Danilo Silva 18/09/2016Mark, o MarcianoA história é contada em duas frentes: temos Mark Watney em Marte, nos contando o que acontece em primeira pessoa, através de relatos gravados para as futuras gerações, caso morra e algum dia a NASA encontre seu corpo e seu diário de bordo; do outro lado da moeda, acompanhamos, em terceira pessoa, os esforços da equipe terrena para trazer Mark para casa, ainda que pareça impossível, e a comoção a nível mundial que surge a favor do astronauta deixado para trás.
Apesar de a sinopse da editora afirmar tratar-se de um suspense, não se deixe enganar: o livro é engraçadíssimo. Mark tem uma única ferramenta para não descer a espiral da loucura: seu humor. E ele o usa constantemente. Claro que os acontecimentos na Terra e, posteriormente, na nave Hermes, a tal espaçonave que sem querer abandonou Mark no Planeta Vermelho, são muito mais sérios – acho que podemos considerar estas partes mais puxadas para o suspense, mas não suspense em si –, porém é indiscutível que o livro, como num todo, bem como o filme que o adapta, são muito engraçados.
Mark Watney é um excelente protagonista. Você começa rindo com ele, mas é inegável que, com o passar do tempo, você começa a se afeiçoar pelo personagem, a torcer por ele, torcer para seu resgate e, em determinado ponto do livro, até se emocionar e se pegar temeroso pelo destino do protagonista. É uma das melhores personagens literárias que li nos últimos anos, e tenho orgulho de dizer que veio de um livro de ficção científica, meu gênero literário favorito. E ouso dizer que grande parte do mérito do livro repousa nos ombros de Mark.
Outra característica interessante da obra, e que lhe confere maior realismo, é ver como a situação se desenrola na Terra: temos a cobertura da mídia, que muitas vezes pressiona a NASA a agir; temos as pressões políticas: os E.U.A. não conseguem resolver o problema e sua única solução é pedir ajuda estrangeira (não direi qual país ou como foi essa ajuda, para não estragar as surpresas de uma grande parte da trama); além da tripulação da Hermes, tendo que lidar com suas decisões que acabaram por deixar Mark para trás. Se o livro não tivesse essa faceta mais séria, nos mostrando as consequências de uma situação tão perturbadora (e que poderia muito bem acontecer na vida real), certamente não teria o mesmo impacto.
Ainda me mantendo neste aspecto da obra, foi bom ver que o autor construiu a narrativa de uma forma que enfatiza como nada na vida é fácil, pois salvar um homem perdido em outro planeta certamente seria muito complicado para nossos padrões reais atuais. Então esqueça as conveniências de roteiro típicas, pois na obra de Weir as personagens precisam estudar, passar horas a fio acordadas, fazer muitos cálculos, errar e tentar de novo até acertar. E isso também se aplica a nosso intrépido herói.
Outra peculiaridade da obra são suas reviravoltas sempre curiosas e impactantes. Sem entrar em detalhes, basta dizer que o livro gera expectativas em cada situação, te deixando apreensivo e culminando em uma reviravolta. Mesmo quando Mark tem uma ideia e a executa à perfeição, aquela situação gerará outra, o próximo conflito que o marciano terá que resolver em algum momento de sua jornada – imediatamente depois ou no futuro em longo prazo. É um livro que parece dizer que gosta de surpreender seus leitores, e o faz de uma maneira bastante
A edição da Editora Arqueiro está impecável: possuo a segunda impressão, com capa do filme (admito que não gosto muito de capas assim) e praticamente não possui erros de tradução ou revisão; possui um papel de qualidade e a capa é feita de um material mais maleável o que a impediu de amassar ou deformar – a minha edição, pelo menos, continua perfeita. Mantém o excelente padrão da editora. É um tipo de livro que você não se arrependerá de comprar e ler, tornou-se um de meus favoritos, acredite.
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