Maria - Blog Pétalas de Liberdade 26/11/2014Um ótimo livro Em "Maré Vermelha", o planeta Kynis (existem muitos planetas no Multiverso da saga) está prestes a entrar em guerra. A Ordem dos Senhores de Castelo, "formada por seres únicos, que usam seus dons, habilidades e artefatos de poder para incentivar a paz e a prosperidade pelos quatro quadrantes do Multiverso" deve intervir, na tentativa de evitar o conflito entre os kynianos do continente e os kynianos da ilha.
Kullat e sua nova parceira de missões, Nahra, ambos Senhores de Castelo, são designados para ir até Kynis, e levam junto o aprendiz e futuro Senhor de Castelo, Sumo. Kullat tem um motivo a mais para querer ir para Kynis: dois velhos conhecidos seus, o Ladrão e o Bobo (os nomes representam perfeitamente bem o que eles são) se meteram em encrenca e estão encarcerados na prisão da ilha. A dupla foi ameaçada de morte, e se Kullat não ajudar, pode ser o fim da linha para Ladrão e Bobo. Só que essa ameaça de morte parece ter, de certa forma, alguma ligação com um velho e temido feiticeiro: Volgo, um ser capaz de destruir o que estiver em seu caminho, atrapalhando-o a alcançar seus objetivos escusos.
"Volgo tossiu e arfou. Seu corpo esquelético tremia e seu manto vermelho estava coberto de areia.Se Willroch não o conhecesse, teria piedade daquela figura frágil, que parecia poder se quebrar apenas com o vento. Mas ele sabia que, por trás daquela aparência, existia um ser extremamente impiedoso, capaz de fazer qualquer coisa para atingir seus objetivos." (página 101)
Como escolher apenas uma é impossível, Kullat tem que tentar resolver as três missões: evitar a guerra, libertar Ladrão e Bobo e tentar descobrir qual é e evitar que Volgo concretize seu plano em Kynis. Para isso, toda ajuda será bem vinda! Seja de outros castelares (como Nahra, que é tão diferente dele), seja de seres muito estranhos de outros planetas, seja de velhos amigos (como Thagir, seu antigo parceiro de missões).
Eu ainda não li os dois primeiros livros da série (mas pesquisei um pouco sobre eles, quem me acompanha no blog sabe que já fiz isso outras vezes). Isso pode ter feito com que eu demorasse algumas páginas para sacar quem era quem na história, e eu estava pouco habituada ao que era o Multiverso e a Ordem dos Senhores de Castelo, mas de forma alguma atrapalhou a leitura. O que eu precisava saber (acontecimentos anteriores, definições de termos), foi inserido no decorrer da trama, em pequenas doses.
"Senhores de Castelo" é uma saga de aventura fantástica, e bota aventura e fantástica nisso! O terceiro livro (que é o que eu li, portanto, do qual posso falar com certeza) traz um toque de Steampunk, ao colocar diversas máquinas movidas a vapor na trama.
Gostei muito de ler "Maré Vermelha", é daqueles livros que você faz uma pausa na leitura mas continua pensando na história e nos personagens. Ele é dividido em capítulos curtos, o que me fazia pensar, "Ah, só mais um capítulo!". É uma delícia de se ler, a trama não é pesada nem leve demais, na medida para quem procura uma história para embarcar, para esquecer do mundo real e ir para o mundo da ficção. Tem quase 500 páginas, mas a leitura fluiu de tal forma que consegui terminar em bem menos tempo do que imaginava.
Não me apeguei muito a nenhum personagem em especial, talvez por não ter lido os livros anteriores, talvez por ter me apegado mais à história em si. Kullat é duro na queda, mais do que qualquer outro personagem que conheci até hoje! Vocês não tem noção do que os autores fazem com ele! Tenho que me segurar para contar nenhum spoiler. Nahra é uma pessoa tentando se ajustar numa sociedade com uma mentalidade diferente da dela, quase tendo que mutilar o seu "eu". Thagir é o meu pistoleiro preferido de todos os tempos, nunca pensei que pudesse gostar tanto assim de um pistoleiro. O Bobo é tão bobo, mas tão bobo que até eu perdi a paciência com ele; o Ladrão merecia ter alguns dos seus pecados perdoados por ter aturado-o por tanto tempo.
"(...) Até hoje eu não consigo entender como um pedaço de pano pode fazer tanta diferença para as pessoas. Lá no meu planeta, se alguém usa algum pano no corpo, é porque quer esconder alguma coisa." (Nahra, página 76)
O final deixou algumas coisas pendentes; na minha opinião, personagens como Azio (me pareceu meio desconectado da história do livro 3) e Laryssa (achei ela meio chatinha) mereciam um espaço maior nos últimos capítulos. Além de eu não ter gostado de como ficou o planeta Kynis. Acredito (e torço para) que no livro quatro esses pontos sejam retomados.
Creio ter sido o primeiro livro que li, escrito por mais de um autor, e em momento algum eu senti diferenças na narração que pudessem denunciar uma troca de escritor. Não sei como foi o processo de escrita, mas achei o trabalho dos Gustavos muito bom. Virei fã!
"(...) um dos meus poderes mais impressionantes é a capacidade de fechar a boca e abrir os ouvidos." (página 125, precisamos de mais pessoas com poderes assim!)
"- Nunca vou entender como esses imbecis acreditam nesse tipo de besteira.
- Nunca subestime o poder da fé - Volgo retrucou, com um leve sorriso. - É uma arma de força incomparável e de uma ferocidade sem limites!" (página 289)
Gostei da capa, a diagramação está perfeita: com a fonte, o espaçamento e as margens de bom tamanho, as folhas são amareladas e porosas. Tem algumas ilustrações bem bonitas no decorrer do livro, que está bem revisado.
Enfim, "Maré Vermelha" é um livro que eu gostei muito e que recomendo para leitores de todas as idades. Uma história cheia de aventuras, com algumas cenas que vão te fazer prender o fôlego e outras que vão te fazer rir bastante; além de uma pitadinha de romance. Recomendo também para leitores que querem começar a ler bons autores nacionais contemporâneos, desde que esse leitores tenham em mente que a obra em questão é ficção fantástica.
"- Deve ser a minha natureza selvagem - Thagir comentou, brincalhão.
- E... - Kullat riu, servindo-se de uma bela porção de salada. - O homem mora no mato, só pode ser selvagem mesmo.
- Lá vem você de novo com suas delicadezas - disse Thagir, sorridentes.
- Certas coisas nunca mudam - Kullat replicou, bonachão, dando de ombros e enchendo um copo de suco. Ele se aproximou de um prato fumegante e sentiu o aroma da refeição. - Hum... Que cheiro bom...
Thagir sorriu.
- É. Certas coisas realmente nunca mudam.
- Ele sempre foi assim? - Nahra perguntou, dirigindo-se a Thagir, enquanto se servia também.
- Assim com? Feio? - Thagir disse, espetando com o garfo uma espécie de cenoura arredondada cozida." (página 193)
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