Simony e Cia, a letra da versão, aliás indicava isso : “Ei meu amigo Roberto/ Que bom estar contigo no nosso balão.” Poças achou que Roberto não ia topar e pensou então em Djavan, refez a letra : “Ei Djavan, meu amigo/ Que bom estar contigo no nosso balão.” Temendo que o autor de “Açaí” também não topasse, Poças alterou de novo, de forma que se aplicasse a qualquer cantor : “Superfantástico, amigo/ Que bom estar contigo no nosso balão.” Djavan topou e o grupo estourou.
Roberto só participaria do terceiro disco, quando o Balão já era fenômeno, inclusive com programa na Globo, cantando outra versão de Poças, “É tão lindo”. Segundo o livro, todo mundo ganhou rios de dinheiro com o Balão Mágico, menos Edgar Poças, justamente um dos responsáveis por todo aquele sucesso. O letrista expressaria a sua raiva em outra versão, gravada por um grupo tão fabricado quanto o próprio Balão, o Dominó. A música ? “Tô p da vida.”
Para terminar, André Barcinski trata de um case essencial da efemeridade que às vezes está associada ao pop : a ascensão e queda de Ritchie.
O inglês Richard Court chegou no Brasil na década de 70, tocou no mítico Vímana, com Lobão e Lulu Santos, mas por volta de 1980, estava afastado da cena musical, sobrevivendo como professor particular de inglês. Depois de participar de um disco de Jim Capaldi, Ritchie se empolga e grava uma demo no porão da Warner, com algumas canções de sua autoria. Recusado por André Midani, Ritchie mostra a demo para a CBS que lhe fornece o improvável horário de estúdio da tarde de 31 de dezembro de 1982. Nessa sessão é gravada “Menina Veneno”. Ritchie virou mania nacional e ficou milionário da noite pro dia. Vendeu milhões de cópias e era atração fixa de vários programas, inclusive do Cassino do Chacrinha.
A partir do segundo disco, tudo mudou. A música de trabalho “A Mulher invisível” não chegou nem perto de “Menina Veneno”, dizem que boicotado pela própria CBS. Segundo boatos, a gravadora chegou a pagar um jabá às avessas para que não tocassem a música. Não são poucos os que responsabilizam Roberto Carlos e seu staff pelo feito. Para completar, o cantor brigou feio com Chacrinha, se recusando a integrar as famosas caravanas do apresentador, que, contrariado, fez a sua caveira e o botou na geladeira. O castelo de areia do inglês ruiu.
“Pavões Misteriosos” é portanto um inventário de tudo de relevante que aconteceu no mundo do disco tupiniquim entre o início da década de 70 e o estouro do Brock. Vai ocupar com louvor a parte da estante destinada às obras de referência sobre a música no Brasil, como as escritas por Ruy Castro, Paulo César Araújo, João Máximo e Arthur Dapieve.
Impressiona como tanta informação interessante coube em meras 239 páginas, lidas em poucas e prazerosas horas, semelhante ao breve voo de um pássaro formoso.
Raphael Cavalcante 29/12/2014minha estante
Bela síntese, Luis!!!!


Luis 01/01/2015minha estante
Obrigado, Rapha. Abs.




Vicente 31/01/2021

Excelente
Livro delicioso para quem gosta de música. Pesquisa abrangente e muito bem fundamentada.
comentários(0)comente



Raphael Cavalcante 29/12/2014

De Secos & Molhados à Gretchen
Quem já leu algumas das colunas de André Barcinski sobre música conhece o ecletismo do jornalista que perpassa inclusive por outras áreas do espectro cultural -- foi ele quem produziu o premiado documentário "Maldito" sobre a cinematografia de Zé do Caixão. Assim fica fácil entender a escolha do autor por desvelar um período tão pouco estudado da história da música popular brasileira: os dez anos que compõem a segunda metade da década de 70 e a primeira da década seguinte. Afinal, como Gal foi de Jards Macalé (Vapor Barato) a Sullivan e Massadas (Um dia de domingo)? Por meio de entrevista com cantores e produtores do período, "Pavões misteriosos" narra a profissionalização da música brasileira e a transição de uma época na qual se produzia música de forma mais orgânica para outra voltada para os números de mercado. Astros da Tropicália, Bossa Nova e Jovem Guarda tiveram que se reinventar, enquanto novos ídolos surgiam e novos ritmos invadiam o país. Com seu ecletismo característico, Barcinski recompõe o nascimento da música pop brasileira ao narrar pedaços da trajetória de artistas como Secos & Molhados, Raul Seixas, Guilherme Arantes, Odair José, Gretchen, Roupa Nova, Ritchie, além de fazer jus a protagonistas hoje esquecidos. O único senão é o tamanho sintético da obra, que poderia ter se debruçado mais em determinados temas, ainda que pareça clara a falta de intenção do autor em criar alguma espécie de tratado definitivo sobre o período. Para quem se interessa por música brasileira, leitura recomendadíssima.
comentários(0)comente



Euflauzino 20/03/2017

A revolução do pop ou o pop é a revolução

Mais uma vez um livro me escolheu para lê-lo. Bati o olho na capa, li o título e pronto, ele havia me escolhido. Foi simples assim. O livro em questão é Pavões misteriosos: 1974-1983: a explosão da música pop no Brasil (Três Estrelas, 240 páginas) do jornalista pra lá de antenado André Barcinski. O título vinha de uma canção de Ednardo, completa incógnita para mim, o qual conhecia pelo título em questão e pela canção Terral e mais nada. E lá vamos nós desbravarmos o universo da música, arte que me encanta. Na capa Ney Matogrosso, Rita Lee, Raul Seixas, na contracapa Guilherme Arantes, Fagner e Ritchie. É apetitoso demais pra evitar.

“Quem entrasse em uma loja de discos no Brasil em 1974 poderia imaginar que o país tinha enlouquecido. Na capa de um LP, veria a cabeça maquiada de quatro hippies andróginos, expostas em bandejas sobre uma mesa, como pratos de um banquete macabro. Outra capa trazia um desenho em que Sol E Lua apareciam no mesmo horizonte, ao lado de um estranho portal arqueado e de um texto enigmático: ‘A causa do ser humano é o micróbio’. Outro disco reproduzia ilustrações atribuídas a Nicolas Flamel, alquimista francês do século XIV que, segundo alguns, havia desvendado o segredo da pedra filosofal, transformando chumbo em ouro e tornando-se imortal. Havia ainda uma psicodélica pena de pavão que ilustrava a capa de um disco de sucesso... Por fim, uma capa exibia um sujeito magro e cabeludo, de óculos Ray-Ban e boné à Che Guevara, empunhando uma guitarra vermelha reluzente e levantando o dedo indicador. Entre o sagrado e o profano, parecia um misto de guerrilheiro e profeta.”

Esta época é meio que um buraco negro para mim. Eu, adolescente frequentador de matinês das discotecas, tentando de toda a forma entrar à noite. Havia raríssimas vezes em que eu até conseguia e me gabava para os outros de minha idade. O que eles não sabiam era que ao entrar eu me sentia um ET, por ser novo demais era tratado como um “pato”, gíria da época para os muito tímidos que não pegavam ninguém, ficavam no zero a zero.

A “disco” era tremendamente hedonista: salvar o mundo pra quê? Vamos nos divertir e ponto. Mas e os artistas que vieram antes, que pavimentaram o caminho de quem entraria de cabeça no rock?

“Secos & Molhados não foi o único disco ‘esquisito’ a enfrentar a caretice reinando no país. Também houve Lóki?, o primeiro LP de Arnaldo Baptista depois de sua saída do Mutantes e do fim de seu romance com Rita Lee. Um disco dilacerante, em que o compositor de 26 anos expunha sua fragilidade emocional... Outro disco importante foi Na rua, na chuva, na fazenda, do soulman Hyldon. O LP celebrava a vida idílica do interior... Do Recife veio o disco Paêbiru: caminho da montanha do sol, gravado por Zé Ramalho e Lula Côrtes, com ajuda de vários músicos nordestinos que depois se tornariam famosos, como Zé Geral e Alceu Valença.”

A liberdade criativa era levada ao pé da letra, os discos artesanais faziam as viúvas e viúvos da Jovem Guarda torcerem o nariz. Mas a Rádio FM vem surgindo, ela é a voz da nova juventude, combatente gigantesca das AM. os programas de auditório ganham corpo e novo formato e as novelas popularizam quem nelas adentra com uma canção. Há um realismo mágico nas canções da década de 70, capitaneadas por Gita (Raul Seixas), Pavão mysteriozo (Ednardo), Racional volumes 1-2-3 (Tim Maia) e A tábua de esmeralda (Jorge Ben, futuramente Benjor). Seria o contraponto, uma resposta poética à luta armada, aos anos de chumbo, à caretice da ditadura e sua censura.

site: Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2017/03/pavoes-misteriosos-1974-1983-explosao.html
comentários(0)comente



Lucão 21/04/2018

O Caldeirão Mágico Esquecido
Por que tantos discos clássicos, artistas talentosíssimos como Raul Seixas, Secos & Molhados, Novos Baianos, Guilherme Arantes, Rita Lee (fase solo), Zé Ramalho, Fagner, Ednardo, Odair José, As Frenéticas, entre outros, foram lançados nos anos 70? E por que no período entre a era de ouro do rádio nacional até os anos 60 com a Bossa Nova e o Tropicalismo, até o estouro do Brock dos anos 80, falta uma quantidade considerável de livros sobre ele?

Foi tentando buscar respostas para essas perguntas, e visando preencher essa lacuna na bibliografia musical nacional, que o renomado jornalista André Barcinski lançou em agosto de 2014 seu quinto livro: Pavões Misteriosos.


Resultado de dois anos de intensas pesquisas e entrevistas (mais precisamente 65 entrevistas) com artistas, jornalistas e músicos, o livro como bem define Barcinski, não é um tratado definitivo da música brasileira dos anos 70 e início dos 80, mas, joga bastante luz em um período pouco analisado.

Quem é leitor assíduo do autor, já conhece seu texto envolvente e cheio de estilo, e aqui essas características ditam o ritmo numa prazerosa leitura das 240 páginas, onde o mapeamento do cenário da indústria fonográfica nacional começa em 1974, ano em que pela primeira vez, um grupo estreante destronava Roberto Carlos no topo da parada de discos mais vendidos; o disco e grupo em questão? O fenômeno meteórico Secos & Molhados, com seu disco homônimo lançado no ano anterior.

Pela primeira vez, temos um trabalho jornalístico investigativo sério sobre o curioso fenômeno dos “falsos gringos”, onde cantores brasileiros cantavam em inglês, e contando com o fato de vários grandes discos dos Estados Unidos e Europa chegarem com um atraso de dois a três anos no Brasil, e com a inclusão de suas músicas nas trilhas sonoras das novelas, foram febre nacional.

O caso mais curioso foi do carioca Maurício Alberto, ou Morris Albert como ficou conhecido, que gravou a bela canção “Fellings”, sucesso na trilha da novela Corrida do Ouro (75), que estourou também internacionalmente, sendo indicada a três Grammy, e reinterpretada por grandes ícones como Nina Simone e Frank Sinatra.

A excessiva e injusta patrulha intelectual sofrida por Guilherme Arantes, a ótima cantora e musa Fafá de Belém, e de ícones brega (e hoje considerados cult) como o grande Odair José, acusados de fazerem “músicas inferiores para a massa”, tem aqui seus méritos artísticos justamente reconhecidos.

Todo o glamour e excessos da discoteca no final da década de 70 é muito bem contada por Barcinski, que mostra o surgimento das primeiras grandes danceterias em São Paulo e Rio de Janeiro, e como elas ajudaram no surgimento de dois grandes marcos pop: o grupo As Frenéticas e a novela global “Dancing Days”.

A popularização da TV, presente na época em mais de 70% dos lares brasileiros, e em especial do programa “Fantástico” com seus videoclipes, contribuiu para o surgimento de ídolos de apelo visual (e sensual), casos de Gretchen e do “cigano” Sidney Magal, que protagoniza os casos mais hilários e surreais relatados no livro.

Nomes considerados “malditos” pela crítica especializada da época, aqui conseguem sua “absolvição”: o requisitado produtor e arranjador Lincoln Olivetti, e os maiores hit makers tupiniquins, Michael Sullivan e Paulo Massadas, são mostrados como efeito natural, e não vilões, de um processo de reconfiguração musical que o país estava se submetendo.

Com a chegada dos anos 80, profundas mudanças nos bastidores das gravadoras ditariam os novos rumos da indústria fonográfica brasileira; sendo capitaneada agora por executivos estrangeiros, a política de um cast menor de artistas, sempre optando pelos que geravam resultado, daria menos espaço para experimentalismos de outrora, e cada vez mais as pesquisas de mercado e o marketing pesado, seriam os pontos cardeais para a tomada de decisões.

Isso não que dizer que a qualidade musical foi para o ralo no início da década mais divertida de todas, muito pelo contrário, nela também surgiram fenômenos interessantíssimos, como a onda dos artistas infantis, que teve seu boom com o Balão Mágico e a Xuxa, e o cantor inglês Ritchie, que com sua “Menina Veneno” obteve a consagração. Tudo começou a mudar para o ex-Vímana a partir do segundo disco, onde mesmo tendo o hit “A Mulher Invisível”, vendeu bem menos que o anterior, num curioso e sacana caso de auto sabotagem da CBS (e relato por muitos, como do staff de Roberto Carlos também) com ele.

Se há um porém em Pavões Misteriosos, é a sua baixa quantidade de páginas, que são devoradas na velocidade da luz, mas o que realmente incomoda é o seu finalzinho, contendo uma canelada com o ano de lançamento do mega clipe “Thriller” (datado no livro como 83, sendo que foi lançado em 84), e a explicação um tanto quanto viajada de Leiloca (das Frenéticas), sobre a mudança astral sentida nos anos 80.

O livro é mega recomendado para todos os amantes da música nacional e os curiosos sobre o assunto, por ter conseguido trazer os ingredientes usados num caldeirão mágico, onde corujas, pirilampos e pavões modificariam para sempre o rumo da nossa história.

Resenha feita por mim originalmente no blog Miscelânea Cult.

site: https://miscelaneacult.wordpress.com/
comentários(0)comente



Fabrício Franco 31/07/2022

Na década de 1970, um grupo heterogéneo de artistas desviou-se da tradição da MPB e abraçou a música pop. André Barcinski traz à tona esse período e seus personagens. Leitura interessante.
comentários(0)comente



8 encontrados | exibindo 1 a 8


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR