spoiler visualizarAnna 18/05/2024
Marília de Dirceu é considerada uma história autobiográfica pois faz referência à paixão vivida por Tomás Antônio Gonzaga para com Maria Joaquina Dorotéia Seixas, paixão essa que foi desaprovada pela família da moça na época, o que serviu de inspiração para a obra.
Pela data que foi lançada eu achei que a linguagem seria mais complicada, mas não foi tão difícil quanto imaginei, mesmo que em algumas liras (mais especificamente as da primeira fase) tive que ler mais de uma vez para entender.
Como as liras são divididas em fases, escritas com anos de diferença, vou julgar elas separadamente:
Na primeira fase vemos o início da paixão avassaladora de Dirceu para com Marília, a sua musa como é chamada diversas vezes. Ele entrega para nós leitores um retrato apaixonado, mas muito mais observador do que realmente ativo.
Eu não gostei tanto da primeira fase, achei a leitura dela mais difícil do que o resto do livro, talvez seja porque eu não gostei então não estava prestando a atenção que deveria.
Foi na segunda fase que o livro me pegou, as liras escritas após a prisão do Gonzaga (antes do exílio) são as mais bonitas, você sente a dor dele de estar longe do seu amor, mas também sente a esperança de viver com ela uma vida simples e bucólica (quer algo que represente o arcadismo melhor do que isso?), com sua dor ele criou os trechos mais belos.
Podemos perceber isso pela passagem abaixo:
“Fiadas comprarei as ovelhinhas,
Que pagarei dos poucos do meu ganho;
E dentro em pouco tempo nos veremos
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
Que as afague Marília, ou só que as veja.
Senão tivermos lãs, e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mão cosido.”
A terceira parte se passa após Gonzaga (Dirceu) ser exilado para Moçambique. Ao meu ver, a terceira parte, é bem parecida com a segunda, só que mais triste.
Durante a obra, percebe-se a fortíssima influência do movimento árcade, seja pelos momentos de grande romantismo e desejos de uma vida de bucolismo ou pela caracterização do pastoralismo e grande descrição e culto à natureza e à simplicidade.
Eu não gosto muito de poemas, então já não dá para exigir que eu ame de paixão este livro, porém,contrariando meus gostos, eu até achei ele bom.
Acredito que isso tenha ocorrido pois exatamente por ser uma história em formato de poema, ao invés de ser uma coletânea de poemas soltos.