A valorização do espaço

A valorização do espaço Antônio Carlos Robert Moraes...




Resenhas - A valorização do espaço


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João Bonato 29/11/2016

Vindo para suprir a necessidade de arcabouço teórico para a melhor orientação do trabalho do geógrafo no período de crise teórico-metodológica, A valorização do espaço propõe um caminho de estudos bem fundamentado para o prosseguimento do trabalho na geografia crítica, sem negar a possibilidade de existência de outros recursos teóricos para a contribuição para com essa ciência. De imediato, expõe a existência do objeto de estudo da geografia baseando-se no método do materialismo histórico e dialético, para, mais adiante, trabalhar na fundamentação de uma teoria marxista da geografia. Portanto, toda a argumentação da obra discorre com alto grau de abstração, ficando no campo da abstração.
Entende o peso social sobre a construção e elucidação dos saberes científicos, e que portanto, o agente produtor do conhecimento, o pesquisador alocado em alguma infra-estrutura que de suporte ao desenvolvimento de seu trabalho, não é um ser alienado da realidade social geral. E admite que as orientações políticas e pessoais do cientistas são muito mais impactantes para a produção de seus trabalhos conforme se caminha das ciências da natureza para as sociais. Aqui se expõe a necessidade do método. São as bases fornecidas da posição metodológica o instrumento para o avanço da construção crítica da geografia. Distinguem-se aqui, as duas questões metodológicas que surgem no desenvolvimento do trabalho científico. Primeiro surgem os entendimentos do pesquisador sobre a realidade que o cerca, suas concepções sobre a existência e movimentos de sua ciência, do mundo, da vida e da realidade, o chamado método de interpretação. A seguir, sobre o desenvolvimento prático de seu trabalho, seus recursos técnicos qualitativos e quantitativos. Um não é determinante para o outro.
O método extrapola o campo de qualquer ciência específica, ele é um guia para o trabalho de pesquisa sobre todo objeto, desde feita sua fundamentação. Assim, a escolha do método de pesquisa por parte do pesquisador não reflete seus posicionamentos pessoais. Além do mais, todo cientista tem um posicionamento materialista em seu trabalho, mesmo que tenha idealizações conflitantes a cerca da existência em outros aspectos de sua vida.
A verificação das bases da ferramenta metodológica deve ser constante, para a resolução do objeto abordado. O conjunto filosófico do qual é tirado nosso método em específico é o marxismo. Na data de lançamento de a valorização do espaço estava-se perto no centenário da morte de Karl Marx. Desde então, tinha sido revisto e acrescido de recursos experiências dia-a-dia, assim como discordâncias de ordem tanto teórica quanto prática. Embora Marx não tenha voltados seus estudos para a ciência geográfica, esta pega seu instrumento de estudo para a elucidação de seu objeto. Mostra-se então a impossibilidade de uma geografia marxista, pois isto seria expandir o método para a delimitação do objeto e “confundir o temário da disciplina com este”.
O método é sempre instrumento, sem contudo ser possível de ser particularizado. Fornece ideias gerais. Nosso objeto aqui, o processo de valorização, é encontrado em qualquer atividade humana desempenhada sobre a superfície terrestre para o asseguramento de sua sobrevivência, o trabalho. Sem tomar esta generalização como trabalho concluído, deve-se entender as particularidades referentes a cada constructo humano sobre a Terra. Neste livro, a característica particularizadora apresentada é o modo de produção, com ênfase na busca do entendimento dos processos de valorização do modo capitalista. Tentar dos escritos de Marx o esboço de uma geografia seria tomar o método como objetivo, como alvo, interferindo no desenvolvimento livre do entendimento do objeto.
Entendendo-se que todo processo de valorização não se dá no nada e tem caráter social, estando inserido num momento histórico, as contribuições de Marx e Engels para a geografia fica mais clara. Estes estudiosos desenvolveram um estudo sobre a evolução geral das organizações humanas, tomando como qualidade distintora o modo de produção. É uma explanação da história geral das sociedades, sem entrar na história natural. Portanto, seu método de trabalho diferencia sociedade humana da natureza, afirmando que ambos não podem ser estudados conjuntamente neste método.
A evolução das ocupações humanas tem outros tempos, agentes e fatores. Na humanidade não reina a casualidade natural, nem a natureza tem qualquer propósito para esta ou vice-versa. Todo trabalho humano se dá num plano de fundo social.
Engels trabalhou em Dialética da natureza usar o método do materialismo histórico e dialético para o entendimento da realidade natural. Seus trabalhos não tiveram contribuições significantes.


Uma vez traçada toda a história humana até o desenvolvimento da sociedade capitalista, é preciso avançar no entendimento desta, desde a morte sintetizadores do materialismo histórico e dialético. A superação do capitalismo mercantil e de livre concorrência veio a galope. Saem as corporações de ofício, as juntas mercantis, e entram os grandes agentes privados monopolistas, capazes de redirecionar as ações estatais de acordo com suas atividades econômicas. Surgem novas relações produção-espaço.
A circulação de mercadorias deixa de ser o grande fator criação de riquezas para a virtualidade da circulação ser o principal. As mercadorias podem agora circular sem viajar no espaço, apenas em seu titulo de propriedade, graças a revolução das comunicações, que praticamente removeu o tempo da circulação das decisões, e do caráter virtual das trocas na sociedade capitalista, que foca sempre em produzir valores de troca.
Entra-se bem superficialmente na discussão sobre a origem do valor na economia clássica, assim como na teoria do valor em Marx. Assume-se o valor como fruto da ação consciente do homem sobre o meio, e a intensidade deste valor com base na grau de modificação do entorno, assim como a sua durabilidade. E qualquer processo social deve ser entendido “nessa relação valor-trabalho”, pois, no entendimento materialista, estes são os fundamentos da atividade social concreta.
A teoria do valor força a distinção entre valor no espaço e valor do espaço. Primeiramente, valor do espaço refere-se a como este recurso se oferece de imediato à produção, a soma das duas naturezas e seu valor para determinado processo produtivo. A primeira é referente à distribuição desigual de recursos sobre a superfície da Terra, a segunda, como conseqüência da primeira, o acumulo também desigual de trabalho morto sobre a mesma. Portanto, para a empresa capitalista, importa não somente a disponibilidade de capital fixo pra sua empreita, mas também seus recursos naturais necessários e passíveis de extração. Aqui se manifestam as formas de renda fundiária.
O valor no espaço advém deste também possuir valor de troca, entendido como requisito à produção humana. Sobre ele se estendem os processos sociais, dotados de espacialidade. Este valor pode ser descrito como as facilidades espaciais existentes ou não para reprodução dos meios de produção. O espaço pode circular, a nível de sua titularidade.
É objeto único, é recurso essencial para existência humana, mas não ainda como mero palco de suas atividades, podendo ser trocado ou abandonado. Não se destrói com seu consumo, o que pode se exaurir são seus recursos contidos.
A localização em determinado ponto de seu tecido confere duas qualidades: magnitude e distância. O posicionamento relativo a todos os elementos de interesse da ocupação/constructo humano, e a intensidade destas construções no meio. Estas também não se desgastam a olhos vistos, e conforme avançam as técnicas, tem sua durabilidade estendida. Passam a compor o espaço como representantes de outros interesses/agentes/modos de produção, já superados. Tornam-se rugosidades presentes, com as quais os humanos do atual momento histórico tem que lidar. Estabelece-se uma relação entre perenizarão e transitoriedade dos valores adicionados.
A concentração de trabalho ou recursos no tecido espacial é o pré-requisito da expansão. A levada da lógica produtiva para além de seus limites originais, anexando novos espaços e tudo o que eles podem conter, retro-alimenta a concentração inicial, permitindo a continuidade da expansão territorial. A valorização do espaço no modo capitalista tem como fim a valorização do capital investido. A sobreposição da lógica de acumulação sobre história e interesses das povoações pré-existentes é o marcante deste períodos. A expansão aliena as localidades singulares, as insere na lógica maior de circulação, cuja maior expressão é divisão trabalhista.
Os processos de valorização não têm apenas caráter positivo. Podem ser lesivos aos recursos disponíveis, aos agentes e interesses locais e à sua vizinhança, imediata ou global. A permanente renovação do espaço é a expressão de sua dualidade renovação/destruição, o modo capitalista requer permanente valorização do capital para ir contra suas taxas decrescentes de lucro. Logo, seu espaço de atuação deve ser constantemente alterado para a efetivação de tal valorização.
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