MiCandeloro 22/09/2014
Magicamente fantástico!
Há alguns anos, Sarah Hunt morreu no Massacre Gelado, junto com tantos outros magos, sem ter tido a mínima chance de salvar a si mesma ou ao seu bebê, Callum. O Inimigo da Morte trapaceou. Ao invés de encarar os campos de batalha, lutando contra a garota Makar, a escolhida da comunidade, decidiu atacar a caverna, onde se escondiam os velhos, as crianças e mulheres. Assim, impiedosamente, exterminou de uma só vez qualquer possibilidade de ser ameaçado em um futuro próximo, tornando-se, assim, o último dos Makaris.
Alastair, quando se deparou com a chacina a sua frente, só conseguia pensar na esposa e no filho. Quando encontrou Callum vivo, caído e protegido embaixo do braço de seu cunhado morto, com uma das pernas estraçalhadas, prometeu a si mesmo que o criaria com a lembrança do quanto Sarah havia sido corajosa. Mas seu alívio durou pouco, até se deparar com a mensagem escrita pela esposa antes de dar seu último suspiro. Nas paredes de gelo, marcas feitas com a lâmina de um punhal formavam as seguintes palavras: "Mate a criança."
Call cresceu e, aos doze anos, era um menino franzino, de cabelos negros arrepiados, uma perna torta, cheia de pinos, que mal sustentava seu peso, e tinha muita raiva no coração. Alastair o ensinou a temer e a odiar a magia, afinal, fora por causa dela que sua mãe havia morrido. Call aprendeu que os magos eram maus, traiçoeiros, e que não mediriam esforços para matar seus semelhantes. Por causa disso, Call nunca foi autorizado ou ensinado a usar magia, desconhecendo a energia pulsante que surgia dentro de si.
Mas o tão temido dia para a família Hunt havia chegado. Call foi convocado para participar do Desafio de Ferro. Lá, suas habilidades mágicas seriam testadas e, de acordo com as notas recebidas, ele poderia ser escolhido para ser aprendiz de algum mago e estudar no Magisterium. Mas Call não queria ir, e Alastair havia instruído o filho a falhar nos testes. Call não podia de forma alguma ser admitido na escola para magos.
Contrariando todas as hipóteses lógicas, Call foi selecionado pelo Mestre Rufus a integrar a sua turma, juntamente com Tamara e Aaron. Alastair entrou em pânico e tentou fugir com Call, causando o maior alvoroço no recinto. Mas um aprendiz não podia recusar o seu chamado, e Call foi obrigado a seguir para o Magisterium, uma escola sinistra que ficava embaixo da terra, em túneis subterrâneos. Call temia pela sua vida e só pensava numa forma de escapar.
Porém, para a sua surpresa, Call nunca imaginou que pudesse se sentir em casa e ser aceito num local tão estranho. A vida todo foi desprezado e sofreu bullying no seu antigo colégio, porém, ali, Call descobriu o real significado da amizade e da cumplicidade, e percebeu que, mesmo com a sua perna defeituosa, podia se destacar e ser tão bom em toda tarefa quanto qualquer outro estudante. Call passou a duvidar de tudo que seu pai havia lhe contado até então. O que podia ser assim tão perigoso?
Mal sabia que o Inimigo espreitava o Magisterium, esperando a menor brecha para atacar. Enquanto os Mestres ansiavam por descobrir um novo Makari, a única esperança de derrotar o Inimigo da Morte e conter os Dominados pelo Caos, a voz de Alastair martelava na cabeça de Call dizendo "fuja", "você não sabe quem é."
Call só tinha certeza de uma coisa: A água quer fluir, (...) O ar quer se erguer. A terra quer unir. O caos quer devorar. Call quer viver."
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam.
***
Desde que soube deste lançamento, fiquei histérica para lê-lo, afinal, não esperava nada menos do que "perfeição" de uma obra escrita em coautoria por Holly Black e Cassandra Clare. De início, devo confessar, me senti levemente incomodada por achar a trama parecida com Harry Potter. Fiquei tentando captar semelhanças entre personagens e enredo e claro, encontrei algumas, afinal, Magisterium também fala sobre uma escola de magia, um inimigo e um trio de amigos em que um deles se destaca por seu heroísmo, mas as similitudes terminam por aí.
Como nunca li nada da Cassandra, muitas vezes até me esquecia de que Magisterium também tinha sido escrito por ela, principalmente, pelo texto me lembrar tanto de Boneca de Ossos, de Holly Black. Fiquei tão feliz de reconhecer a escrita de uma das minhas autoras favoritas e de me recuperar da decepção de A Menina mais fria de Coldtown, que rapidamente fui tragada pela viciante trama, narrada em terceira pessoa.
Adorei o mundo mágico criado pelas autoras. Aqui, os magos não usam varinhas, nem sussurram feitiços. Em Magisterium eles aprendem a dominar os elementais e a controlar o poder que possuem dentro de si. As aulas não são em grandes turmas, e as tarefas não seguem um padrão de aprendizado. Nós podemos testemunhar tanto semanas angustiantes em que os aprendizes ficam separando grãos de areia por cor, apenas com o poder da mente, quanto momentos em que tentam se equilibrar em um tronco de árvore, dentro de um pântano, conjurando bolas de fogo. Digamos que as lições são muito mais emocionantes e perigosas. Sem contar que a escola têm as suas próprias regras, e sua maior finalidade, na verdade, é preparar os magos para que eles não se tornem uma ameaça a sociedade por não saberem utilizarem a sua magia.
Sei de algumas amigas que gostaram do livro, mas que não se apaixonaram como eu. Bom, eu amo bruxaria, e este já foi um fator primordial para eu gostar da obra. Mas, além disso, me encantei pelos personagens, crianças de doze anos que lembraram muito a mim mesma, numa fase tão delicada da vida, lutando para serem aceitas e tentando lidar com as suas verdadeiras essências.
Callum é um menino sarcástico, sem papas na língua, algumas vezes agressivo e com uma raiva incontida dentro do peito. Mesmo sem querer, ele acaba afastando as pessoas de si, já que esta foi a forma que aprendeu a se defender do mundo. Entretanto, no Magisterium, ele terá que aprender a confiar nos outros, mas, principalmente, a confiar no seu potencial. Achei lindo acompanhar o amadurecimento do garoto e a reviravolta que deu na história.
Tamara também me conquistou. Ela cresceu vivendo sob aparências, mantendo uma postura rígida, fria e distante, completamente diferente de sua natureza e, no fim, suas atitudes foram postas à prova, fazendo-a dar valor ao que realmente importa. Aaron não me chamou tanta atenção. Para mim ele foi meio apagado no enredo, apesar de ter um papel de grande destaque.
Magisterium terminou respondendo algumas das nossas perguntas, mas nos deixando com ainda mais dúvidas, ansiando pela continuação. Sinceramente, não acredito que aquele desfecho seja real. Para mim, as autoras estão tentando nos confundir e nos enganar e eu mesma criei as minhas próprias teorias e espero estar certa.. kkkk
Enfim, O Desafio de Ferro não é apenas um livro bem escrito, de leitura fluida e viciante, cheio de magia e com uma história que irá arrebatá-los, desejando por mais. Magisterium também é um lembrete de que o bem e o mal habitam dentro de cada um de nós, mas não nos dominam. Apenas nós podemos decidir quem queremos ser e qual caminho iremos seguir.
O Desafio de Ferro é o primeiro dos cinco livros dessa série incrível, perfeito para aqueles que são apaixonados por livros de fantasia.
Resenha originalmente publicada em: http://www.recantodami.com/2014/09/resenha-o-desafio-de-ferro.html